JOSUÉ COSTA – Jornalista
Às vésperas de acontecer o rodízio de padres nas paróquias da Arquidiocese de Belém, o que é comum no início do ano, o clima nos bastidores do clero não é nada amistoso.
Alguns padres recusaram as mudanças ordenadas pelo arcebispo Dom Alberto Taveira. Um deles, inclusive, declinou à indicação da paróquia alegando, em carta, sofrer perseguição do próprio superior.
Aliás, o clima no clero de Belém nunca foi dos melhores. Desde que assumiu o controle da Igreja local, em março de 2010, o arcebispo tem encontrado resistência em alguns padres. Suas decisões, consideradas arbitrárias, de dois pesos e duas medidas, promoveram graves discordâncias. O então vigário-geral da época, monsenhor Marcelino Ferreira, hoje titular da Paróquia Santa Teresinha, no Jurunas, foi uma das vozes de contestação dessas decisões.
O sacerdote é padre com voz de peso no clero católico de Belém. Ele chegou a se afastar espontaneamente da função para evitar bater de frente com o superior hierárquico.
A reportagem exibida no Fantástico, da Rede Globo, em janeiro de 2021, envolvendo o arcebispo e denúncias de seus padres e seminaristas, é apontada como um dos resultados dessa instabilidade nos bastidores. Vale lembrar que o arcebispo, em nota recém divulgada, foi inocentado no processo judicial que o acusava de assédio sexual.
A verdade é que o clero de Belém, em que pese a racionalidade dos padres na condução dos problemas, o que evita mais escândalos, está dividido entre os padres amigos de confiança do bispo e os padres que dizem acreditar que o desconforto no relacionamento só será resolvido com a transferência ou renúncia do arcebispo.
Dom Alberto Taveira tem, assim, muito a fazer na lavagem de peças sujas dentro de sua própria casa. Tarefa difícil. Ele, a bem da verdade, nunca foi unanimidade como pastor da Igreja de Belém, a exemplo do seus predecessores mais próximos, como dom Orani Tempesta e dom Vicente Zico. Nem o controvertido dom Alberto Ramos, o terceiro na ordem regressa, viveu tanta instabilidade na condução do seu rebanho.
É perigoso, complexo e vasto o terreno nos quais podemos encontrar razões para explicar o descontentamento. Mas, sem grande margem de erro, decisões tomadas em favorecimento de alguns padres, em prejuízo de outros, estão entre as maiores queixas. Algumas, nas denúncias dos insatisfeitos, evidenciam uma clara perseguição aos padres que não são subservientes às suas ordens. E outras que só Freud explica, com denúncias para as quais o melhor é fingir que não escutamos.
Agostinho Filho de Souza Cruz assume, por exemplo, a condição de cura da Sé, neste domingo, sob protestos de alguns do seus pares. O novo pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças (Catedral de Belém), recebeu recentemente o título de monsenhor e a função de vigário-geral da arquidiocese, sob rumores e vaias afônicas.
Padre Agostinho, há alguns meses atrás, se envolveu num evento sinistro em Icoaraci, sob circunstâncias até hoje mal explicadas. Para os insatisfeitos, padre Agostinho foi premiado sem mérito algum.
O arcebispo já adiantou que a renúncia não faz parte dos seus planos. Ao que parece, o clamor evangélico da unidade está sem eco no bastidores da Igreja de Belém