Pesquisadores da Universidade de Pretória, na África do Sul, levantaram uma nova preocupação sobre o novo coronavírus, que continua a bater recordes de novos casos ao redor do mundo. Um estudo divulgado na terça-feira, 18, concluiu que leões de um zoológico sul-africano foram infectados por seus tratadores com o vírus causador da covid-19 e desenvolveram sintomas graves da doença, demorando até 7 semanas para se recuperarem – o que acendeu o alerta sobre os riscos do vírus se espalhar entre animais na natureza e criar novas mutações.
Os pesquisadores começaram a monitorar animais selvagens em cativeiro em zoológicos e santuários de conservação da África do Sul depois que um tigre no zoológico do Bronx, nos EUA, ficou doente em abril de 2020, de acordo com a professora Marietjie Venter, investigadora principal do estudo. A equipe monitorou, inicialmente, dois pumas que contraíram o coronavírus em um zoológico particular em julho de 2020, durante a primeira onda de pandemia no país.
Cerca de um ano depois, no mesmo local, três leões começaram a apresentar sintomas semelhantes aos da covid-19 em humanos: dificuldades respiratórias, coriza e tosse. Além dos animais, um tratador e um engenheiro do zoológico também testaram positivo.
Por meio de amostras sequenciadas dos leões e dos humanos infectados, os pesquisadores conseguiram determinar que tanto os animais quanto os tratadores estavam infectados com a variante Delta.
Os leões se recuperaram após 25 dias, mas apresentaram PCR positivo por mais de três semanas adicionais. Os dados analisados pelo estudo sugeriram que a carga viral que os leões carregavam diminuiu ao longo dessas semanas, mas não ficou claro por quanto tempo eles foram capazes de transmitir a doença.
A doença desenvolvida pelos leões, particularmente nas fêmeas mais velhas, mostrou que os animais, como as pessoas, podem desenvolver sintomas graves . Uma leoa mais velha desenvolveu pneumonia
No caso dos pumas, que não são nativos do país, os sintomas incluíram perda de apetite, diarreia, coriza e tosse persistente. Ambos os felinos tiveram uma recuperação completa após 23 dias
Em um ambiente de cativeiro, os animais infectados foram mantidos em quarentena, mas em parques espalhados pela África do Sul, onde os leões são uma atração turística, controlar um surto pode ser “muito, muito difícil”, disse o estudo, principalmente se o vírus não for detectado. Em certos locais, os leões são frequentemente alimentados por humanos em vez de caçar por si mesmos, o que aumenta a chance de exposição ao vírus.
Apesar do estudo não deixar claro quanto de carga viral os leões estavam carregando ou se eles foram capazes de transmitir o vírus durante todo o período em que testaram positivo, períodos prolongados de infecção em grandes felinos aumentariam o risco de um surto na natureza se espalhar mais amplamente e infectar outras espécies, disseram os pesquisadores. Isso poderia eventualmente tornar o vírus endêmico entre os animais selvagens e, na pior das hipóteses, dar origem a novas variantes que podem retornar aos humanos.
“Se você não souber que é covid, existe o risco de que possa se espalhar para outros animais e depois voltar para os humanos”, disse Venter, professora de virologia médica, que se uniu a um cientista veterinário de vida selvagem para o estudo. Os animais foram infectados por tempo suficiente “para que o vírus pudesse realmente sofrer mutações”, disse ela.
A transmissão de vírus entre animais e humanos é uma realidade conhecida pelos cientistas. O próprio coronavírus teria se originado em morcegos e acabou “pulando” para humanos, no que é conhecido como infecção por “transbordamento”.
Os cientistas alertam que infecções de “refluxo” de humanos infectando animais – como ocorreu com martas, veados e gatos domésticos – podem devastar ecossistemas inteiros na natureza. As infecções que atingiram a natureza também podem expandir o potencial do vírus de se espalhar sem controle e sofrer mutações em animais, potencialmente em variantes perigosas para os seres humanos.
Um fenômeno bem estudado envolve infecções entre grandes populações de martas em cativeiro. Em uma fazenda de visons na Dinamarca, o vírus se transformou em uma nova cepa durante a mudança de humano para animal, levando ao abate em massa em todo o país e na Europa, para evitar sua propagação de volta aos humanos.
Em contraste, o estudo sul-africano envolveu pequenos surtos, mas Venter observou que a disseminação em martas mostra o perigo potencial de surtos maiores na vida selvagem. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)