Com mudanças no regime político comunista, onde houve um processo de abertura comercial, a China começou a produzir, em meados das décadas de 80 e 90, produtos que dominaram o mercado mundial. Nesse contexto, a emigração de chineses pelo mundo tem se desenvolvido com êxito para incrementar atividades comerciais em muitos países.
A China detém um dos maiores contingentes humanos em diáspora do mundo: 60 milhões de pessoas, espalhadas em 198 países. Pesquisadores acreditam que o país incorpora a diáspora em uma estratégia de política externa que é baseada nas organizações de chineses do ultramar e nas práticas das instituições governamentais voltadas para a diáspora, facilitando, por exemplo, a compra de produtos do país para serem vendidos por seus próprios nacionais em outros países, dentre eles, o Brasil.
Há algum tempo, esse processo é visualizado nos principais centros comerciais da região sudeste e nordeste do Brasil, mas nos últimos anos, cada vez mais no norte, especialmente em Belém. Contudo, se no começo os paraenses gostavam das vagas de emprego e produtos mais baratos que vieram com a chegada desses estrangeiros ao comércio central de Belém, agora os comentários são cada vez mais negativos.
É sabido que há diferenças culturais entre Brasil e China, muitas delas ligadas a um comportamento extremamente mais disciplinado por parte deles, algo um tanto comum quando pensamos em países asiáticos. Mas essas diferenças estariam na gênese de conflitos entre empregadores chineses e trabalhadores brasileiros de Belém.
Em relatos enviados ao Ver-o-Fato, ex e atuais funcionários falam que o cotidiano de trabalho nas lojas de chineses costuma ser de muita rigidez e disciplina. Porém, com o passar do tempo, foi se tornando abusivo e humilhante.
Um dos funcionários contou que era revistado ao sair ou entrar na loja, que não podia sentar e era proibido de beber água ou almoçar durante o horário de trabalho. Além disso, era constantemente xingado e humilhado. Se um ladrão furtasse a loja, o valor do produto era descontado de seu salário.
Era proibido ficar parado, por isso, se não houvesse ninguém na loja, tinha que desorganizar e organizar novamente só para demonstrar que estava fazendo alguma atividade. Certa vez, um cliente presenciou um dos casos de humilhação e, com pena, resolveu ajudar o funcionário a sair do local e o indicou para uma loja de sapatos na mesma região.
Já uma outra funcionária, relatou que além de todo esse panorama de humilhação e super exploração, tinha que fazer massagem em sua patroa. Precisando do emprego, era obrigada a fazer tudo o que pediam.
Clientes também reclamam
Além de funcionários, clientes dessas lojas costumam fazer recorrentes críticas ao modo como são atendidos. Em relatos enviados ao Ver-o-Fato, clientes garantem que muitos deles não emitem nota-fiscal e não permitem troca de produtos danificados, bem como costumam ser mal educados se o valor da compra for baixo.
A “temperatura” de conflitos também está aumentando entre os lojistas brasileiros de Belém. A insatisfação se dá por conta de uma possível concorrência desigual, já que muitos dos lojistas chineses não emitem nota fiscal, deixando de ter custos com impostos, bem como a falta de políticas protecionistas que considerem que os estrangeiros conseguem mercadorias a menores custos por conta da política externa do governo deles.
Uma lojista contou que sente falta de maior valorização por parte do cliente brasileiro, que prefere comprar com chineses mesmo sendo supostamente maltratados. Além disso, os conflitos com os estrangeiros estariam se intensificando, sendo uma questão de tempo acontecer algo pior, o que pode significar protestos, até de cunho xenofóbico, contra a presença deles pelo comércio. Por conta disso, é urgente uma política pública que vise diminuir as contradições e conflitos.
A pergunta que todos fazem é a seguinte: cadê o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Delegacia do Trabalho, o MP do Pará e demais órgãos que fiscalizam e regulam o setor? É bom agir e verificar o que está ocorrendo, até para que os bons comerciantes chineses que aqui atuam não sejam prejudicados pelo mau comportamento e violações às leis brasileiras de seus conterrâneos