Acusado de ser membro de um grupo de extermínio que agia na Grande Belém e no interior do Pará, formado por milicianos, o réu Wagner Carvalho, de 39 anos, foi condenado a 21 anos de prisão, em regime fechado, por envolvimento na execução do vendedor ambulante Paulo Coutinho Carvalho, de 25 anos, em abril de 2018.
A juíza Ângela Alice Alves Tuma, presidente do Tribunal do Júri, aplicou a pena por coautoria do homicídio e diminuiu da sentença o tempo que o réu está preso. Wagner Carvalho também responde na cadeia por outro homicídio.
Segundo o processo, o vendedor ambulante foi executado com vários tiros, em abril de 2018, quando estava em um bar, próximo do trapiche de embarcações da rua Siqueira Campos, no bairro da Cidade Velha, em Belém.
Uma testemunha disse no julgamento que os atiradores chegaram em um carro branco, usando coletes, roupas pretas e máscaras e efetuaram nove disparos.
Segundo a testemunha, na ocasião do homicídio, o réu teria dito: “isso é pela cabo Fátima”, referindo-se a uma policial militar assassinada dentro de casa, por homens que roubaram o celular e a arma dela. Para os milicianos, o vendedor seria um dos suspeitos de participar da morte da policial.
A acusação foi sustentada pelo promotor de justiça, Manoel Victor Murrieta, por homicídio qualificado, motivado por vingança e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. A defesa do réu foi feita pelos advogados Carlos Felipe Alves Guimarães e Sthefani Alves, que sustentaram negativa de autoria.
A testemunha disse ainda que o vendedor nunca teve contato com a PM ou envolvimento em ilícitos, por se tratar de um trabalhador que ajudava no sustento da família.
Ela relatou também que a mãe da vítima viu o rosto de um dos executores do filho, que deixou cair uma munição e ao se abaixar teve o rosto exposto. Posteriormente o suspeito foi reconhecido como o réu, Wagner Carvalho.
Amigos e conhecidos da vítima, que estavam próximos, anotaram a placa do veículo que, mesmo adulterada, levou a Polícia Civil à uma locadora de veículos, onde o réu costumava alugar o mesmo veículo.
Por sua vez, o réu disse que trabalhava com segurança privada e que usou o veículo da locadora só uma vez, porque a caminhonete dele estava na oficina.
Envolvimento com milícia e execuções
Wagner Carvalho foi preso pela Polícia Civil em 8 de março de 2019, apontado como falso policial e integrante de um grupo de milicianos envolvido em dezenas de homicídios na Região Metropolitana de Belém e municípios do interior.
A prisão foi realizada no bairro da Campina, distrito de Icoaraci, onde o acusado residia. A polícia informou que ele estava envolvido em vários crimes, como extorsão e assassinatos.
O acusado estava na ocasião com dois mandados de prisão decretados pela Justiça, um de prisão preventiva e outro de prisão temporária. Ele foi preso em uma ação conjunta de policiais civis da Divisão de Homicídios, da Divisão de Crimes Funcionais (Decrif), da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores (DRFVA) – com apoio do Grupo de Pronto-Emprego (GPE) -, e da Delegacia de Polícia Fluvial (DPFlu).
Além dos mandados de prisão foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa do indiciado. Durante as buscas foram encontradas uma pistola Glock, calibre 9 milímetros, uma pistola de pressão; mais de 280 munições de mesmo calibre; fardamento militar; coturnos; dois explosivos; capuz balaclava; colete balístico; alongador de pistola; lacres usados para imobilizar vítimas; quatro placas de veículos; luvas pretas; calças; chapéu; boné escuro; facas; uma mochila rajada e botas que eram usadas pelo preso para se passar por policial civil e policial militar, e assim cometer crimes, além de documentos, um deles falso.
Com ele foi apreendida também uma caminhonete cor prata, de modelo semelhante aos carros descaracterizados usados pela Polícia Civil. O veículo estava em nome da esposa do acusado.
De acordo com a PC, ao menos seis pessoas estavam sendo investigadas por envolvimento com o grupo criminoso que age em várias regiões do Estado. As investigações realizadas pela equipe da Divisão de Assuntos Internos (DAI), da Dcrif, levantaram informações sobre a atuação dos milicianos.
Imagens de câmera de segurança mostraram a atuação dos falsos policiais, que abordavam cidadãos e até pessoas envolvidas em atividades ilícitas, para praticar extorsão, exigindo dinheiro sob a ameaça de que as pessoas seriam presas caso não pagassem o valor exigido.
Além dos mandados de prisão, Wagner foi autuado pela posse ilegal de arma de fogo e por falsa identidade, uma vez que com ele foi apreendida uma carteira de identidade falsa.