” Aplaudidos nas sacadas em várias cidades do mundo e do Brasil, no Pará os médicos são tratados como párias”.
Assim começa o duro, mais realista manifesto, sob o título “Carta aberta às autoridades e ao povo do Pará”, divulgado ontem, 29, pelo Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa). Esse grito, mais de desabafo do que de alerta – porque a categoria, há décadas, já cansou de gritar sem ser ouvida em ter seu trabalho reconhecido na nobre missão que exerce de salvar e preservar vidas – expõe a situação dramática de descaso e violação de direitos.
“Aqui, a contratação dos médicos para enfrentar a alta virulência e contagiosidade do vírus ( referindo-se à Covid-19, a maior batalha da categoria nos últimos 100 anos, desde a gripe espanhola) e salvar o maior número de vidas, é feita sem qualquer garantia de direitos sociais e, muitas e muitas vezes, sem qualquer contrato assinado”, diz a carta do Sindmepa.
” É como se, ao médico, houvesse sido rogada uma maldição, a de que, por seu trabalho, nenhum direito receberia, e seria relegado ao limbo dos direitos trabalhistas concedidos ao resto da humanidade”, afirma o documento.
E mais: ” médico, se adoeceres não poderás trabalhar e não terás remuneração; não terás férias remuneradas; não terás décimo terceiro salário; não terás direito à aposentadoria porquanto teu patrão não recolherá para o INSS. Médica, não terás licença maternidade; não poderás amamentar teus filhos; vós não tereis o direito de reclamar vossos direitos na justiça pois não terás nenhum documento para comprovar teu vínculo de emprego”.
Sempre na linha do desabafo, a carta continua: “sofrerás silente o calote dos prefeitos no interior do Estado e do governador do Estado; atenderás teus pacientes sem condições de trabalho pois te bastarão a caneta e o estetoscópio; não verás teus filhos crescerem porquanto estarás sempre de plantão. Esta, a maldição que se abate sobre os médicos, que labutam nesta terra que canta ser sentinela do Norte”.
A pandemia trouxe à tona a realidade há muito vivenciada e sofrida pelos médicos que exercem seu ofício em nosso Estado. Parte da dificuldade de fixar médicos no Pará se explica – argumenta outro trecho da carta, “pela maldição a nós rogada”. E conclama a categoria, enfatizando ser “hora de mudar essa situação. Pela conscientização dos médicos a não mais se submeter a estas condições indignas; pelos gestores públicos que têm obrigação de cumprir a lei”.
Por fim, chama a atenção do Judiciário “que tem a responsabilidade de fazer cumprir a le”. E da população “que precisa tomar conhecimento desta iniquidade e reagir ao nosso lado; pela
dignidade com que devemos exercer nossa profissão, a nobre arte de curar”
Mais uma vítima: 41, no total
Enquanto a carta era divulgada no site do Sindmepa, a categoria lamentava a perda de mais um profissional de saúde na batalha contra a Covid-19, lutando na linha de frente do combate à doença, provocada pelo coronavírus. No sábado, 27, faleceu o médico Raimundo Quaresma Leão. Ele é o 41º médico morto pela doença no Pará.
O sindicato destacou que o doutor Quaresma sempre será lembrado por sua dedicação à medicina e à saúde no Pará. A entidade lamentou a perda e enviou os pêsames à família e amigos. Também entrou na lista a médica Josefa Bentes Nogueira, cuja morte ocorreu em 14 de junho último, com o diagnóstico também de Covid-19.
Veja a íntegra da carta aberta:

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