O Grupo Líder, um dos empreendimentos mais bem-sucedidos do Norte do Brasil, com um faturamento fantástico de cerca de 3,2 a 3,5 bilhões de reais por ano, virou o assunto mais comentado durante a semana que passou, não pelo desempenho do conglomerado empresarial, mas sim por mais uma briga e troca de acusações e ameaças entre dois dos seus donos, os irmãos João e Oscar Correa Rodrigues.
O caso desta vez virou um escândalo, chegou às vias de fato, foi parar na polícia, teve boletim de ocorrência por agressão, exame de corpo de delito e tudo o mais. Também foi tornado público com estardalhaço, ao contrário das desavenças anteriores entre os dois irmãos.
Para os irmãos, ao contrário do que diz o adágio popular, roupa suja não se leva em casa, mas em público e na frente de todo mundo. Os outros irmãos, filhos e sobrinhos, tentam evitar mais estragos, pedindo paz aos litigantes, mas João e Oscar alimentam a disputa, jogando mais gasolina ao fogo.
Vazaram as imagens da briga entre João e Oscar, dentro da sede do grupo, na verdade um episódio deprimente, em que João, um senhor de 75 anos, parte para cima de Oscar, outro idoso, de 73 anos, e o agride, deixando um hematoma do lado esquerdo do rosto do irmão.
As imagens viralizaram nas redes sociais e em grupos de mensagens. A grande imprensa paraense, que fatura uma grana alta de publicidade do Grupo Líder, não tocou no assunto, como sempre faz quando seus clientes endinheirados se envolvem em escândalos, mas não adiantou nada, porque todos ficaram sabendo.
Até então, uma grande parte da população de Belém desconhecia o relacionamento conturbado entre os dois irmãos, por causa de dinheiro e poder. Poucos sabiam que João e Oscar se odiavam tanto assim. Pior de tudo é que, com a briga, foi escancarado também o lado obscuro da milionária família.
Farpas dilacerantes
“Ladrão, assassino”, gritou João para Oscar, acusando-o de ser o responsável pela morte do filho, João de Deus Pinto Rodrigues, de 27 anos, sobrinho de Oscar, vítima de uma overdose de drogas sintéticas, em 27 de fevereiro de 2015, durante uma festa de aniversário, em uma boate do centro de Belém, já extinta.
Dias depois da briga, João deu uma entrevista dizendo que Oscar, o atual comandante do Líder, desviou dinheiro da empresa, enganando a ele e aos outros irmãos. Disse ainda que a a morte de seu filho foi uma suposta vingança de Oscar, por causa do escândalo envolvendo João Augusto Lobato Rodrigues, filho de Oscar e ex-presidente da Associação Comercial do Pará.
“Ele (Oscar) teve coragem de ligar para minha secretária e disse para ela que ele ia liquidar comigo e com minha família. Ele retira dinheiro dos cofres do Líder às escondidas, sem que os irmãos tenham conhecimento. Com o escândalo do João Augusto, (meu) sobrinho, o Oscar me prometeu vingança, e matou meu filho, mandou matar meu filho”, acusou João Rodrigues.
O filho de Oscar, João Augusto Lobato Rodrigues, foi acusado pelo tio, João, de desviar de 2013 a 2015, cerca de 8,4 milhões de reais da empresa Líder Fomento, usando o cartão Liderzan, fato que foi constatado por auditoria do setor de processos e gerenciamento de risco da empresa.
“Ele (João Augusto) passou os bens para teu nome (Oscar), até hoje não nos ressarciste o prejuízo que sofremos. Esta ação encontra-se na Justiça aguardando desfecho”, publicou certa vez João Rodrigues na sua rede social. Na verdade, o processo já tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Oscar: “morte acidental”
Já o homem acusado de fornecer as drogas ecstasy e LSD para João de Deus Pinto Rodrigues, Jeferson Michel Miranda Sampaio, foi preso em 2017 e condenado em 2019 a 15 anos de reclusão por tráfico de drogas. Mas ele nunca foi condenado pela morte do herdeiro do Líder, as contrário, foi inocentado pelo Tribunal do Júri por homicídio em dois julgamentos.
Na denúncia, a promotora de Justiça, Rosana Cordovil, sustentou que Jeferson Sampaio matou João de Deus Rodrigues com uma overdose de drogas sintéticas, a mando de alguém. Ela só não disse quem seria o mandante. Agora, João aponta o irmão Oscar como a peça que faltava neste quebra-cabeça mirabolante.
Por sua vez, Oscar Rodrigues afirmou publicamente que não houve homicídio, mas sim morte acidental por overdose e que o irmão, João Rodrigues, estava gastando milhões de reais da empresa com a contratação de advogados, forçando a justiça a assumir a tese de homicídio, com o propósito de limpar o nome do filho, viciado em mais drogas do que simplesmente maconha e ainda agravar a crise da família.
O processo contra João Augusto
Já o processo contra o filho de Oscar, envolvendo a Líder Fomento, uma das empresas do grupo, no valor atualizado de mais de R$ 10 milhões, ainda se arrasta no STJ. Estelionato e fraude são as acusações que pesam contra o empresário João Augusto Lobato Rodrigues, no processo inicial nº 0001267-45.2016.8.14.0401, na 1ª Vara Criminal de Belém.
Na época da abertura do processo, Oscar Rodrigues acionou seus advogados e por meio de escritura pública, avalizada pelo tabelião Zeno Veloso, do Cartório Cherment, passou a ser o proprietário legal de casas, apartamentos e demais bens antes pertencentes ao filho. Nenhum tostão foi devolvido aos outros sócios do grupo.
Mas as acusações feitas por João contra Oscar foram além: ele também acusou o irmão de ter mandado matar quatro homens que se envolveram no assalto que provocou a morte do genro de Oscar, José Francisco Vieira, na residência da família da vítima, no bairro do Jurunas, em 2008.
A troca de acusações e ameaças não para por aqui. Nas próximas matérias publicaremos outros episódios dessa guerra no seio do clã Correa Rodrigues.
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