A fusão de luz e paisagem para semear diálogos e emoção está presente nas obras dos artistas Keyla Sobral e Dirceu Maués expostas na Estação das Docas, em Belém. A exposição pública é uma ação da Bienal das Amazônias, que teve sua primeira edição em Belém entre agosto e novembro do ano passado, com o tema “Bubuia: águas como fonte de imaginações e desejos”, e reuniu 120 artistas e coletivos de oito países da Pan-Amazônia, além da Guiana Francesa. As obras de Keyla Sobral e Dirceu Maués podem ser vistas até 15 de maio.
Com o projeto de intervenção pública “Metade de mim rio a outra nem tanto”, Keyla Sobral apresenta peça em neon de vidro, nas cores verde e vermelha, para áreas interna e externa, respectivamente, que propõem um diálogo entre a palavra e a paisagem. “É um transbordamento. É essa relação rio-floresta. Essa geografia-sentimento. Que palavras são essas? Um rio de metáforas”, diz Keyla.
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A artista explica que a obra é uma expansão contemporânea. “A Bienal é importante porque ajuda a dar visibilidade aos artistas que estão construindo a visualidade amazônica contemporânea, contribuindo assim para debates e reflexões sobre a arte feita na região”, ressalta.
Paraense, a artista visual Keyla Sobral é doutora em Artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Participa, desde o início dos anos 2000, de exposições e projetos no Brasil e no exterior. Sua produção artística aborda a cultura amazônica, na busca do que está invisível ou imperceptível. Nos últimos anos, Keyla tem atuado também em curadoria.
A segunda obra em exposição, “Tambores de luz: [in]versões na paisagem”, de Dirceu Maués, faz parte de uma série de instalações ou intervenções urbanas exibidas desde 2013, em Brasília. “‘[In] versões na paisagem’ foi como denominei os primeiros trabalhos de intervenções com câmeras escuras. Essas intervenções se aproximam da noção de instalações in situ ou site specific, pois propõem um diálogo com a paisagem local, com um ambiente ou com a especificidade de determinados espaços”, explica o artista.
Segundo Dirceu Maués, as obras apresentam recortes específicos da paisagem e são geralmente instaladas em lugares de passagem, “ora aproveitando os limites dos espaços arquitetônicos que definiam uma passagem entre áreas internas e externas ora buscando os limites, nos lugares abertos da cidade, entre espaços de sombra e espaços de luz”.
Cada tambor, explica Dirceu, funciona como uma câmera obscura aberta, na qual é possível visualizar uma imagem projetada em seu interior, sobre um suporte de papel vegetal. Duas peças foram colocadas na entrada da Estação das Docas e a terceira se encontra próxima ao primeiro galpão. “Os múltiplos recortes que as câmeras provocam na paisagem urbana invertem a imagem do mundo. O olhar do fotógrafo, através do dispositivo, encontra par no olhar distraído dos transeuntes, em meio à correria diária de um cotidiano cheio de excessos que entorpecem os sentidos”, afirma Dirceu.
Também paraense, Dirceu Maués começou a fotografar em 1990. Em 1991, participou da oficina da Associação FotoAtiva e iniciou trabalhos como fotógrafo para jornais e revistas. Ganhador de prêmios nacionais e internacionais, em 2003, passou a trabalhar com a técnica pinhole como linguagem estética. Já expôs no Künstlerhaus Bethanien de Berlim (2009-2010) e no Centro Municipal de Fotografia (CMDF) de Montevidéu, no Uruguai.