Os três principais jornais do país – Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo – definiram as manifestações deste domingo, 12, contra o governo Bolsonaro, como muito abaixo do esperado, apontando divisões entre partidos de esquerda, do que se aproveitaram, por exemplo, na Avenida Paulista (SP) partidos de centro-direita, como PSDB e DEM para fazer proselitismo em palanque, além de Ciro Gomes (PDT) em torno de seus candidatos à presidência da República.
Segundo a Folha, os protestos, convocados pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e pelo VPR (Vem Pra Rua), tiveram adesões na oposição para além da direita, reuniram presidenciáveis que tentam ser a terceira via para 2022, mas não fizeram frente à mobilização bolsonarista no feriado da Independência nem a atos anteriores liderados pela esquerda.
As manifestações atraíram alguns partidos e líderes de esquerda, mas com distanciamento do PT de Lula e resistência de setores que não queriam se unir a grupos que deram impulso ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016. A Folha, citando número da Secretaria de Segurança, disse que cerca de 6.000 manifestantes, estiveram hoje na Paulista, contra 125 mil no ato bolsonarista no feriado da Independência e 15 mil na manifestação da esquerda no mesmo dia no Vale do Anhangabaú.
Em São Paulo, dividiram palco nomes de linhas ideológicas distintas, como Isa Penna (PSOL), Tabata Amaral (sem partido), Orlando Silva (PC do B-SP), Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val Mamãe Falei (Patriota). O líder do MBL e deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) procurou ressaltar a união de diferentes grupos e chegou a dizer que quando via alguém de laranja não sabia se era do partido Novo ou da Força Sindical.
Os movimentos ensaiaram nos últimos dias um recuo no mote “Nem Lula nem Bolsonaro”, como forma de atrair setores da esquerda e focar a pressão pelo impeachment do atual presidente. Houve divergências, porém, e a mensagem acabou sendo utilizada por participantes —ao lado do carro de som, um pixuleco com Bolsonaro (usando uma camisa de força) ao lado de Lula (vestido de presidiário) era emblemático.
O Estadão falou em esquerda rachada, destacando a participação de presidenciáveis que buscam representar a chamada “terceira via” nas eleições de 2022: o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), os senadores Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB).
O jornal destacou trecho do discurso de Ciro Gomes: “nós somos diferentes, temos caminhadas diferentes, temos olhares sobre o futuro do Brasil diferentes”, disse ele em um palanque montado pelo MBL. “Mas o que nos reúne é o que deve unir toda sociedade civicamente sadia, é a ameaça da morte da democracia e do poder da nação brasileira”, resumiu.
Já Doria, de acordo com o Estadão, defendeu a formação de uma ampla frente democrática no próximo pleito — uma que tenha, inclusive, o PT, o principal partido da oposição e que não aderiu aos atos deste domingo. “Temos que estar juntos e formar uma grande frente democrática”, disse o tucano.
A fala do governador paulista foi a mais longa do evento, com cerca de sete minutos. Doria se apresentou ao público como um dos “organizadores” do comício pelas Diretas Já na Praça da Sé em 1984 e disse que “quem defende a vida” deve ser contra o presidente Jair Bolsonaro. “Todo começo tem dificuldades. Isto aqui é um começo”, afirmou ele.
Em Brasília, o ato esvaziado, que reuniu algumas poucas centenas de pessoas ao longo da tarde na Esplanada dos Ministérios, terminou por volta das 17h. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) chegou a montar um esquema de reforço à segurança na Esplanada, pois a manifestação convocada pelos movimentos de oposição ocorreu poucas horas depois de atos que seriam realizados a favor de Bolsonaro.
Para o jornal O Globo, houve divisão entre os opositores de Bolsonaro, o que teria esvaziado as manifestações de hoje. O jornal carioca repetiu o que disseram a Folha e o Estadão, destacando os atos pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ocorreram em ao menos 13 capitais brasileiras e no Distrito Federal.
Com relação ao ato público no Rio, disse que os manifestantes ocuparam um quarteirão da Avenida Atlântica, em Copacabana. Cartazes e camisas de participantes estampavam frases como “#Nem Lula Nem Bolsonaro” e “Nem um dos dois em 2022”. De cima do carro de som, os organizadores do MBL ressaltaram que todos são bem-vindos, independente da ideologia política ou candidato.
— A pauta é única, fora Bolsonaro. O mote hoje é respeitar as opiniões, e claro que a opinião central é essa — discursou Cadu Moraes, coordenador do MBL no Rio de Janeiro. Um grupo de manifestantes carregava a bandeira do PCdoB. Leonardo Guimarães, estudante de 29 anos e secretário de movimentos sociais do partido, contou que a decisão de participar do ato ocorreu após o 7 de setembro.
Belém, pouca adesão
Como no resto do país, a manifestação em Belém também teve baixa adesão de opositores, bem diferente de outras jornadas contra o governo Bolsonaro. O ato se concentrou na Avenida Visconde de Souza Franco próximo da rua Bernal Couto, no bairro do Umarizal. Em um carro-som, manifestantes gritaram palavras de ordem contra Bolsonaro, pedindo a saída dele da presidência.