Faz 17 anos que Adilson Prestes partiu, abatido a tiros por um pistoleiro na porta da casa dele, em Novo Progresso, quando chegava para encontrar a família. Adilson denunciava o crime organizado que atua na região e sua morte, até hoje impune, é o atestado da incompetência das autoridades paraenses, seja em 2004 – data da execução -, seja hoje, em esclarecer o crime e trancafiar na cadeia o mandante e o assassino.
Adilson contrariava inúmeros interesses das organizações criminosas – formadas por alguns fazendeiros, empresários e madeireiros da região – ligadas ao desmatamento de terras públicas, extração ilegal de madeira, exploração ilegal de minérios e invasões de territórios indígenas. Esses criminosos, livres, leves e ousados no cometimento de delitos ambientais, continuam ainda hoje a devastar as florestas da região, prejudicando os verdadeiros empreendedores.
Quadrilhas agem sob a capa de proteção de políticos corruptos, governantes ineptos e policiais que fecham os olhos para os delitos e às vezes até deles participam, em troca de apoio financeiro e outras benesses, como ficou comprovado quando Adilson denunciou, em um farto dossiê, agentes públicos que usavam veículos e armamento militar cautelado ao Estado para intimidá-lo, como ocorreu no distrito Moraes de Almeida.
Adilson deixou um filho bebê, hoje rapaz, que mal teve tempo de conhecer, além de uma família que o amava e alertava para os perigos que corria. Ele veio a Belém denunciar ao MP, à Segup, às entidades de direitos humanos e à Assembleia Legislativa como o crime organizado mantinha sob o terror do silêncio e das ameaças populações de Novo Progresso, Itaituba e da Terra do Meio, em Altamira, onde quem muito sabe e não se cala é candidato a amanhecer com a boca cheia de formiga e o corpo recheado de balas.
Nada fizeram, viraram as costas. Adilson voltou para Novo Progresso e lá encontrou o destino que o aguardava. Os índios kayapó, de quem ele era amigo, foram os únicos – além da família – em toda a região do sudoeste paraense a lhe render homenagens e rituais após sua morte. Um “branco” diferente que aparecia nas aldeias para alertá-los sobre extração ilegal de madeira e garimpagem de ouro.
A morte dele, ao fim e ao cabo, é a própria impunidade que ecoa, como grito lancinante, nos ouvidos moucos dos que, como Pilatos, lavaram as mãos sobre as denúncias que ele fez.
Se o Pará, principalmente o sudoeste, mantém hoje os piores índices de crimes ambientais da Amazônia, é porque naquela região a coragem de lutar pelo povo – como fazia Adilson Prestes, sem ter mandato legislativo, filiação partidária ou vínculo sindical – foi substituída pela covardia dos que se submetem às “leis” do silêncio e da humilhação.