Em uma carta contundente e denunciadora, Dom José Luiz Azcona, arcebispo do Marajó, criticou severamente a Assembleia Legislativa do estado e o governador Helder Barbalho por enterrarem a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar abusos sexuais de crianças, pedofilia e tráfico humano na região. Em seis páginas, o documento destaca trechos graves da denúncia do bispo.
Na carta, Dom Azcona lamenta a postura da Assembleia Legislativa, acusando-a de prevaricação e comparando-a a uma prostituta, de acordo com referências bíblicas. Ele critica os legisladores por negarem a instalação da CPI, destacando que a maioria dos deputados pertencentes ao grupo governista optou por ignorar as denúncias sérias de crimes hediondos.
O arcebispo ainda ressalta o silêncio dos deputados Andreia Xarão, Luth Rebelo e Carlos Bordalo, todos naturais do Marajó, acusando-os de abandonarem sua identidade e se posicionarem contra os interesses das mulheres e crianças da região. Ele expressa indignação diante do descaso com as vítimas, especialmente as meninas, que enfrentam ameaças constantes e são deixadas à própria sorte.
A carta também faz duras críticas ao governador Helder Barbalho, acusando-o de hipocrisia e cinismo. Azcona relembra declarações anteriores do governador sobre a intolerância aos abusos contra crianças, contrastando-as com sua posterior ordem para que a Assembleia Legislativa silenciasse a investigação.
Dom Azcona questiona a postura dos prefeitos da região do Marajó, apontando a omissão e ineficiência das autoridades municipais diante do grave problema dos abusos infantis. Ele faz um apelo à consciência dos políticos e autoridades, exortando-os a agirem em defesa dos direitos humanos e da dignidade das crianças.
Falso culto a Deus
O arcebispo também critica o “falso culto a Deus” praticado por algumas autoridades, destacando a necessidade de ação concreta em prol do bem comum e da justiça. Ele conclama os líderes políticos a priorizarem a proteção das crianças marajoaras e a promoverem políticas públicas eficazes para combater os abusos na região.
Por fim, Dom José Luiz Azcona encerra a carta com um apelo à esperança e à solidariedade, ressaltando a importância de testemunhar em favor da verdade e da justiça. Ele conclui expressando confiança de que, com a ajuda divina, o Pará e o Marajó poderão superar os desafios e garantir um futuro digno para seus habitantes.
Trechos da carta
Sobre o falso culto a Deus: Azcona critica o uso superficial da religião por parte de algumas autoridades, destacando a necessidade de ação concreta em prol do bem comum e da justiça. Ele adverte sobre a hipocrisia daqueles que professam a fé, mas negligenciam a defesa dos direitos humanos e da dignidade das crianças.
Sobre a atuação dos prefeitos: O arcebispo questiona a postura dos prefeitos da região do Marajó, apontando a omissão e ineficiência das autoridades municipais diante do grave problema dos abusos infantis. Ele faz um apelo à consciência dos políticos locais, destacando a responsabilidade que têm em proteger as crianças e promover o bem-estar da comunidade.
Sobre a falta de resposta do Ministério Público: Dom Azcona expressa preocupação com a aparente inação do Ministério Público do Pará diante de casos graves, como o assassinato de uma menina em Anajás. Ele questiona a ausência de medidas efetivas para garantir a justiça e a proteção das vítimas, exigindo uma resposta enérgica e imediata das autoridades responsáveis.
Sobre a responsabilidade das autoridades: O arcebispo destaca a responsabilidade das autoridades políticas e religiosas em enfrentar os desafios sociais e proteger os mais vulneráveis. Ele faz um apelo à consciência dos líderes políticos e religiosos, exortando-os a agirem em defesa dos direitos humanos e da dignidade de todas as pessoas, especialmente das crianças.
Sobre a política partidária e a representatividade das mulheres: Azcona questiona a representatividade das mulheres na Assembleia Legislativa do Pará, expressando surpresa com a ausência de votos femininos em defesa das próprias mulheres, especialmente das mais vulneráveis. Ele critica a postura dos partidos políticos que, segundo ele, abandonaram seus ideais democráticos em troca de alianças políticas.
Sobre a necessidade de mudança e enfrentamento dos problemas: O arcebispo ressalta a necessidade de mudança de atitudes e comportamentos por parte das autoridades políticas e religiosas. Ele faz um apelo à coragem e determinação para enfrentar os problemas sociais e defender os direitos humanos, colocando o bem comum acima dos interesses pessoais e partidários.
Sobre a esperança e a solidariedade: Azcona encerra a carta com um apelo à esperança e à solidariedade, destacando a importância de testemunhar em favor da verdade e da justiça. Ele expressa confiança de que, com a ajuda divina e o compromisso dos cidadãos, o Pará e o Marajó poderão superar os desafios e construir um futuro melhor para todos.
Esses trechos adicionais reforçam a mensagem central da carta, enfatizando a importância da responsabilidade individual e coletiva na promoção do bem-estar social e na defesa dos direitos humanos, especialmente das crianças e das mulheres mais vulneráveis.
Sobre a negligência das autoridades estaduais: Azcona critica a postura negligente das autoridades estaduais, destacando a falta de ação efetiva para lidar com os problemas sociais no Marajó. Ele questiona a ausência de medidas concretas para combater o abuso e a exploração de crianças, ressaltando a necessidade urgente de intervenção governamental.
Sobre a necessidade de mudança estrutural: O arcebispo aponta para a necessidade de uma mudança estrutural na abordagem dos problemas sociais no Marajó. Ele destaca a importância de políticas públicas voltadas para a educação, geração de renda e infraestrutura na região, enfatizando que apenas medidas superficiais não serão suficientes para resolver os problemas enfrentados pela população local.
Sobre a falta de transparência e responsabilidade: Azcona critica a falta de transparência e responsabilidade por parte das autoridades estaduais e municipais, destacando a necessidade de prestação de contas e transparência nas ações governamentais. Ele denuncia a politização dos problemas sociais e a falta de compromisso com a justiça e os direitos humanos, exigindo uma postura mais responsável por parte das autoridades.