Conversas interceptadas pela Polícia Federal por ordem da Justiça revelam que Nicolas Tsontakis também tentou esconder a real propriedade de um helicóptero, comprado à vista e em espécie. O investigado pela PF pelo monumental assalto de R$ 455 milhões aos cofres da saúde do Pará, durante a pandemia da Covid-19, tentou fazer o negócio por debaixo dos panos para desvinculá-lo de sua origem espúria, que foi o desvio de recursos públicos. Ele também comprou um avião do atual prefeito de Tucurui, Alexandre Siqueira, determinando que o bem não ficasse em nome dele.
A PF analisou as conversas entre Manoel Rodojalma, “gerente” e homem de confiança de Nicolas, Cleudson Montali, que foi condenado a 104 anos de prisão por falcatruas também na saúde de Penápolis (SP), onde Nicolas igualmente se meteu, e Regis Pauletti, presidente da Irmandade Santa Casa de Pacaembu, que em Belém administrava o hospital público Abelardo Santos.
Além disso, a PF encontrou diálogos no celular de Hugo Trindade – piloto de Nicolas -, onde foi possível apurar que o operador do esquema criminoso adquiriu de forma dissimulada o helicóptero de prefixo PRL-WVL, Modelo EC120B. O Eurocopter Colibri EC120B é um helicóptero monomotor leve e polivalente com capacidade para 4 passageiros e 1 piloto. Foi projetado de forma a oferecer uma grande flexibilidade de utilização aos seus usuários.
Esse helicóptero, apesar de ter sido comprado por Nicolas, consta nos registros como sendo de propriedade da empresa PGR Empreendimentos Ltda, e como operador a pessoa jurídica Ótica Veja Ltda, enrolada na investigação. Para a PF, há claros indícios de que a aeronave “consiste em produto de crime de lavagem”.
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No dia 26 de agosto de 2020, Nicolas disse ao seu piloto que a compra da aeronave estava certa, que “o negócio tá fechado”.
Nicolas – (transcrição do áudio): “não… negócio tá fechado, vou mandar para pré-compra o helicóptero agora”.
No início de setembro, mais precisamente no dia 2, Nicolas paga o sinal da compra da aeronave através de transferência bancária no valor de R$ 600 mil, originada da conta da Minotauro (empresa dele), para a conta do vendedor, situação corroborada pelo teor da conversa de WhatsApp na véspera, dia 01.
No dia seguinte, 3, o piloto comenta com a esposa dele sobre o pagamento do sinal da aeronave. O piloto ainda confirma que, por ter intermediado a transação, vai receber o valor de R$ 90 mil, a título de comissão.
Outra compra de avião envolveu Nicolas e Alexandre França Siqueira, atual prefeito de Tucuruí. A transação foi com a aeronave Cirrus Design, ano 2006, cor branca, prefixo PP-OLA. Para pagar à vista e também com dinheiro em espécie, Nicolas usou o nome falso de Nicolas Freire. O documento do negócio foi apreendido pela PF na casa de Manoel Rodojalma.
A propósito, no dia 5, ainda de setembro de 2020, Nicolas fala para o piloto Hugo Trindade sobre a aquisição da aeronave. Destaca-se o trecho em que Nicolas diz para Hugo que ninguém pode saber que ele é o dono da aeronave. Há, ainda, o envio de fotos confirmando que o avião mencionado é o de prefixo PP-OLA 160.
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No diálogo a seguir, datado de 08 de setembro de 2020, é possível ver que Nicolas encaminha para Manoel Rodojalma áudio que evidencia atraso no pagamento das tarifas de voo do avião Cirrus, comprado do prefeito de Tucuruí, sendo perguntado, ao final, se os boletos devem ser encaminhados para Régis ou Gilberto, ligados ao esquema.
Áudio encaminhado por Nicolas:
“André, o Trindade mandou mensagem agora que as tarifas de voo do Cirrus estão atrasadas. Se não pagar hoje só libera com 3 dias úteis. Então tem que pagar hoje senão até o final da semana ele não sai de lá. Senão ele não consegue nem sair, tá?! Tô te mandando porque eu vou mandar para o Gilberto, né?! Ou pro Régis né?”
Em 17 de setembro, Nicolas encaminha áudio para Manoel, via WhatsApp, perguntando sobre o avião dele, o mesmo que não queria que fosse colocado em seu nome.
Nicolas (áudio): Manoel, cadê o Trindade no meu avião, chegou?
Manoel (áudio): Ele tá esperando o recurso para poder abastecer para vir. Ele ia fazer um voo de teste hoje que eu paguei a taxa ontem. E aí vai fazer um voo de teste hoje e só tá te esperando para poder vir”.
Já no dia seguinte, 18, Nicolas encaminha para Manoel a foto do Cirrus, indicando, pela conversa anterior, que o piloto Hugo Trindade o levou na aeronave PP-OLA, indicada por Nicolas na conversa anterior como “meu avião”.