A escalada da violência e do crime organizado no Pará ganha contornos alarmantes à medida que jovens do estado são atraídos para as favelas do Rio de Janeiro, onde se submetem a uma espécie de “vestibular” para ingressar nas facções criminosas. Nesses morros cariocas, paraenses não só aprendem as práticas delituosas mas também avançam em uma hierarquia de criminalidade que os transforma em verdadeiros profissionais do crime.
Uma vez “graduados” nessa “universidade” da perdição, esses indivíduos retornam ao Pará, assumindo posições de liderança em facções, espalhando o terror nas comunidades locais com uma série de atividades ilícitas, incluindo tráfico de drogas, assaltos violentos e homicídios, além de cobrança de “pedágio” de moradores e pequenos comerciantes em troca de “segurança”..
Um exemplo marcante dessa realidade é o caso de Luciene Costa Prestes, 23 anos, mais conhecida pelo codinome “Burguesa”. Prestes foi capturada em Araquari, Santa Catarina, marcando o fim de uma longa perseguição policial que durou aproximadamente um ano e meio. Sua prisão destaca a presença cada vez mais notória de mulheres no comando de operações criminosas. “Burguesa” era considerada a líder de uma poderosa facção em Igarapé-Açu, no nordeste do Pará, onde gerenciava um vasto esquema de tráfico de drogas, extorsões e ataques violentos a estabelecimentos comerciais.
Sob seu comando, a facção dominava a venda de entorpecentes na região, acumulando lucros significativos que eram lavados por meio de depósitos bancários. Além disso, “Burguesa” era responsável pela aquisição de armamento para o grupo, garantindo assim o poderio bélico necessário para enfrentar facções rivais e manter o controle de suas áreas de influência.
A operação que resultou na sua prisão foi um esforço conjunto entre as polícias civis do Pará e de Santa Catarina, evidenciando a importância da colaboração inter-estadual no combate ao crime organizado. Ao longo de um ano, as investigações conduziram à prisão de 81 indivíduos ligados à rede de tráfico comandada por “Burguesa”, enfraquecendo significativamente a estrutura da facção.
Atualmente, “Burguesa” aguarda julgamento no presídio feminino de Joinville, enquanto as autoridades continuam seus esforços para desmantelar as redes criminosas que ainda operam tanto no Pará quanto em outros estados. Este caso não apenas ilustra a crescente influência do crime organizado nas regiões Norte e Nordeste do Brasil mas também ressalta a urgência em adotar medidas eficazes para a repressão dessas atividades ilícitas e a reabilitação dos jovens envolvidos, evitando que mais vidas sejam tragadas pela “universidade do crime”.
Combater organizações criminosas e prevenir a cooptação de jovens por essas facções exige uma abordagem multifacetada que envolva esforços coordenados do governo, da sociedade civil e das famílias. Aqui estão algumas estratégias e dicas práticas:
No âmbito governamental e social
- Políticas Públicas Eficientes: Investir em políticas de segurança pública que priorizem a inteligência e ação coordenada entre diferentes forças de segurança para desmantelar organizações criminosas.
- Educação de Qualidade: Garantir acesso à educação de qualidade como um meio de oferecer perspectivas e oportunidades alternativas aos jovens, reduzindo o apelo das facções.
- Programas de Prevenção: Desenvolver programas sociais voltados para a prevenção, focando em jovens em situação de risco, oferecendo-lhes atividades esportivas, culturais e de lazer que promovam o desenvolvimento pessoal e social.
- Capacitação Profissional: Promover a capacitação profissional e o empreendedorismo entre os jovens, aumentando suas chances de empregabilidade e renda legítima.
- Fortalecimento da Comunidade: Estimular a criação de redes de apoio dentro das comunidades, incluindo o envolvimento de líderes comunitários, escolas e organizações religiosas na proteção dos jovens.
No âmbito familiar
- Diálogo Aberto: Manter um canal de comunicação aberto com os jovens, oferecendo um espaço seguro para expressarem seus sentimentos, dúvidas e preocupações.
- Educação sobre os Riscos: Informar os jovens sobre os perigos associados ao envolvimento com o crime, incluindo as consequências legais e os riscos à sua segurança e futuro.
- Supervisão e Orientação: Supervisionar o uso da internet e das redes sociais pelos jovens, orientando-os sobre como reconhecer e evitar abordagens de recrutamento por facções.
- Valores e Limites: Ensinar valores éticos e morais sólidos, estabelecendo limites claros de comportamento e responsabilidade.
- Apoio e Atenção: Estar atento a mudanças de comportamento, como isolamento, agressividade ou mudanças repentinas de hábitos, que podem indicar influência externa negativa.
Prevenção e intervenção direta
- Programas de Mentoria: Incentivar a participação dos jovens em programas de mentoria, onde possam receber orientação e suporte de adultos de confiança fora do ambiente familiar.
- Acesso a Serviços de Saúde Mental: Fornecer acesso a serviços de aconselhamento e saúde mental para jovens que estejam enfrentando dificuldades emocionais ou comportamentais.
A prevenção do envolvimento de jovens com facções criminosas requer uma abordagem holística que envolva não apenas a repressão ao crime, mas também a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento saudável e seguro dos jovens.
Ao fortalecer os vínculos familiares e comunitários e oferecer alternativas viáveis de desenvolvimento pessoal e profissional, é possível reduzir significativamente o apelo das organizações criminosas.