Após ser descrita como “honestíssima” pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) voltou a chamar o ex-vice de seus dois mandatos no Planalto de “golpista” e afirmou que não pretende mais “debater com este senhor”. Em carta publicada em seu site, a petista disse ainda que Temer, que a sucedeu após ela sofrer impeachment, articulou “uma das maiores traições políticas dos tempos recentes”.
Dilma argumentou que sua dificuldade de “articulação com o Congresso”, motivo ao qual Temer atribui seu impedimento, não é crime passível de afastamento do cargo, e afirmou que sua distância do Legislativo se devia à sua “integral rejeição” ao deputado federal Eduardo Cunha, então presidente da Câmara. Embora tenha se defendido quanto à opinião de Temer sobre o que a derrubou na prática, o fundamento jurídico para o impeachment da petista foi o cometimento de crimes de responsabilidade, por sua condução do País no âmbito fiscal.
“Tal ‘dificuldade’ era uma integral rejeição às práticas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, criador do Centrão, que queria implantar com o meu beneplácito o ‘orçamento secreto’, realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal”, escreveu.
Dilma também disse que Temer não teria razão para se opor ao modo de governar do PT, já que sabia qual era o programa político da chapa para a qual foi indicado como vice. As reformas aprovadas durante a gestão do emedebista, segundo a ex-presidente, configuram “traição” ao voto popular.
“As provas materiais da traição política estão expressas na PEC do Teto de Gastos, na chamada reforma trabalhista e na aprovação do PPI (Preço de Paridade de Importação) para as quais não tinha mandato. Nenhum desses projetos estavam em nossos compromissos eleitorais, pelo contrário, eram com eles contraditórios. Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes.”
Ao falar sobre Dilma nesta quinta-feira, 21, em entrevista ao UOL, Temer ponderou que o motivo jurídico de seu impeachment foi “extremamente técnico” e não teve relação com casos de corrupção, e que ela caiu por não ter boa articulação com o Congresso. Ele criticou a prática de pedaladas fiscais apontada por órgãos de controle durante o governo da petista.
“Às vezes falam de corrupção, mas é mentira. Ela (ex-presidente Dilma) é honesta. O que eu sei e pude acompanhar, embora estivesse à margem do governo e embora fosse vice-presidente, não há nada que possa apodá-la de corrupta. Para mim, honestíssima. Houve problemas políticos. Ela teve dificuldade no relacionamento com o Congresso Nacional, teve dificuldade no relacionamento com a sociedade e teve as chamadas ‘pedaladas’, uma coisa extremamente técnica, decretada pelo Tribunal de Contas da União. Esse conjunto de fatores é que levou multidões às ruas”, disse.
Em nota enviada via assessoria a respeito das críticas endereçadas a ele por Dilma, Temer afirmou que “é tão desarrazoada a manifestação que não merece resposta”. (AE)