Após um longo processo judicial, a TV Globo foi condenada a pagar uma indenização de R$ 500 mil à atriz Roberta Rodrigues por assédio moral e racismo institucional durante as gravações da novela Nos Tempos do Imperador, exibida em 2021. A decisão foi proferida pela juíza Aline Gomes Siqueira, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, que considerou as práticas adotadas nos bastidores do folhetim como abusivas e discriminatórias.
O caso foi revelado pela coluna da jornalista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Segundo a publicação, o ambiente tóxico nos estúdios resultou no adoecimento da atriz, que desenvolveu burnout e precisou ser afastada por aproximadamente três meses. O processo corre sob segredo de justiça, mas a decisão representa um marco na luta contra o racismo no ambiente audiovisual brasileiro.
Em sua defesa, a Globo negou todas as acusações e destacou suas políticas de inclusão e diversidade. A emissora também argumentou que Roberta Rodrigues continuou trabalhando em suas produções após o ocorrido, citando sua participação nos filmes Tô de Graça e Kasa Branca, ambos da Globo Filmes. No entanto, a atriz afirmou que, durante as gravações da novela, ela e outros atores negros enfrentaram tratamento diferenciado em relação ao elenco branco, evidenciando um cenário de discriminação sistemática.
A polêmica ganhou repercussão ainda em 2022, quando denúncias sobre racismo nos bastidores da novela chegaram ao departamento de compliance da emissora. No mês seguinte, o diretor artístico da produção, Vinicius Coimbra, foi desligado da empresa após ser acusado de assédio moral. Durante o processo, um áudio de uma reunião entre Coimbra e atores negros foi anexado como prova. Nele, o diretor teria mencionado a existência de uma “tropa de choque do movimento branco”, frase que reforçou as alegações de discriminação racial nos bastidores.
Além das questões trabalhistas, a novela foi alvo de críticas pelo público e especialistas por supostamente romantizar a escravidão. A repercussão negativa levou a um pedido de desculpas público da autora e à contratação de uma revisora histórica para avaliar o enredo.
A indenização solicitada pela atriz inicialmente era de R$ 10 milhões, mas o valor foi reduzido para R$ 500 mil na sentença. A Globo ainda pode recorrer da decisão.
Discurso e prática
A condenação da Globo joga luz sobre um problema recorrente na indústria do entretenimento: a desigualdade racial e o racismo estrutural dentro das produções audiovisuais. Embora a emissora tenha políticas de diversidade, casos como esse mostram que há uma distância entre o discurso institucional e a realidade vivida pelos profissionais negros no meio artístico.
A decisão judicial pode representar um avanço na luta por um ambiente de trabalho mais justo e igualitário, reforçando a necessidade de mecanismos eficazes para combater discriminações no setor. A visibilidade do caso também levanta questionamentos sobre o papel da mídia na perpetuação de estereótipos e na manutenção de práticas excludentes, exigindo uma postura mais ativa na promoção da equidade racial.