Rosangela desistiu de sua vida. Agora, seu passatempo principal é se fazer, desesperadamente, notada pela atenção de quem a rodeia. Não é sobre fraqueza ou poder, é método, calculo e baixa autoestima. Certamente seria estudada na Casa Verde, de O Alienista, por expressar a genialidade do ser humano para promover a falta de decoro, a fofoca e o péssimo senso de altruísmo.
É que todos já perceberam que o marido de Sandra ainda não arranjou emprego, mas Rosangela sabe a hora certa, o tom de voz e fingimento exato para tocar no assunto. Se perder o “time”, ela insiste no tema para, finalmente, ter o prazer genuíno do constrangimento sob suas mãos. Se perceber a ferida, se anima e faz uso do bom humor para suavizar suas intenções.
A criatividade é arma na mão de civil. Ela sabe mirar como ninguém. Um detalhe do corpo é suficiente para um comentário maldoso, sempre regado de risadas suavizantes, exemplos mentirosos e amizade forçada. É inquestionável seu mérito no que se propõe a realizar. Sua vitória é combustível para continuidade da sua imprudência.
O olhar cirúrgico para um erro, a boca que tudo fala e o ouvido que apenas se ouve, são característica do príncipe que, não podendo ser amado, escolhe ser temido. Ou, se preferir, um invejoso com talento para arte de persuadir.
Seu tesão nunca é satisfeito. Há um sentimento de vingança por tudo que não pôde ser. Divide a frustração por caridade. É uma ótima companhia para entender a natureza humana, seja inata, seja social, de algum canto do motor da história deve ter surgido a perspicácia na maneira de ser sem noção. Porque a opinião de que o cabelo recém pintado era melhor como estava antes, traduz sua falta de amor pelo seu próprio ser.
Mas é só uma opinião, faz questão de ressaltar. E não para, invade, planta, colhe e sugere sempre que não tá bom, ou está estranho, feio e sem graça. Rosangela existe, no fundo, para ensinar que existe gente ruim, maldosa e não resolvida consigo. É uma tecnologia da evolução que sugere aos seres humanos que sejam mais atentos ao que pode destruir.
Ou pelo menos tentar.
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