Desde os anos 70 até os dias de hoje – e já se vão 50 anos de combates intensos, vários e importantes deles perdidos, outros vencidos -, o Pará enfrenta um monstro aparentemente invisível, mas real e assustador. Esse monstro têm nomes: atraso social, exclusão de grandes massas do mercado de trabalho, falta de oportunidade para jovens, qualificação e inserção nas atividades produtivas.
Tentar entender como esse monstro criou raízes sólidas por aqui é um exercício que não cabe agora. Teses sociológicas e livros sobre economia já foram escritos, mas as repostas quase sempre apontam para a nossa falta de autonomia política diante do Poder Central, com seus tentáculos em Brasília, onde tudo é planejado e executado. Além disso, nossa atuação sempre esteve aquém do esperado no Congresso Nacional e seus reflexos se fazem sentir na decisões que nos impactam.
Somos dependentes de transferências de recursos da União e o tal Pacto Federativo não passa de discussão estéril, que não é levada a sério, porque não interessa aos estados mais desenvolvidos. O Pará que se vire junto com seu povo. Receita e despesa devem estar em equilíbrio para que os servidores públicos do estado e municípios possam receber sem atraso, alimentar suas famílias e pagar as contas.
Um ano atrás, tudo caminhava com as dificuldade de sempre no estado, quando aparece a pandemia do coronavírus para tomar o mundo de assalto, espalhar dor, morte e desespero por todos os cantos. Entre o negativismo científico de alguns e o deboche criminoso de outros, passamos a enfrentar o imenso estresse da população em busca de socorro aos doentes, familiares, amigos e vizinhos. Encaramos o caos na saúde.
As ações do estado, afetadas pela falta de leitos nos hospitais públicos e de UTIS, a partir daí, tiveram que passar por uma reengenharia administrativa. Demandas surgiram e têm surgido,, reclamando urgências, sobretudo neste momento de lockdown na Região Metropolitana de Belém. A vida, em primeiro lugar. Lógico.
Temos, por outro lado, um governador sintonizado nesses objetivos e há uma união em benefício do povo, com prefeitos de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara. Santa Isabel, Barcarena e os municípios da “Boca do Marajó” – Soure, Salvaterra, Ponta de Pedras e Cachoeira do Arari – poderiam estar nesse mutirão, também.
Helder Barbalho tem buscado os recursos para essas urgências urgentíssimas da população. Disponibilizou R$ 500 milhões para ajudar os prejudicados pelas medidas restritivas – pequenos e médios empresários, além de pessoa físicas e famílias vulneráveis – com um auxílio emergencial.
O governador também adotou a solução criativa de aumentar de R$ 500 milhões para R$ 2 bilhões a Taxa Mineral, cobrada das gigantes exportadoras aqui sediadas e que exploram nossas colossais riquezas com apetite voraz. O governador, porém, não pode ficar sozinho nessas medidas. O Pará, muito acima de Helder, precisa ser ajudado. E já.
Chegamos ao ponto.
A pergunta é a seguinte: onde estão, nesse momento, as grandes corporações multinacionais que se servem do Pará sem servir ao Pará? Cadê a Vale? Cadê as gigantes do alumínio, Albrás e Alunorte e seus barões do capitalismo norueguês, a Norks Hydro? E as gigantes de alimentos Cargill, Bunge, com os dois pés aqui fincados? E a Alcoa, a Mineração Rio do Norte, a Imerys Rio Capim, o pessoal da cadeia do dendê, como a Agropalma?
E o Grupo Santa Bárbara, com seus milhões de cabeça de gado e fazendas em terras do sul do estado, além dos grandes frigoríficos da J&F, que exportam toda a carne e deixam aqui apenas o rebutalho nos supermercados? Cabe também perguntar, o que fazem grandes bancos como Itaú, Bradesco, e multinacionais como Shell, Atlantic, Coca-Cola, Sadia?
Por que são saem de suas bolhas de prosperidade e se abrem no mutirão de solidariedade em favor do Pará? Será que só servem para contar seus bilhões de dólares, euros e reais, dividir lucros entre acionistas e festejar balanços financeiros? Cadê a responsabilidade social desses grupos?
A vida não é só dinheiro. É algo muito além disso. Envolve princípios, respeito a um povo, dignidade humana. É do esforço comum que as sociedades evoluem.
Diante do que se vê, com o agravamento dos casos e gente sem atendimento médico, hospitais superlotados, famílias desamparadas, por que essas grandes empresas não montam com urgência quatro Hospitais de Campanha, inclusive com UTIs – três em Belém e uma em Ananindeua – dotados de todas as condições, equipamentos, pessoal, medicamentos? É a sugestão do Ver-o-Fato.
Custaria barato, muito barato, para esses grupos bilionários, fazer isto. Algumas horas de conferência virtual definiriam as linhas gerais dessas ações. É o lucro de apenas algumas horas do que embolsam em suas transações diárias. Verdadeiro troco de banana. E com a vantagem de que a imagem desses grupos iria ter efeito positivo muito forte.
É bom lembrar que essas corporações gigantescas gozam de inúmeros privilégios e isenções fiscais do governo do Pará. Isso já há mais de 30 anos. A justificativa de algumas, para não ajudar o estado, é de contratam empresas e terceirizadas locais, dinamizando o desenvolvimento e o progresso. Balela. Conversa fiada. É o mínimo que devem fazer.
Na verdade, o impacto socioambiental que seus projetos causam ao estado – e são elas que ocupam os entornos das comunidades, e não o contrário, como afirmam, envenenando rios, derrubando florestas e expulsando povos tradicionais, além de etnias indígenas – exigem o pagamento de contrapartidas, indenizações.
Ações judiciais, porém, dormem na gavetas da procrastinação ou se limitam a Termos de Ajuste de Condutas com os MPs e outros penduricalhos. Os fiscais da lei também estão sendo cobrados.
Enfim, chegou a conta. A fatura social dessas gigantes com o Pará. É hora de cobrar. O momento nunca foi tão oportuno.
É o que faz o Ver-o-Fato.
Quem vai estourar essa bolha de comodismo e omissão?
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