Moradores de Belém e da região metropolitana estão enfrentando um problema inusitado e preocupante: a água fornecida pela Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) apresenta altos níveis de salinidade, resultado da invasão de águas salgadas do Oceano Atlântico nos rios que abastecem a cidade. Essa situação tem causado sérias complicações, como disparos nos disjuntores elétricos de residências e alterações no sabor da água, levantando questionamentos sobre a qualidade do abastecimento e a capacidade da Cosanpa em resolver o problema.
A salinidade elevada da água tem causado transtornos em diversos bairros, como Batista Campos, Guamá e Jurunas, e foi confirmada em análises feitas por moradores e profissionais. O problema estaria relacionado a fenômenos naturais, como a falta de chuvas, que favorecem a intrusão de água salgada nos rios da região, tornando a água mais condutiva eletricamente.
De acordo com relatos de engenheiros e especialistas, o aumento da salinidade torna a água mais “eletrificável”, o que afeta o funcionamento de chuveiros elétricos não blindados, levando ao disparo dos disjuntores de proteção (DR). A situação é tão grave que construtoras estão recomendando a troca de chuveiros por modelos com resistência blindada, uma solução paliativa diante da inércia das autoridades responsáveis pelo tratamento da água.
Relatos preocupantes
Segundo moradores, há mudanças no sabor da água e até desconforto ao utilizá-la. Uma diarista do bairro do Guamá e uma atendente do Jurunas descreveram o gosto da água como “salgado”, comparando a sensação a comer pipoca com sal. Esses relatos reforçam a percepção de que a qualidade da água está comprometida, impactando não apenas o cotidiano, mas também a saúde e segurança das famílias.
Um engenheiro, em depoimento ao Ver-o-Fato, alertou:
“A água da Cosanpa está chegando às nossas casas com uma salinidade muito alta. O parâmetro normal é 8 ou 9, mas já registramos valores de 60 a 70. Esse nível elevado é o que está causando os disparos nos sistemas elétricos e alterações no sabor. A solução ideal seria a Cosanpa corrigir o problema na estação de tratamento, mas até agora não há sinais de que isso será feito.”
Enquanto isso, administradoras de condomínios e construtoras buscam soluções imediatas para mitigar os problemas causados pela água salinizada. Algumas estão sugerindo a troca de chuveiros e contratando empresas especializadas em gestão ambiental para investigar e propor alternativas.
Contudo, o custo dessas soluções recai sobre os moradores, que se veem obrigados a gastar para resolver uma questão que deveria ser responsabilidade da Cosanpa.
Estação de tratamento da Cosanpa na área do lago Bolonha
A omissão da Cosanpa e o alerta
O silêncio da Cosanpa diante desse grave problema é preocupante. A empresa não se pronunciou oficialmente sobre os níveis de salinidade ou as ações para tratar a água de forma adequada. Essa negligência coloca em risco a segurança elétrica das residências, a saúde da população e a confiança no sistema de abastecimento público.
O Ver-o-Fato procurou a Cosanpa para que ela se manifeste sobre o problema. O espaço está aberto às explicações.
Atualização
Em nota curta e lacônica, a Cosanpa, por meio de sua assessoria, enviou ao portal a seguinte manifestação: “A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) informa que o monitoramento da qualidade água é feito semanalmente. Os resultados obtidos indicam atendimento aos padrões de potabilidade exigidos pelo Ministério da Saúde.”
Impactos
A situação em Belém é um alerta sobre os impactos da falta de planejamento e gestão eficiente dos recursos hídricos. A água, elemento essencial à vida, não pode ser negligenciada. Cabe à Cosanpa e às autoridades responsáveis darem respostas concretas à população e implementarem medidas para garantir a qualidade da água fornecida.
Enquanto isso, os moradores continuam lidando com os riscos e os prejuízos de uma crise que afeta toda a cidade.