A médica Maria Mayanne Domingos, que foi humilhada e quase agredida fisicamente pelo prefeito de Santa Luzia do Pará, Adamor Aires (PSB), dentro de uma Unidade Básica de Saúde, registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Polícia Civil da cidade contra o gestor e disse que vai ingressar com uma ação na justiça contra ele.
Ela declarou que está recebendo atendimento psiquiátrico e psicológico, em decorrência de perseguição que vem sofrendo por parte do prefeito, do secretário e de outros membros da Secretaria de Saúde de Santa Luzia, por não se submeter aos desmandos da atual administração.
As afirmações foram feitas pela médica, em entrevista ao radialista José Maria Trindade, da Rádio Marajoara, após o lamentável episódio ocorrido no consultório de uma UBS, quando ela foi desrespeitada de várias formas pelo prefeito, no momento em que desenvolvia sua atividade profissional, atendendo a população através do Programa Mais Médico, do governo federal, onde atua há mais de cinco anos.
Por causa das ofensas e humilhações à médica, cujo áudio foi divulgado em aplicativos de mensagens, o prefeito foi acusado, entre outras coisas, de ser autoritário, agressivo, covarde e não ter controle emocional.
A médica disse na entrevista que, desde o começo da atual gestão, sentiu uma certa implicância com seu trabalho por não ser contratada do município e sim do Ministério da Saúde, através do Mais Médico, porque a gestão queria que ela fizesse politicagem, coisas que ferem a ética médica, que não são de acordo com as normas do programa.
Pressões e perseguição
“Por exemplo, queriam que eu transcrevesse receita de paciente que eu nunca vi; dar AIH (autorização de internação hospitalar) a pacientes que estão lá na UPA de Capanema, que eu nem sabia se realmente estavam, e a partir disso começaram a atrasar a contrapartida municipal, que é a única obrigação que o município tem com o profissional, que é o auxílio aluguel, alimentação e transporte”, afirmou ela na entrevista a José Maria Trindade.
A médica disse também que, em março deste ano, esteve com o prefeito e o alertou de que estava sendo perseguida por não fazer o trabalho de acordo com o que a gestão queria, “como atendimento fora do meu horário, conduta com pacientes que estavam internados em fins de semana no hospital local, que a gente sabe que não tem estrutura”, e disse a ele que estava ali para somar dentro das normas e leis do programa.
A partir de então, salientou ela, se estabeleceu um mal-estar e começaram a acontecer confusões na recepção da UBS. Ela falou também que “ocorreram várias reclamações descabidas feitas pelo secretário de Saúde contra ela à coordenação do programa federal e as orientações eram de que se o município não queria mais o profissional, teriam que justificar a sua saída para ele ser realocado, mas nunca formalizaram o pedido, só faziam de boca.”
Nesse meio tempo, conforme Maria Mayanne Domingos ressaltou, ela foi sofrendo na sociedade com comentários feitos pelo secretário e pelo prefeito, e que até foi pauta da Câmara Municipal, com as piores acusações de vereadores de que não atendia paciente a mais, sendo que ela nunca deixou de atender quem precisava.
A médica lamentou o episódio protagonizado pelo prefeito, argumentando que ele tinha outros meios de desligá-la do município, através de opção disponibilizada pelo Ministério da Saúde no sistema do programa federal. “Isso é inadmissível, eu nunca fui tratada dessa forma. Eu não sou apenas uma profissional, eu sou um ser humano, eu sou mãe, eu sou esposa, eu exijo respeito”, protestou.
“E fora aquilo que vocês puderam presenciar pelo áudio que foi feito, ele (prefeito) voltou à sala após a gravação, voltou a alterar a voz, ameaçou que chamaria a polícia, ameaçou que chamaria a guarda civil, veio em cima de mim. Ele foi removido da minha sala por um rapaz que estava filmando anteriormente, por reforços da Secretaria de Saúde que foram chamados, como a coordenadora de Atenção Básica e a enfermeira Ruth, que é assessora do secretário, e que ainda tiveram dificuldade de convencê-lo, porque ela já estava em cima de mim e poderia acontecer coisa pior”, relatou a médica.
Conforme disse ainda a médica, “elas pediam baixinho, porque a UBS estava cheia de gente, devido aos gritos, aos berros dele (prefeito), que ele não fizesse nada, que ele parasse, porque ele poderia se prejudicar. E eu fiquei me sentindo a pior coisa do mundo com todas aquelas humilhações”.
O Ver-o-Fato procurou o prefeito, mandou mensagens, mas ele não se manifestou até agora. O espaço continua aberto às explicações do gestor de Santa Luzia do Pará.
Entenda o caso
No áudio que circulou, o prefeito Adamor Aires, depois de invadir a sala da médica na UBS, se mostrou muito agressivo e atacou com palavras ferinas a vítima, alegando uma suposta falha dela no atendimento de pacientes, chegando ao cúmulo de expulsá-la de seu consultório, desqualificando a atuação profissional da mulher.
Adamor Aires acusou a médica de negligência, dizendo que não queria que nenhum profissional de saúde adotasse o comportamento que ela estaria adotando. Ela rebateu que o município está deixando os profissionais sem suporte e que ela estava sem lugar para ficar, pois não tinha dinheiro. Ele alterou novamente a voz e disse que ela recebe do governo federal.
Em seguida, a médica pediu para o prefeito não gritar com ela, mas ele continuou as agressões e disse que não queria mais a profissional no posto de saúde, mandando-a para casa. Ela respondeu que quando o supervisor dela mandasse, ela iria embora para casa, mas o prefeito continuou falando alto, dizendo que quem mandava era ele, atropelando o Regime Jurídico que rege o funcionamento do serviço público.
Adamor Aires continuou as agressões verbais, sem apresentar provas, e expulsou a médica do consultório, mas ela se recusou, alegando que tinha supervisão. O prefeito foi além e a chamou de irresponsável e a acusou de fazer molecagem ao destratar os pacientes, o que ela negou e mandou ele provar.
“Caia fora daqui, irresponsável”, gritou o prefeito. A médica se defendeu e disse que não matou ninguém e que não fez nada de errado.
Ouça, abaixo, a entrevista ao repórter José Maria Trindade, da Rádio Marajoara: