A Policia Federal no Pará abriu inquérito sobre o assassinato do indígena da etnia Turiwara – Edivaldo da Silva – e baleamento de outros dois indígenas da mesma etnia – . por seguranças da empresa Agropalma. O assassinato e ferimentos dos dois indígenas ocorreu no dia 11 de novembro do mês passado, conforme matéria exclusiva divulgada pelo Ver-o-Fato.
O inquérito corre em segredo, mas o Ver-o-Fato apurou que vários depoimentos ja foram tomados, incluindo os indígenas feridos e os funcionários da empresa de segurança.
O prazo para a conclusão do inquérito é de 45 dias, podendo ser prorrogado. “Depois que prestamos depoimento na PF não fomos mais informados sobre nada. “Não sabemos como está esse inquérito e precisamos de informações, mas ninguém dá”, disse um indígena.
De acordo com outro indígena, “até agora a justiça não foi feita no nosso caso. Tivemos nosso irmão morto pelo pessoal da Agropalma , mas ninguém foi preso”. Para outro indígena, que também pede para não ter o nome divulgado, os turiwara não vão desistir de lutar pela área que, segundo ele, foi “tomada na marra” pela empresa para explorar a produção da folha de palma e exportação do óleo de dendê.
O pedido de abertura de inquérito pela PF foi solicitado pela procuradora da República no Pará, Meliza Alves.
ENTENDA O CASO
O índio Agnaldo, da etnia Turiwara, foi assassinado a tiros ao amanhecer desta sexta-feira (10), dentro das terras que a empresa Agropalma diz ser dona, na divisa dos municípios do Acará com Tailândia, na região do Baixo Tocantins, nordeste paraense. Outro índio, Jonas, escapou de morrer por pouco, mas foi ferido na cabeça, perto de um dos olhos.
Um terceiro índio, José Luís, levou um tiro no peito, mas foi salvo pelo medalhão do cordão que usava, que amorteceu o impacto da bala. Os três faziam parte de um grupo de indígenas que sofreu uma emboscada no Vale do Acará, onde a Agropalma tem plantações de dendê, por volta de 5 horas da manhã de sexta.
A comunicação social do Ministério Público Federal (MPF) no Pará informou ao Ver-o-Fato que assim que tomou conhecimento da morte e baleamento dos indígenas, a procuradora da República, Meliza Alves Barbosa Pessoa requisitou à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar o caso.
Os índios seguiam em suas motos por uma antiga trilha, na direção da floresta, em busca de alimentos, como caça e pesca. As informações foram repassadas ao Ver-o-Fato por um líder indígena que testemunhou o ataque.
Segundo ele, a Polícia Militar e a Polícia Civil se negaram a prestar apoio aos indígenas, alegando que não poderiam entrar nas terras da empresa sem autorização. A Agropalma, por sua vez, teria mentido para os policiais por seus seguranças.
“Depois que a Agropalma proibiu a caça e a pesca que serviam para o nosso sustento, dizendo ser dona das terras onde nós vivemos, reunimos um grupo de cerca de 50 indígenas e seguimos por uma antiga trilha, a caminho da mata, em busca de comida”
“No meio da estrada – prossegue o indígena- apareceu uma caminhonete com cinco seguranças, que disseram ser policiais, desceram armados e jogaram gás lacrimogêneo. No meio da confusão que se formou, eles começaram a atirar em cima da gente, matando o Agnaldo e ferindo o Jonas e o Zé Luís”, disse o líder indígena ao Ver-o-Fato.
Danos e roubo
Segundo o líder, os seguranças danificaram as motos dos índios e ainda roubaram o telefone celular do indígena morto. Depois do ataque, outros seguranças chegaram e fecharam a estrada, deixando o grupo indígena encurralado até o anoitecer, sem socorro, comida ou água, afirmou.
“Somente quando anoiteceu é que eu conseguiu sair do cerco feito pelos seguranças e andei pela mata até chegar na vila Forquilha, por volta de 23 horas, onde pedi ajuda. Mandaram uma ambulância para o local, mas os seguranças da Agropalma não deixaram entrar e disseram que não havia ninguém ferido ou morto”, disse o líder.
Da vila Forquilha, o líder indígena seguiu de carona para a vila Palmares, onde procurou a unidade da Polícia Militar. Uma viatura seguiu para o local apontado, mas novamente os seguranças disseram que não havia ocorrido nada de anormal e a PM desistiu de entrar na área.
Na Delegacia da Polícia Civil local, depois de muita insistência, a autoridade policial providenciou a remoção do corpo do índio Agnaldo para o Instituto Médico Legal de Tucuruí. A liderança indígena disse por último que não sabe se foi aberto inquérito para apurar os fatos.
Com a palavra, a Agropalma
O Ver-o-Fato procurou a Agropalma – assessoria da empresa em São Paulo – para ouvir a versão da empresa sobre os crimes denunciados pelos indígenas. Ainda não obtivemos contato. O espaço está aberto à manifestação.
Atualização às 8h02
A assessoria de imprensa da Agropalma enviou ao Ver-o-Fato a seguinte nota:
“COMUNICADO À IMPRENSA: A Agropalma está aguardando a investigação dos fatos pelos órgãos competentes. A empresa se coloca à disposição das autoridades e irá colaborar com a elucidação dos acontecimentos”.