O inquérito policial que investiga denúncias de ex-seminaristas contra o arcebispo da região metropolitana de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, entrou na fase de coleta de novas informações e mais pessoas estão sendo chamadas para depor. Segundo assegura uma fonte ao Ver-o–Fato, os novos depoimentos foram colhidos a partir das informações divulgadas nas últimas semanas.
Nada, porém, que lá atrás já não estivesse nas páginas do próprio inquérito que, como até as mangueiras de Belém sabem, corre sob rigoroso segredo de justiça. A polícia continua a evitar a divulgação de qualquer tipo de informação sobre o caso, alegando que isso prejudicaria o andamento dos trabalhos.
Fontes confiáveis relatam ao Ver-o-Fato informações de bastidores e até sobre a atuação do Ministério Público, onde haveria disposição de passar tudo a limpo e judicializar o caso diante dos depoimentos “contundentes e coincidentes” dos denunciantes, como diz uma dessas fontes. A Polícia Civil, de acordo com essas informações, também investiga “denúncia contra a denúncia”.
O que isto significa? Outra fonte explica que o inquérito tem sido robustecido por informações opostas às dos denunciantes que fazem pesadas acusações ao arcebispo. Essas informações, até com citações de nomes de padres, apontam que os acusadores de Dom Alberto teriam urdido uma “diabólica vingança” contra ele em razão de suposta “ação moralizadora” do arcebispo.
Ao longo dos últimos dez anos, o chefe da Igreja Católica paraense teria expulsado, ou forçado a exclusão, de vários jovens sobre os quais recaem imputações de práticas homossexuais no Seminário Pio X, onde hoje reina um sepulcral silêncio sobre o assunto. Ninguém quer falar, mesmo sob a condição de anonimato.
Sobre o inquérito policial, uma coisa é certa: há uma enorme pressão, em sentidos diametralmente opostos, para que o resultado das investigações seja o seguinte: os defensores de Dom Alberto, alegando fragilidade das provas testemunhais dos acusadores contra ele, pretendem que o caso seja imediatamente arquivado. Os acusadores, apoiados por setores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) insistem que Dom Alberto seja indiciado por abusos sexuais.
O Ministério Público, por outro lado, mantém-se calado, mas diz estar vigilante sobre as pressões feitas em cima dos responsáveis pelo inquérito. O Ver-o-Fato ouviu de um promotor que não há a menor possibilidade de o inquérito deixar Dom Alberto de fora, porque as acusações contra ele não são de uma pessoa somente, mas de outras e seus depoimentos se encaixariam nas narrativas, inclusive nos detalhes. Quer dizer, se depender do fiscal da lei, patrono da ação penal, não haverá arquivamento.
“Pagaram com maldade”, diz Dom Alberto
Enquanto isso, em um novo vídeo, que circula nos meios católicos do Pará, o arcebispo afirma que seus “caluniadores”, que hoje o acusam, foram por ele “muitíssimo ajudados”, mas “pagaram com a maldade”. E enfatiza: “que nosso Senhor tenha pena deles”.
Dom Alberto diz também ter a consciência de “manter o segredo de justiça que me foi exigido, pois o inquérito instaurado, a pedido de um grupo de pessoas, que não vou nomear aqui, está em andamento”. Em razão disso, explica que não pode se adiantar e avisa: “não darei entrevistas”.
“Ao invés de ficar assistindo televisão sem proveito algum para ouvir calúnias requentadas, eu fiquei respondendo às centenas de mensagens e tive uma graça de uma tarde-noite, até 1 hora da madrugada, de evangelização”, conta o arcebispo no vídeo. E prossegue: “nosso Senhor pôs em meu coração aquilo que leio agora para todos os que nos acompanham. Aprendi a ver o mundo de dentro para fora, através das chagas do coração de Jesus na cruz. Rezem para que eu seja fiel”.
De acordo com o arcebispo, “quando parece que se perdeu a honra e a fama, segundo a pretensão dos escândalos desejados pelos que tudo tramaram, diabolicamente, o que tenho encontrado é grande apoio e compreensão nos lugares por onde passo. Centenas de mensagens de bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos e leigas, entidades da sociedade civil e governantes. Deus é capaz de fazer o ser humano do pó da terra. Deus faz das pedras, pão. E Deus já está me refazendo, pela oração e a voz do povo simples que me acolhe, especialmente os mais pobres e frágeis”.
Ainda no vídeo, ele observa: “se a olhos superficiais fui reduzido a um trapo, sei que Deus já está fazendo sua obra. Eu acredito nessa sua obra, seja o que vier depois da agressão de ontem. Rezemos uns pelos outros. Como já disse anteriormente, submeto minha vida e minha consciência, que graças a Deus está limpa, submeto a Deus e à sua Igreja, na certeza de que o Senhor há de curar todas as imensas feridas abertas no coração de tantas pessoas neste período, por gente maldosa. E esta mesma Igreja crescerá por passar mais uma vez pela crueza da cruz para chegar à ressurreição”.
Ele também lê trecho de uma carta recebida de um ex-viciado em drogas, de Lajeado do Tocantins, chamado Fernando Rodrigues Coelho. Na carta, Fernando diz que conviveu com Dom Alberto de 2001 a 2012. “Foi o melhor homem e um verdadeiro pai que ajudou um homem drogado. “Trabalhei e viajei com o senhor nesses dez anos, pela região do Jalapão. O senhor nunca me assediou e me ajudou a ser homem e me ensinou no caminho de Deus”, diz a carta.
Veja a íntegra do vídeo com Dom Alberto:
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