Mais de um ano depois do assassinato do comerciante Gelquias Albuquerque Rocha de Souza, o “Gel”, de 31 anos, morto com três tiros de fuzil nas costas e um na cabeça, disparados pelo major da Polícia Militar, Denison Carlos Vieira Ribeiro, o inquérito policial instaurado pela Delegacia de Crimes Funcionais da Polícia Civil do Pará ainda não foi concluído.
O crime ocorreu na madrugada de 25 de outubro de 2021, na frente da casa da vítima, na Rua João Alfredo, Bairro Centro, em Mocajuba, na Região do Baixo Tocantins, nordeste paraense. De acordo com o inquérito, o comerciante promovia uma festa de aniversário em casa e um dos convidados, armado, começou uma confusão que provocou a intervenção do major.
Ao ver um dos homens armados, o major Carlos, que era vizinho da vítima, disparou de dentro de sua residência cerca de oito tiros de fuzil na direção da casa onde a festa era realizada, acertando quatro tiros no comerciante, que morreu na hora.
Agora, decorrido todo esse tempo, a família do comerciante pede mais agilidade ao processo para que o major seja julgado pelo Tribunal do Júri. “Não vamos desistir até que a justiça seja feita”, disse um parente de “Gel” em mensagem enviada ao Ver-o-Fato.
Segundo familiares do comerciante assassinado, a investigação ainda está cercada de inúmeras dúvidas e travada por questões técnicas que se arrastam por meses.
Várias testemunhas já foram ouvidas, vídeos de câmeras de segurança foram anexadas ao processo, o laudo da Policia Técnica já foi concluído – constatando que o comerciante levou quatro tiros de fuzil – mas o inquérito ainda não foi concluído e encaminhado para julgamento.
Na época, o crime teve grande repercussão na cidade, devido ao fato do major da PM possuir dentro de sua casa um armamento de tão alto calibre, como se estivesse se preparando para um confronto.
Relembre o caso
O fato, ocorrido na madrugada de 25 de outubro 2021, provocou grande indignação popular na cidade de Mocajuba, onde a vítima, Gelquias Albuquerque Rocha de Souza, era muito conhecida e não tinha antecedentes criminais. A Polícia Civil loca fez a abertura do inquérito para apurar o caso, inicialmente como homicídio, mas depois o inquérito seguiu para a Delegacia de Crimes Funcionais (Decrif).
O autor dos tiros, o major Carlos, destacado no 32º Batalhão da Polícia Militar, atirou de dentro de sua casa em direção à casa da vítima. O major disse em seu depoimento que dormia em casa, quando acordou com o barulho de disparos de arma de fogo e, como estava chovendo, rastejou pela casa e pegou seu fuzil para ver o que estava acontecendo. Conforme o depoimento, o oficial da PM viu a vítima apontando um revólver para outro homem e atirou.
O homem citado pelo major, que estaria sendo ameaçado pela vítima, era o convidado de “Gel”, Daniel Ramos Fernandes, o “Piuí”. Ele disse que estava armado na festa, com um revólver calibre 38 antigo, e que realmente atirou para cima, de “brincadeira”, após um discussão com o dono da festa.
Segundo “Piuí”, no meio da discussão, ele atirou outra vez para o alto e em seguida entregou a arma para “Gel” guardar. Quando os dois caminhavam para a casa de “Piuí”, conforme disse, começaram os disparos de fuzil, momento em que ele viu que era o major quem estava atirando, sem antes falar qualquer coisa.
No momento que ouviu os tiros, a vítima levantou as mãos para cima, provavelmente em sinal de rendição, mas foi atingida por quatro balas, indo a óbito no local. “Piuí” disse por fim que em nenhum momento apontou a arma para “Gel”, nem o comerciante apontou a arma para ele.