Francisco Sidou – jornalista *
A posse de um novo prefeito é, sempre, momento especial de renovo das esperanças de um futuro melhor para a cidade e seus habitantes.Nas eleições municipais de 2020 ficou bastante claro que o eleitor belenense preferiu optar pela experiência de Edmilson como gestor e não por sua filiação partidária, rejeitando desta feita a “novidade” representada por um delegado de polícia. O povo não vota em partidos, mas em candidatos.
Apesar da propaganda enganosa e do asfalto e das obras de última hora, o prefeito Zenaldo sofreu duas derrotas, uma no primeiro turno com seu candidato jejuno e outra no segundo turno , com o candidato delegado bolsonarista/armamentista, que pretendia ser a “novidade” da hora. Também não deixa saudades.
O exemplo do BRT inconcluso em mais de 10 anos é emblemático. Indispensável para desafogar o pesado tráfego e congestionado trânsito de Belém, tal obra é a mais completa tradução dos efeitos danosos da cultura do atraso na gestão pública da cidade.
Iniciada de forma açodada, com desvios de planejamento e de recursos, sem estudos de impacto ambiental, essa obra acabou conturbando ainda mais a vida dos belenenses, ampliando o caos no transito dos corredores de tráfego da cidade, os mesmos há mais de 50 anos. As vias de uma cidade são como as veias no corpo humano: quando entopem todo o organismo entra em colapso.
Projetos para o ordenamento do tráfego e do trânsito de Belém existem desde a década de 80, a exemplo do Plano Diretor de Tráfego Urbano, elaborado pelos técnicos japoneses da Agência de Cooperação Técnica do Japão . Com atraso de mais de 20 anos, o projeto da Jica foi retomado pelo governo do Estado , rebatizado de Via Metrópole, depois Ação Metrópole.Trata-se de um projeto integrado para a Região Metropolitana de Belém, daí a necessidade de parcerias com todos os seus municípios e prefeitos.
O trânsito caótico/neurótico de Belém é apenas uma das muitas carências quase crônicas da cidade, que vem sendo “empurrada” para depois por sucessivos gestores municipais, por falta de gestão proativa e espírito público. Com média mensal de 10 mil novos veículos circulando pelas mesmas e obstruídas vias, a cidade já não mais suporta tantos carros e está “travando”, confirmando, aliás, previsão técnica dos japoneses da Jica que, na década de 80, vaticinaram que “se as obras viárias então previstas não fossem realizadas, Belém poderia “parar” por volta de 2010″… Alguém duvida de que isso esteja acontecendo?
Espera-se que o novo prefeito dê prioridade ao transporte coletivo e público, enfrentando o “cartel” dos donos de ônibus e disciplinando a bagunça dos alternativos sem lei.Passada a euforia da vitória, o prefeito eleito de Belém deve ter consciência plena da enorme responsabilidade que assumiu ao acenar com a solução para as demandas de obras e serviços básicos que a cidade tanto reclama.
Na verdade, o “alfabeto das necessidades” de Belém vai de A a Z, com a saúde pública na UTI, alagamentos de vias e canais, lixo nas ruas e esgotos a céu aberto, bueiros entupidos, ratos que proliferam na base de oito por habitante, calçadas irregulares, transporte coletivo precário e sujo, ausência de ciclovias e motovias; moradores e trabalhadores de rua que precisam sobreviver com dignidade, sem falar na insana “saga” de construtoras que disputam palmo a palmo as últimas áreas verdes e quintais da cidade , para erguer tórridas torres de concreto e aço , que estão transformando Belém numa ilha de calor e na capital menos arborizada do Brasil, apesar de localizada na antessala da maior floresta tropical do planeta.
A força da grana que constrói ilusórios sonhos consumistas em forma de arranha-céus também destrói a qualidade de vida e as “pontes” que ligam a cidade à natureza exuberante que a cerca. O novo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, vai presidir -mesmo de forma virtual por causa da pandemia – as comemorações oficiais pelo aniversário de 405 anos de nossa amada cidade. Ele assumiu com enorme capital de esperança de que possa realizar uma gestão transparente e inovadora, colocando Belém no lugar que merece : o de metrópole da Amazônia.
A rigor, o belenense que ama sua cidade, mesmo sem ter votado no prefeito eleito, também vai torcer para que ele cumpra, com sucesso, sua plataforma de campanha. Afinal, por conta das briguinhas políticas paroquiais é que perdemos tanto tempo. Chega de atraso. A hora é de unir esforços e compartilhar ações na busca de resgatar a identidade cultural da cidade e a autoestima de sua gente.
Apesar dos maus tratos de certos gestores e de alguns filhos ingratos, que jogam lixo nas ruas/bueiros e picham muros e prédios, Belém continua linda no frescor de seus 405 anos bem vividos. Morena faceira e brejeira, ela se destaca pela hospitalidade e generosidade de seu povo e pela magia de seus encantos, cheiros, sabores e cores. Salve Belém.
- Francisco Sidou é jornalistachicosidou@yahoo.com.br
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