Ismael Moraes – advogado socioambiental *
Nenhum magistrado esteve tanto no gosto popular quanto o juiz de direito Cláudio Rendeiro, não por denúncias de corrupção ou por atos de arbitrariedade (que há pouco tempo faz a fama de alguns por um heroísmo mal disfarçado), enfim.
Isto por que, ao compartilhar, disseminando pelas redes sociais, as impressões do seu personagem caboclo ribeirinho, esse magistrado tornou mais fácil suportar o isolamento social imposto pela Covid-19 em 2020 quando toda semana recebíamos um ou dois áudios com uma piada-crônica do Epaminondas Gustavo.
Nos seus diálogos com uma “parenta”, Epaminondas nos revelava coisas que víamos e não enxergávamos; na sua inocente malícia, criticava nossos comportamentos, nossos vícios; na sua ironia sem maldade, mostrava como os filhos estavam sendo mal-educados, ou como nos tornamos insensíveis diante de tantas pequenas grandes coisas.
Epaminondas/Cláudio era um paradoxo não só por que um magistrado revelava seu alter ego por meio de um folclórico “cabôco”; o simples e o sábio, o ribeirinho e o juiz, o humorista escrachado e a autoridade envolta em formalidades litúrgicas.
Era também contraditório como expunha a alienação de todos nós, absorvidos nas mesmas redes sociais que vulgarizaram as suas críticas sutis, mostrando que, em certa medida, no fundo éramos mais caricatos que o Epaminondas Gustavo, personagem que mostrava as nossas origens.
A crítica de costumes feita com anedotas muitas vezes simples e já conhecidas contava de modo determinante com a interpretação irresistível de Cláudio, e além disso com a criatividade em acrescentar algum ingrediente pinçado de alguma novidade diária e que nos surpreendia.
Infelizmente, perdemos mais uma pessoa de valor para a Covid-19, que através de um humor com bons propósitos tornava as nossas vidas mais leves para suportar o palhaço, sem graça e destrutivo, a antítese do Epaminondas Gustavo.
- Ismael Moraes – Twitter @ismaeladvogado
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