Em mais um golpe contra a democracia, o extremista de esquerda Nicolás Maduro permanece no poder na Venezuela. Após eleições tensas, Maduro foi declarado presidente na madrugada desta segunda-feira, 29, com 51,20% dos votos, derrotando o candidato Edmundo Urrutia González. Segundo opositores, a fraude “foi grotesca”.
As urnas foram fechadas às 19h (horário de Brasília) de domingo. Com 80% das urnas apuradas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão responsável pela transparência e realização dos processos eleitorais no país, declarou Nicolás Maduro o novo presidente venezuelano às 01h10 da manhã de hoje.
O pleito foi repleto de irregularidades e confusões. Em várias cidades, houve atrasos e intimidações. No estado de Táchira, fronteira com a Colômbia, centros eleitorais registraram atraso de uma hora para início da votação. Além disso, grupos de homens encapuzados realizaram disparos para o alto em meio às filas de eleitores, espalhando o medo.
No município de Antonio Rómulo Costa, panfletos intimidatórios foram distribuídos próximos aos centros de votação por homens não identificados. Houve confrontos entre voluntários pró e contra o governo de Maduro, como no centro de votação de Andrés Bello, estado de Miranda, onde militantes pró-governo tentaram impedir a entrada de um voluntário de oposição.
Um homem foi preso por tirar foto da urna. Segundo o comandante estratégico operacional da Força Armada Nacional Bolivariana, Domingo Hernandéz Lárez, o indivíduo estava com dois comprovantes de voto.
Observadores internacionais barrados
Observadores internacionais foram impedidos de acompanhar o pleito. O governo de Maduro proibiu a entrada de um avião com ex-presidentes e uma comissão formada por dez deputados e senadores da Europa. No sábado (27), um ex-deputado espanhol, convidado pela oposição para atuar como observador, também foi expulso.
Cerca de 17 milhões de eleitores compareceram às urnas neste domingo. Dos 4 milhões de venezuelanos no exterior, apenas cerca de 69 mil atenderam aos requisitos estabelecidos pelo governo para votar.
O chavismo está no poder há 25 anos. Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez, lidera o país há 11 anos, desde a morte de Chávez em 2013. Sua reeleição em 2018 foi amplamente contestada pela oposição, União Europeia e Estados Unidos, que aplicaram sanções para tentar removê-lo do poder.
Países preocupados
Todos os países sul-americanos com exceção do Brasil e da Bolívia manifestaram preocupação com a apuração. Os governos do Uruguai, Argentina, Equador, Paraguai, Peru, Panamá, Costa Rica e República Dominicana divulgaram nota dizendo que acompanham o desenrolar da apuração da eleição venezuelana e exigiram que os resultados sejam respeitados. Eles também pediram que seja liberado acesso dos fiscais de urna as atas de votação.
O Chile, de Gabriel Boric, e a Colômbia, de Gustavo Petro, ambos de esquerda, pediram que o governo bolivariano permitisse o acesso da oposição às atas para comprovar os números da eleição.
“O Governo da Colômbia aguarda a divulgação dos resultados eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela. A contagem dos votos deve ser feita com todas as garantias para todos os setores. Reafirmamos o nosso apoio à paz e à democracia no nosso país irmão”, disse a chancelaria colombiana.
O governo do Chile se somou aos pedidos de respeito à vontade das urnas na Venezuela. Em um post na rede social X, Boric defendeu que a entrega de resultados seja transparente e frisou que a comunidade internacional “não aceitaria outra coisa”.
O Departamento de Estado americano subiu o tom das críticas à Venezuela em meio à demora na divulgação dos resultados da eleição presidencial. O subsecretário de Estado para América Latina, Brian Nichols, escreveu em sua conta no Twitter que as parciais precisam vir a público para garantir a credibilidade do processo eleitoral.
Maduro ataca “fascistas”
Maduro chamou seus adversários de fascistas e puxou um coro de “Viva Chávez” em frente ao Palácio de Miraflores, a sede do Executivo. Nicolás Maduro discursou na madrugada desta segunda-feira após o CNE ter anunciado sua vitória nas eleições para presidente da Venezuela.
Ele chamou seus adversários de “terroristas” e disse que o autor dos ataques em seu país já “foi identificado” e deve ser punidos. Ele não citou nome, mas a opositora Maria Corina Machado é o alvo “São demônios e demônias”, declarou o tirano em discurso.
Ele também denunciou suposto ataque “terrorista” ao sistema eleitoral da Venezuela.
Quem acreditou que haveria um resultado diferente pagou o preço da ingenuidade. Todo o processo eleitoral, marcado por enormes restrições à fiscalização por parte da oposição, foi conduzido pelos órgãos da própria ditadura.
O Brasil, através do governo Lula, notório aliado da ditadura bolivariana, anunciou que deve se pronunciar somente durante a manhã desta segunda-feira.
“Ganhamos com 70%”, diz líder opositora María Corina Machado
“Queremos dizer ao tudo temo que a Venezuela tem um novo presidente eleito e é Edmundo González”, disse Maria Corina, líder da oposição venezuelana.
Corina diz que a participação na votação foi “histórica” e que quatro auditores independentes mostram que González foi o vencedor das eleições em todos os estados.
“Todo mundo sabe o que aconteceu aqui”, afirma Corina, falando que o próprio governo, a comunidade internacional e o povo venezuelano sabem que o resultado verdadeiro é a vitória da oposição.
Segundo a líder política, as pesquisas mostram uma vitória de González por 70%, contra 30% de Maduro, no que seria a maior vantagem histórica.
A oposição diz já ter acessado 40% das atas de votação e pede que a população continue acompanhando a liberação das outras atas.
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