Estão dentro da classificação câncer de cabeça e pescoço os tipos que afetam boca, língua, palato, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe, esôfago, tireoide e seios paranasais. Somados todos esses tipos, o câncer de cabeça e pescoço é o segundo mais incidente no Brasil, com estimativa de 39.550 novos casos em 2023, de acordo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
As estatísticas justificam a iniciativa da Federação Internacional das Sociedades Oncológicas de Cabeça e Pescoço, que definiu o 27 de julho como o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. No Brasil, foi criada há 7 anos a campanha Julho Verde, com os objetivos de chamar atenção para tumores que muitas vezes apresentam sintomas negligenciados, aumentando casos de diagnóstico tardio; e de motivar pessoas em idades com maior prevalência da doença (acima de 40 anos) a realizar exames específicos para detecção precoce da doença, o que aumenta muito as chances de cura.
Desde o ano passado, o mês de julho foi oficialmente instituído em todo o território brasileiro, pela Lei nº 14.328, de 20 de abril de 2022, como o Mês Nacional do Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço.
Fatores de risco
Alguém que fuma e bebe tem chances até 20 vezes maiores do que as de uma pessoa que não fuma e não bebe de desenvolver algum tipo de câncer de cabeça e pescoço. Os inúmeros malefícios causados pelo tabaco e pela bebida alcoólica em excesso são bem conhecidos, mas o perigo que esses dois vilões da nossa saúde representam – associados – é impressionante.
A infecção pelo HPV também pode ser a causa da doença. É cada vez mais frequente o diagnóstico da doença em indivíduos jovens, sem a exposição a tabaco e álcool, com tumores originados pelo HPV. O Ministério da Saúde estima que cerca de 7% da população brasileira, mesmo sem saber, podem ter o vírus HPV na boca.
“Estudos recentes demonstram que a infecção oral pelo HPV é um fator de desenvolvimento do câncer de faringe e de boca. Uma das formas de contágio é por meio da prática do sexo oral sem proteção”, explica a oncologista Paula Sampaio, do hospital Barros Barreto.
Sintomas – Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, os principais sintomas do câncer de cabeça e pescoço são:
• Aparecimento de nódulo no pescoço
• Manchas brancas ou avermelhadas na boca
• Ferida que não cicatriza em duas semanas
• Dor de garganta que não melhora em 15 dias
• Dificuldade ou dor para engolir
• Alterações na voz ou rouquidão por mais de 15 dias
Esses sinais também são causados por outras condições clínicas. Portanto, é importante conversar com seu médico.
Diagnóstico –
O diagnóstico tardio, que representa 60% dos casos, no Brasil, além de aumentar os índices de mortalidade, significa que o paciente muito provavelmente terá sequelas. O câncer de cabeça e pescoço afeta diversas áreas e funções do corpo humano, como a respiração, fala, deglutição, paladar e olfato. “O câncer de cabeça e pescoço é mais facilmente tratado se for diagnosticado precocemente. É muito importante lembrar que 50% dos casos são evitáveis e que 80% são curáveis, por isso é importante ficar atento aos sinais e sintomas”, alerta a médica.
Prevenção
Procure manter uma alimentação saudável, pratique atividade física regularmente, mantenha sua higiene bucal em dia, evite o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, abandone o fumo, use protetor solar e pratique sexo seguro.
Descoberta, tratamento e cura
A fisioterapeuta Priscila Andrade, de 45 anos, descobriu o câncer escovando os dentes. Ela percebeu uma alteração na garganta e procurou logo um médico para investigar. “Logo que percebi a lesão, já fiquei desconfiada. Mas ninguém conseguia ver, tive que insistir para fazer uma laringoscopia que confirmou o diagnóstico, em janeiro de 2022”, lembra. “Fazer o autoexame, conhecer meu corpo, foi fundamental para descobrir o câncer a tempo”.
No exame, ela descobriu que tinha câncer de garganta com metástase na base da língua. Foram retirados 16 nódulos da garganta e, depois, Priscila passou por quimioterapia e radioterapia. “Como tive uma queda de resistência muito grande, precisei ser internada e conclui o tratamento no hospital. Foi difícil. Tinha dificuldade para respirar e comer. Passei 7 meses me alimentando por sonda. Perdi 23 quilos”, conta. Agora, Priscila está em remissão (sem sinal da doença), fazendo acompanhamento médico.
“Uma das coisas que o câncer ensina é ter persistência e perseverança”, afirma Priscila, que abandonou o vício em cigarro depois da doença. “Eu fumava muito, desde a adolescência, e tenho um histórico familiar com vários casos de câncer. Também convivo com outras pessoas que fumam. Não tinha como escapar”, avalia. “Por isso, é tão importante as pessoas saberem como o câncer é perigoso, para se cuidarem e prevenirem a doença, ou conseguirem um diagnóstico cedo, para ter mais chances de cura”, finaliza.
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