Para abastecer os caixas eletrônicos, Afuá, conhecida como ‘Veneza Marajoara’ — a cidade das bicicletas, usa uma espécie de ‘bike-forte’. A adaptação do carro-forte tem viralizado na internet, depois que o criador de conteúdo Rômulo Dias publicou um vídeo mostrando o veículo, na segunda-feira (12).
Afuá tem 133 anos e faz parte do arquipélago paraense do Marajó. O acesso àlocalidade, próxima à foz do rio Amazonas e construída em grande parte sob palafitas, é feito por barco ou táxi aéreo. Desde abril de 1990, a circulação de veículos automotores, como carros e motos, é proibida na cidade.
Por isso, ao longo dos anos, moradores adaptaram as bicicletas nas mais variadas versões para suprir todas as necessidades.Entre as “engenhocas” está o ‘bicitáxi’, que pode ser sobre duas rodas ou três – mas ela não foi criada apenas para transportar passageiros.
Os serviços dos condutores são alugados para levar objetos também.Os abastecimentos dos caixas nas duas agências bancárias de Afuá ocorrem de duas a três vezes ao mês e são acompanhadas por militares para dar apoio à pequena equipe de segurança privada que vem de Belém.
Visitando o 143º dos 144 municípios paraenses em uma espécie de ‘mochilão’ pelo Pará, Rômulo já esperava as peculiaridades de Afuá e destacou a organização do local. Além das ‘bicitáxis’, outras adaptações fazem parte do cotidiano de Afuá, como as ‘bicilâncias’ (ambulâncias do Corpo de Bombeiros), os ‘biciaçougues’ e uma versão dos caminhões de lixo sobre rodas menores.
Por ficar próxima ao rio, em área de várzea, enchentes afetam a região de maneira sazonal. Por isso, a maior parte da cidade fica suspensa em palafitas.O professor Agenor Sarraf lembra que o início do que viria ser Afuá se deu no período da borracha, no final do século XIX e início do XX.
Na região, havia muito seringal, comum em área de várzea.“No auge da economia da borracha, os donos de seringais passam a povoar o território, e os novos moradores passam a trabalhar também com madeira, palmito, e economia de subsistência [pesca, coleta de frutos], e esses novos moradores passam a construir pontes e a abrir caminhos no meio da várzea. […] E à medida que há expansão e crescimento, nasce a necessidade de usar a bicicleta”, diz o professor de história”.