O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é uma ferramenta utilizada para medir a qualidade do ensino nas escolas brasileiras. Calculado a cada dois anos, o Ideb combina dois indicadores: o rendimento escolar (medido pelas taxas de aprovação, reprovação e abandono) e as médias de desempenho dos estudantes em provas padronizadas, como a Prova Brasil e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). No entanto, a forma como esses indicadores são calculados e a pressão por resultados podem levar à manipulação dos dados, como está ocorrendo no estado do Pará pelo governo de Helder Barbalho.
Lógico que, à custa de muito dinheiro e inebriante propaganda midiática, os veículos de comunicação que bajulam o governo do MDB soltam fogos e batem palmas. Não interessa ir à fundo para saber por que o Pará, que antes ocupava a 26ª colocação no ranking do Ideb entre os estados, ou seja, em penúltimo lugar, de repente passou a ocupar a 6ª colocação. Basta, para esses convertidos da mídia divulgar os números dos gênios barbalhistas. A realidade, porém, é o que o leitor verá a seguir.
Como o Ideb é calculado? O cálculo do Ideb envolve as seguintes etapas:
Censo Escolar. É realizada uma contagem detalhada de todos os estudantes matriculados nas escolas, coletando informações sobre idade, série, turno e outras variáveis relevantes. A partir desses dados, é calculado o rendimento escolar, que mede a taxa de aprovação dos alunos.
Prova Saeb: Os estudantes são submetidos a avaliações que medem suas habilidades em Língua Portuguesa e Matemática. As notas obtidas nessas provas são transformadas em um índice de proficiência, que representa o nível de aprendizado dos alunos. A prova do Saeb é aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No entanto, a aplicação prática das provas costuma ser realizada por uma instituição contratada pelo Inep, como em um concurso público federal.
Cálculo do Ideb: O Ideb é calculado multiplicando o índice de proficiência pelo índice de rendimento. O resultado é um número que varia de 0 a 10, sendo que quanto maior o valor, melhor é a qualidade da educação.
A manipulação
Essa manipulação dos dados do Ideb pode ocorrer em diferentes etapas do processo. Uma das formas mais comuns é a alteração das taxas de aprovação. Ao aprovar um número excessivo de alunos, mesmo aqueles que não demonstraram o domínio dos conteúdos, é possível inflar artificialmente o índice de rendimento e, consequentemente, o Ideb.
Para o Ideb 2023, o governo do estado lançou uma série de incentivos financeiros para que gestores de escolas, professores e alunos se empenhassem na melhora dos índices educacionais do Pará. Os valores giram na ordem de R$ 350 milhões.
O programa “Bora Estudar” visa premiar o desempenho acadêmico dos estudantes da rede pública estadual, pagando um auxílio financeiro de R$ 10 mil para o melhor aluno de cada turma. Estima-se que cerca de 19 mil estudantes em todo o estado sejam beneficiados.
Já o programa “Escola que Transforma” tem por objetivo valorizar e incentivar os servidores da educação a alcançar as metas estabelecidas pelo governo do estado para o Ideb 2023 em metas que são acumulativas e podem chegar a até 3,5 salários dos profissionais de educação.
Essas metas envolvem aumentar o Ideb das escolas, em relação ao Ideb 2019; aumentar o Ideb geral do estado; premiar as escolas que tiverem o melhor desempenho no SAEB e, finalmente, aumentar o fluxo (aprovação) dos alunos, com meta de atingir o mínimo de 99% de aprovação no 5º ano do ensino fundamental, de 98% de aprovação no 9º ano do ensino fundamental e 95% de aprovação no 3º ano do ensino médio.
Seduc chuta o balde: aprovação geral e massiva
Acontece que os resultados das planilhas do Ideb 2023, divulgados pelo INEP, mostram que a Seduc resolveu “chutar o balde”, e a taxa de aprovação superou a meta mínima exigida para a bonificação dos servidores e elevou a taxa de aprovação para 99%, no ensino médio e nas etapa das série iniciais e finais do ensino fundamental, nas escolas estaduais onde são ofertadas essa etapa do ensino. Ou seja, a aprovação foi geral e massiva, e não se restringiu as series alvo do programa “Escola que Transforma”.
Esse resultado contrasta com os anos anteriores e até mesmo com os resultados atingidos na prova do SAEB, pelos alunos da etapa do ensino médio, que teve sua nota média aumentada de 3,93 para 4.31, ou seja, pouco menos 10% de aumento na nota do SAEB
O índice geral das escolas públicas paraenses no Ideb 2023 foi de 4.3, com um indicador de rendimento de 0.99, ou seja, quase 100% dos alunos foram aprovados. Essa taxa de aprovação massiva é difícil de justificar, especialmente quando comparada com os resultados de outros estados e com as próprias notas dos alunos no Saeb, que foram de 4.31.
Aprovação e desempenho, quem explica?
A discrepância entre a alta taxa de aprovação e o desempenho dos alunos nas provas sugere que pode estar ocorrendo uma manipulação dos dados. Ao aprovar alunos sem a devida avaliação de seus conhecimentos, o governo estadual pode estar tentando maquiar os problemas da educação e obter resultados positivos no Ideb, mesmo que a qualidade do ensino não esteja sendo efetivamente melhorada como propagandeada pela febril mídia barbalhista.
Com, praticamente, o fim das reprovações de alunos nas escolas estaduais paraenses, alcançado com as ações do governo do estado, o que elevou taxa de aprovação a beirar o teto matemático máximo, caberá somente ao desempenho dos alunos nas provas do SAEB para definir as notas da educação paraense no próximo Ideb 2025 em diante. Resta saber agora se alunos sabedores de sua aprovação certa irão se esforçar para ter bom desempenho em qualquer prova que seja.
Consequências da manipulação do Ideb
A manipulação dos dados do Ideb pode ter diversas consequências negativas:
1- Mascaramento de problemas. Ao esconder os verdadeiros problemas da educação, a manipulação impede que sejam tomadas medidas eficazes para melhorar a qualidade do ensino.
2 – Perda de credibilidade: A manipulação dos dados mina a credibilidade do Ideb como um indicador confiável da qualidade da educação.
3- Desigualdade social: Ao aprovar alunos sem o domínio dos conteúdos básicos, a manipulação contribui para a perpetuação das desigualdades sociais, pois os alunos menos favorecidos são os mais prejudicados.
É fundamental que a sociedade civil, os órgãos de controle e o Ministério da Educação investiguem as irregularidades nos dados do Ideb do Pará e adotem medidas para garantir a transparência e a confiabilidade desse indicador.
É preciso ressaltar que a manipulação dos dados do Ideb não é um problema exclusivo do Pará. Outros estados também podem estar adotando práticas semelhantes.
É urgente que o Brasil desenvolva mecanismos mais robustos para monitorar a qualidade da educação e evitar que os dados sejam manipulados em busca de resultados políticos. A educação é um direito de todos e merece ser tratada com seriedade e transparência.
“Dados falseados”, diz vereadora Silvia Letícia
A professora Silvia Letícia, vereadora em Belém e coordenadora licenciada do Sintepp, provocada pelo Ver-o-Fato, comentou sobre os resultados mostrados pelo governador do estado, Helder Barbalho, afirmando que os números “são falseados pela realidade da educação no Pará”. O depoimento de Silvia Letícia.
“A gente fala em relação ao IDEB. que foi apresentado agora, os resultados do IDEB, tirando o Pará da 26ª posição para a 6ª posição. Primeiro que o cálculo do IDEB, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, representa o resultado da aprovação escolar dos alunos no ano anterior e o desempenho dos alunos nos últimos anos do ensino médio e do ensino fundamental. E esse cálculo, ele precisa ser discutido por nós, porque ele não é tão simples.
Ele considera a aprovação apresentada no censo escolar e o quantitativo de alunos, as matrículas, o fluxo. Sobre aprovação há um falseamento da realidade com a aprovação automática dos alunos. O atual secretário de Educação Rosselle Soares e o governador do estado Helder Barbalho alteraram o rendimento escolar nas escolas estaduais para promover os alunos de um ano para outro automaticamente. É o que chamamos de aprovação automática.
Significa que não se considera a frequência do aluno, não se considera a sua assiduidade, o seu desempenho nas avaliações, as notas que ele tira nas provas, os trabalhos que desenvolve no processo de aprendizagem, não se considera o que ele aprendeu, o que ele não aprendeu. se considera a matrícula dele, ele se matriculou, ele foi aprovado automaticamente.
Em 2021, em 2022, para 2023, nós estamos muito preocupados com isso, porque mostra uma realidade que é um dos itens do IDEB que não existe, porque o aluno foi aprovado automaticamente. Isso eleva a nível de aprovação dos alunos, que é um dos critérios para o IDEB. O outro é a participação dos alunos na provinha, chamada, organizada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Essas provas são feitas anualmente e são elas que dão resultado do desempenho dos alunos, daqueles que frequentaram, daqueles que estão em sala de aula. Para ter uma boa nota, para participar dessa seleção, tem que ter mais de 80% de alunos fazendo a prova. Então, se organizou a rede, as escolas, para que nós, professores, fizéssemos a formação dos alunos, já preparando esses alunos para essas provas anuais.
Então, a nossa função pedagógica, nosso conteúdo, gira em torno da preparação dos alunos para a provinha, para as provinhas. E isso altera a nossa organização escolar, altera o nosso currículo, a nossa forma de ensinar, de aprender e dos alunos de aprenderem. Então isso é uma preocupação.
A outra é que o governador criou um projeto chamado de desempenho dos alunos, reforço escolar. Ele contratou professores de matemática e português para fazer o reforço escolar dos alunos para a prova, preparando eles para fazer a prova. Então, dentro dessa avaliação, dentro desse processo, os alunos são preparados para fazer a provinha do Saeb.
Pagar, sem aprendizagem
E mais: o governo está dando bônus, deu bônus, ofereceu bônus para os alunos, que é o cheque moradia, para o aluno que tiver um bom desempenho no Saeb, nas provinhas, para o aluno que for fazer a provinha, para os alunos que tiverem nota acima de 800 na redação. Enfim, ele vai bonificando, ele vai pagando para que o aluno vá fazer a prova. que é isso que importa pra ele, é o resultado da prova, não é resultado da aprendizagem dele, é da prova, de como ele vai ter o resultado na prova.
Isso tudo tem levado a educação a um processo que desqualifica o nosso trabalho, nós professores estamos sobrecarregados, adoecidos, com funções a mais dentro da escola, a escola de tempo integral é uma falácia, um engodo, porque não dá condições do aluno aprender de forma integral, a permanecer na escola.
Ataque a aulas suplementares
Agora ele está atacando o salário dos professores, porque está retirando aulas suplementares de professores que estão readaptados, professores que trabalham com a EJA, Educação de Jovens e Adultos.
Além disso, o que é grave, professores afastados para aposentadoria estão ameaçados de perder aulas suplementares.
Sobre a progressão automática, ela considera os alunos que abandonaram a escola, se matricularam e que não frequentaram, e os alunos que frequentaram mas tiveram um desempenho baixo, tiveram nota vermelha, não fizeram boas avaliações e aí não conseguiram alcançar as notas necessárias para aprovar. Todos esses alunos, os que abandonaram, os que não tiveram boas notas, todos foram aprovados automaticamente. Isso nos preocupa porque baixa, diminui a qualidade da educação pública no estado do Pará.
Porque não olha o processo. Por que esse aluno está tendo um baixo rendimento? Qual é o problema que está acontecendo na escola? Nada disso é avaliado. É avaliado só o resultado dele. E aí, para mascarar o resultado, o governo está passando automaticamente. A aprovação automática é a principal resposta a esse problema que nós estamos vendo da propaganda enganosa do governo do Estado”.