Neste domingo, 21, Real Madrid e Valencia se enfrentaram pela 35ª rodada de La Liga, no estádio de Mestalla em Valencia. Mas o que chamou a atenção não foi o jogo em si. Mais uma vez o jogador Vinicius Junior foi alvo de racismo por parte dos torcedores do Valência, ecoando nas arquibancadas o grito de “Macaco”, em espanhol “Mono”.
A situação piorou aos 24 minutos do segundo tempo, quando perto da torcida, Vini Junior, identificou alguns torcedores que o hostilizavam fortemente. Revoltado, Vini puxou o arbitro Ricardo Bengoetxea, mostrando quais eram os torcedores. Jogadores dos dois times ainda tentaram acalmar os ânimos.
A partida foi paralisada aos 24 minutos e após muita conversa do arbitro com os jogadores e com o técnico do Real, Carlo Ancelotti, o jogo continuou. Mesmo com os avisos que o sistema de som do Mestalla emitiu: um de que a partida tinha sido paralisada por causa desse episódio de racismo, e o segundo de que ela só voltaria caso os xingamentos e cânticos fossem encerrados. A torcida não parou, e pior, cantou mais alto “Mono”.
A expulsão
Continuando a partida, aos 48 minutos do 2º tempo, após desentendimento entre Vinicius Junior e o goleiro do Valencia Mamardashvili, que partiu pra cima do brasileiro; ambos inicialmente levaram cartão amarelo. Mas a confusão só tinha iniciado. No meio do empurra-empurra, Hugo Duro, atacante do Valencia, deu um “Mata Leão” em Vinicius e na tentativa de se livrar de tudo aquilo, Vinicius acertou um tapa no rosto de Hugo. Após revisão do VAR, apenas o brasileiro foi expulso.
Após a expulsão, o brasileiro saiu de campo ironizando a torcida adversária. Vini precisou ser escoltado por colegas de Real Madrid.
A LaLiga tinha registrado até o fim de março oito reclamações na Justiça por racismo contra Vinicius Junior nesta temporada. Em nota, após a partida, LaLiga, declarou que vai investigar os “incidentes” ocorridos no estádio Mestalla. A liga também informou que já solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o caso e, caso necessário, vai tomar “todas as medidas cabíveis”.
Em rede social o Brasileiro declarou guerra a LaLiga e seu presidente e deu a entender que não sabe se permanecerá no Real Madrid:
“Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhois que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”.
O presidente da Laliga respondeu ao brasileiro:
“Já aqueles que não deveriam explicar para você o que é a Laliga e o que pode fazer em casos de racismo, tentamos explicar para você, mas você não apareceu em nenhuma das duas datas combinadas que você mesmo solicitou . Antes de criticar e insultar a laliga, é preciso que você se informe bem @Vinijr. Não se deixe manipular e certifique-se de compreender plenamente as competências de cada um e o trabalho que temos feito juntos”.
O Brasileiro respondeu ao presidente da liga espanhola:
“Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar. Por mais que você fale e finja não ler, a imagem do seu campeonato está abalada. Veja as respostas do seus posts e tenha uma surpresa… Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo. Quero ações e punições. Hashtag não me comove”.
Real Madrid, clube em que o brasileiro atua se posicionou sobre o ocorrido:
“O Real Madrid CF manifesta a sua mais forte repulsa e condena os acontecimentos ocorridos ontem contra o nosso jogador Vinícius Junior.
Esses fatos constituem um ataque direto ao modelo de convivência de nosso Estado social e democrático de direito.
O Real Madrid considera que tais ataques também constituem um crime de ódio, razão pela qual apresentou a denúncia correspondente à Procuradoria-Geral do Estado, especificamente à Procuradoria contra crimes de ódio e discriminação, para que os fatos sejam investigados e apuradas as responsabilidades.
O artigo 124 da Constituição espanhola estabelece as funções do Ministério Público para promover a ação da justiça em defesa da legalidade e dos direitos dos cidadãos e do interesse público.
Por este motivo, e dada a gravidade dos factos ocorridos, o Real Madrid recorreu à Procuradoria Geral do Estado, sem prejuízo do seu carácter privado no processo que está a ser instaurado”.
O Valencia também se manifestou:
“O Valencia CF deseja condenar publicamente qualquer tipo de insulto, ataque ou desqualificação no futebol.
O clube, em seu compromisso com os valores do respeito e do esporte, reafirma publicamente sua posição contra a violência física e verbal nos estádios e lamenta os ocorridos durante a partida da 35ª rodada de LaLiga, contra o Real Madrid.
Apesar de ter sido um episódio isolado, os insultos a qualquer futebolista da equipe rival não têm cabimento no futebol e não se encaixam com os valores e a identidade do Valencia CF.
O clube está investigando o ocorrido e tomará as medidas mais severas. Da mesma forma, o Valencia CF condena qualquer ofensa e pede o máximo respeito também à nossa torcida.
À margem destes episódios isolados, o Valencia CF quer agradecer aos mais de 46 mil torcedores por seu apoio na partida deste domingo”.
O presidente Luis Inácio Lula da Silva também falou:
“Um gesto de solidariedade ao jogador brasileiro jovem, negro, que joga no Real Madrid, que no jogo no estádio do Valencia foi chamado de macaco. Não é possível que quase no meio do século 21 a gente tenha o preconceito racial ganhando força em vários estádios de futebol na Europa. É importante que a Fifa e a liga espanhola tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol”.