Parece que não bastou o que fizeram e continuam a fazer em Marituba, onde a empresa Revita e suas subsidiárias instalaram – com a ajuda de poderosos de plantão no Estado e naquele município – um lixão que faz estragos socioambientais e espalha fedentina insuportável por toda a região. Um crime ainda vergonhosamente impune.
O Tribunal de Justiça mandou que o lixão continuasse a funcionar, não deu prazo definitivo para o fechamento, mas cobra das autoridades que arranjem um outro local para receber o lixo de toda a Região Metropolitana de Belém, que além da capital inclui os municípios de Ananindeua, Marituba e Benevides.
Por falar em Benevides – mais precisamente na localidade Benfica -, eis que apareceu por lá uma empresa de Santa Catarina, chamada CCS Construtora e Incorporadora Ltda, sediada na cidade de Brusque, que conseguiu uma autorização da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) para entrar em uma área e prepará-la para que outra empresa, não sabe ainda qual e nem de que buraco saiu, construa um lixão no local. A Semas, entra governo e sai governo, sempre se mostra subordinada a perversos interesses políticos. Faz o que mandam, sem tugir, nem mugir.
Ocorre que no local onde querem implantar o tal lixão existe uma comunidade de 1.500 famílias. E elas ficaram assustadas e revoltadas só de imaginar que poderão ser expulsas da área onde vivem há 20 anos, atuando na agricultura familiar. Na região não se fala em outra coisa. É ameaça capaz de roubar o sono de qualquer um, sobretudo de pessoas honestas, que pensam apenas em produzir e sustentar suas famílias.
Nesta semana, a comunidade Nelson Mandela decidiu realizar uma assembleia-geral, no Ramal Touro Bravo, para debater a ameaça que vem sofrendo e convidou diversas autoridades, inclusive figurões do Estado e da política, o Iterpa, Incra e a própria Semas. Nenhuma delas deu o ar da graça na reunião. O que faz aumentar a desconfiança de que há algo no ar, além da podridão do lixão de Marituba.
A prefeitura de Benevides mandou representantes, além do poder legislativo municipal. Representantes do Senar e da Emater também compareceram. A prefeita do município, Luziane Sollon, por sua vez, já decidiu: lixão em Benevides, nem pensar. Não se sabe se lá na frente mudará de ideia. Os vereadores, alguns presentes à assembleia dos moradores, também foram incisivos em dizer que estão ao lado das famílias na rejeição à construção do aterro sanitário em Benfica. Espera-se que não se acovardem e façam o contrário do que estão prometendo.
Para afastar qualquer ameaça de expulsão das famílias, durante a assembleia foi cobrada da prefeitura de Benevides e do Estado a regularização fundiária da comunidade Nelson Mandela e entrega do título de propriedade a cada morador. Além disso, as famílias reivindicam apoio à saúde dos agricultores, limpeza das ruas da vila agrícola e preservação das nascentes de rio e igarapés da região, assim como outras melhorias, inclusive no transporte e segurança.
Quanto ao lixão, as vozes foram unânimes: jamais permitirão que isso aconteça. Nem que tenham de morrer lutando. E mandam um recado aos políticos que forçam a barra, nos bastidores: seus nomes serão divulgados por todo o Pará se insistirem na infeliz ideia.
Benevides promete não repetir Marituba. Tomara que resista. O mau exemplo de Marituba deve servir de lição.