Por Júlia Pestana
Se você acessa o Twitter, deve ter visto em algum momento posts sobre Termo, Wordle, Letreco, entre outros nomes estranhos Esses jogos, que basicamente possuem as mesmas regras do jogo da forca, são alguns dos passatempos online que se popularizaram nos últimos tempos. Um jogo simples, com a adivinhação de palavras e um número limitado de tentativas, e que, como muitos outros, pode trazer mais benefícios além de apenas relaxar.
O prazer, a diversão e o sentimento de alegria são efeitos de rápida identificação e são considerados benefícios causados pelos jogos, de acordo com Raphael Spera, médico-assistente do Hospital das Clínicas e com especialização em Neurologia Cognitiva e do Comportamento. “Após uma análise clínica longa, dependendo da necessidade do paciente, recomendamos jogos, mas ele tem de gostar de jogar, porque, do contrário, pode até gerar respostas negativas”, conta o médico.
Além do aspecto emocional, Spera explica que, quando o cérebro faz o processo de aprendizagem e de memorização, novas sinapses e conexões são criadas. Assim, a prática gera benefícios cognitivos a longo prazo. “Os jogos influenciam a capacidade de atenção, tomada de decisão, organização, memorização e desenvolvimento da linguagem, que é uma habilidade cognitiva.” Outro efeito é a ampliação das capacidades visuoespaciais no caso de jogos tridimensionais, como xadrez.
Memória
Para João Medeiros, de 91 anos, as palavras cruzadas e os criptogramas fazem parte da sua vida desde os seus 20 anos. Tentou adotar o futebol como hobby, mas quando entrava em campo, percebia que não tinha talento. Já com as palavras cruzadas, diz que identifica seu talento e os impactos que os jogos trazem para sua vida. “Sou bom no português, mas há algumas palavras que eu não conheço e os jogos acabam me ensinando. Assim, eu aprendo e a memória faz o trabalho para os próximos jogos. Mas às vezes ela falha”, lembra.
Com o envelhecimento, podem ocorrer reduções do volume cerebral e um déficit progressivo das habilidades intelectuais, entre elas, a memória. Essa situação é exemplificada no caso de João, reforçando a ideia de que a perda de algumas memórias é natural. “Nós somos o que lembramos e o que esquecemos, e esse resultado faz parte da nossa formação de personalidade”, esclarece o neurologista.
Educação
Além disso, os jogos também são usados na educação como uma ferramenta para diversos objetivos, sendo eles psicomotores, cognitivos, afetivos ou sociais. “O primeiro grande aprendizado é o indivíduo deparar-se com regras, a ideia de saber que existe um jeito de jogar, compreendê-lo e internalizá-lo”, avisa Luciana Morelli, psicóloga e psicopedagoga. Os jogos e brincadeiras são comumente relacionados ao desenvolvimento educacional do indivíduo nas primeiras fases da vida, mas vale observar que esses aprendizados e efeitos impactam qualquer idade.
Para Beatriz Segatto, de 22 anos, o Jogo dos Países – um filtro do Instagram em que o jogador tem de tentar acertar o nome do país correspondente a bandeira que aparece na tela – é o seu investimento diário. Segundo a jovem, todos deveriam conhecer as bandeiras dos outros países, por isso encara como um treinamento e consegue notar o impacto que o jogo tem em sua vida.
“Quando há uma bandeira que não conheço, eu clico na resposta, aprendo e não esqueço”, afirma. Além do aprendizado, ela entende que o jogo a transporta para realidades diferentes da dela, exercitando também a sua empatia.
Segundo Luciana Morelli, também diretora de escola de educação infantil, o aprendizado parte dessa interação entre estímulos e respostas, causando um processo de mudança e adaptação de um comportamento. “Nos jogos, as pessoas aprendem a esperar a sua vez de jogar, a ganhar e a perder, pensam em estratégias e até fazem uma autoavaliação.”
Porém, os critérios para a escolha do jogo são fundamentais, entre eles estão: atenção à classificação indicativa, o interesse da pessoa no tipo de jogo e os objetivos. “Algumas crianças não gostam de matemática, mas, às vezes, estão participando de um jogo em que desenvolvem um raciocínio lógico e nem percebem”, acrescenta a diretora. (AE)