Um artista que soube honrar as melhores tradições das artes plásticas no Pará, ganhando reconhecimento internacional e tendo seus trabalhos expostos em galerias dos Estados Unidos e Europa. Assim era Ararê Marrocos Bezerra, falecido aos 82 anos na manhã desta segunda-feira, 12, após complicações decorrentes de uma pneumonia. O velório acontece a partir das 17h na Igreja de São Sebastião, na avenida Senador Lemos com Alferes Costa. O enterro será amanhã, às 10h.
Nos anos 60, 70 e 80, em Belém, Ararê tinha sempre suas obras em destaque, como no Salão de Arte do jornal O Liberal. No país e fora dele, não faltavam convites para exposições, principalmente as xilogravuras – uma técnica de impressão muito antiga que consiste na utilização de madeira como matriz, reproduzindo a imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado.
Durante muitos anos, Ararê realizou oficinas no Curro Velho, da prefeitura de Belém,, para crianças de 7 anos 12 anos, ensinando técnicas no uso da cerâmica, miriti, grafite e esculturas com materiais alternativos.
“Ararê é um multifacético artista paraense. As xilogravuras são apenas uma pequena amostra de suas obras, que já foram expostas no Brasil, nos EUA e na Europa. As artes plásticas parecem não ter segredos para ele. Com os pincéis na mão ele produz telas de grande valor estético, mas também a pedra, a madeira, o barro e outros materiais se rendem a sua força criativa. Sua linguagem cabocla identifica suas obras com a Amazônia, região que ele conhece muito bem”, escreveu o amigo Ernesto Kramer, que prefaciou e traduziu para o alemão a obra “Amazônia, 20 Lendas e Mitos”. Além das arte
No livro, à venda em sites como Amazon e Magazine Luiza, Ararê disseca as entidades encantadas da Amazônia, com seus mistérios e lendas. Sobre a Iara, uma das entidades, ele diz que as referências datam de meados do século XIX. “O alter-ego feminino do boto é a IARA, uma bela mulher cujo canto enfeitiça e atrai os jovens para o fundo dos rios ou lagos”.
Ele descreve alguns seres da floresta amazônica,, como a Matinta Perêra: ” Mulher ou homem, com os cabelos cobrindo o rosto, percorre os caminhos pela noite. Provoca medo nas pessoas com um assobio característico, quando anda perto das casas. Para descobrir sua verdadeira identidade se lhe oferece café ou tabaco e ela vem a procurá-lo cedo de manhã. Também se transforma em diferentes animais. Só pode escapar do feitiço com a morte, ainda que também possa passá-lo para outros, parentes, amigos ou inimigos”.
Sobre o Jurupari: ” Conhecido desde tempos antigos como nascido de uma virgem e reformador das Leis Tribais. Na selva aproxima-se dos caçadores gritando. Enganados, estes respondem acreditando que são amigos ou colegas de caçada. Sendo alto e forte vence facilmente toda luta, devorando seu antagonista. Descrevem-no como um homem cabeludo que tem a boca à altura do estômago. É nômade e vive a aterrorizar os caboclos”.
Enfim, Ararê Marrocos Bezerra é uma daquelas mentes brilhantes do Pará que transformou em arte visual as inspirações que teve, retratando nosso povo, suas crenças e medos Um artista a ser descoberto pelas novas gerações.
Que sua alma se incorpore à grande tela do universo infinito para novas inspirações.