A Justiça do Pará condenou a 67 anos, quatro meses e 24 dias de prisão o pistoleiro Cosme Alves, um dos executores da chamada Chacina de Baião, ocorrida em março de 2019. O Tribunal do Júri de Baião, presidido pela juíza Emília Parente, acatou tese dos promotores de Justiça, Juliana Freitas, e Márcio Almeida Farias, ele hoje atuando como titular na na comarca de Capitão Poço.
Cosme foi condenado pelos crimes de furto e homicídio qualificado por motivo torpe, mediante recompensa, com o emprego de meio cruel e a utilização de recursos que impossibilitaram a defesa dos ofendidos e para assegurar a execução e a ocultação de outros crimes.
A matança ocorreu nos dias 21 e 22 de março de 2019 e ganhou grande repercussão na época, pois foram brutalmente assassinados seis trabalhadores rurais, dentre as vítimas Dilma Ferreira Silva, ativista ambiental do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Tais crimes tiveram como mandante o fazendeiro Fernando Rosa, conhecido como Fernandinho, que se encontra preso desde a época dos homicídios.
Sobre o caso, o promotor Márcio Almeida Farias comenta: “fui o promotor que ofereceu a denúncia e ela se baseou na investigação realizada pela Polícia Civil, a qual conseguiu desvendar todos os detalhes dos seis homicídios. Tenho certeza de que os jurados fizeram justiça ao condenar Cosme. O MPPA cumpriu seu papel. Não podemos mais tolerar no Estado do Pará a violência no campo e o assassinato de trabalhadores rurais e de ativistas ambientais”.
O brutal caso
De acordo com a denúncia do MP, os assassinatos ocorreram no km 50, zona rural, do município de Baião. A chacina teve dois momentos. No primeiro momento, na fazenda do mandante Fernando Ferreira Rosa Silva, conhecido como Fernandinho, foram mortos os trabalhadores rurais Venilson da Silva Santos (Vinicius), Raimundo Jesus Ferreira (Raimundinho) e Marlene da Silva Oliveira, por meio de disparo de arma de fogo e, posteriormente, tiveram seus corpos carbonizados.
O segundo momento da chacina, ocorreu no assentamento Renato Lima (Salvador Allende), onde matadores de aluguel, dentre eles Cosme Alves, ceifaram a vida de Dilme Ferreira Silva, Milton Lopes Claudionor e Amaro Costa da Silva, sendo que todos os crimes teriam como mandante Fernando Ferreira Rosa Silva e os executores Valdenir Farias Lima (Denir), Glaucimar Francisco Alves (Pirata) e Cosme Alves.
De acordo com a investigação realizada pela polícia, a motivação dos crimes se deu após os trabalhadores rurais dizerem que iriam denunciar Fernandinho na Justiça do Trabalho, pois ele não pagava seus salários e os tratava em situação análoga à escravidão, bem como teriam descoberto uma pista de pouso clandestino na fazenda para fins ilícitos. O acusado Valdenir Farias de Lima foi o intermediário na contratação dos irmãos Alves, Glaucimar e Cosme, conhecidos matadores de aluguel na região.
A morte de Dilma
Já a motivação do homicídio de Dilma Ferreira da Silva se deu porque a ativista ambiental havia denunciado Fernandinho por transporte e exploração ilegal de madeira na região. Horas depois da primeira matança, os acusados se dirigiram para o assentamento Renato Lima, para executar Dilma, no bar de sua propriedade, bem como seu companheiro Milton Lopes, e mais um cliente do bar.
Os três foram mortos a facadas, com requintes de crueldade. Além de terem matado, logo após o crime, os executores resolveram furtar alguns objetos do bar, como uma caixa de som, além de alguns produtos. Estes objetos foram encontrados na casa da mãe dos irmãos Alves.
Através de interceptações telefônicas a polícia desvendou a motivação e a participação de cada envolvido nos crimes. O processo original foi desmembrado. Assim, o mandante Fernandinho e o coautor Valdenir serão julgados oportunamente.
Na época do crime, o promotor Márcio de Almeida Farias era o titular da comarca de Baião e acompanhou toda a investigação realizada pela polícia e, posteriormente, foi o promotor que ofereceu a denúncia contra os acusados. Do Ver-o-Fato, com informações da Promotoria de Capitão Poço.