A cada 11 minutos, uma mulher é diagnosticada com câncer de mama, no Brasil. De acordo com a estimativa do INCA, o número de novos casos registrados no País – 66.280 a cada ano do triênio 2020-2022 – corresponde a quase 30% dos tumores em mulheres (sem considerar o câncer de pele não melanoma). Na mortalidade proporcional por câncer em mulheres, os óbitos por câncer de mama ocupam o primeiro lugar no Brasil, representando 16% do total de mortes.
A doença atinge, principalmente, mulheres acima dos 50 anos, mas o aumento da incidência entre mulheres jovens, abaixo de 35 anos, vem chamando a atenção. Nos últimos dois anos, chegou a cerca de 5% dos casos. Historicamente, era de apenas 2%, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). O aumento da incidência em mulheres jovens é preocupante por algumas razões.
Só existe protocolo de rastreamento (medidas que devem ser tomadas mesmo sem sintomas) para mulheres a partir dos 40 anos. A SBM recomenda a mamografia e a consulta com o especialista anualmente. As pesquisas comprovam que esse rastreamento é capaz de salvar vidas, pois assegura o diagnóstico precoce, quando as chances de cura são superiores a 90%.
Como o rastreamento não é indicado para mulheres com menos de 40 anos, é necessário focar em outras ações. O estudo Amazona, que envolveu pesquisadores de 19 instituições públicas e privadas, mostra que 70% das brasileiras com menos de 35 anos recebem o diagnóstico de câncer de mama nos estágios 2 ou 3, quando as chances de cura e de um tratamento menos agressivo são menores.
“Apesar de as mulheres jovens serem minoria – apesar do crescimento da incidência – não podemos esquecer de que elas têm chances muito maiores de o tumor ser mais agressivo, quando têm câncer na faixa dos 30 anos. Isso significa que elas terão necessidade de fazer um tratamento com mais quimioterápicos, cirurgias maiores e também possuem maiores chances de ter um tumor na outra mama”, destaca o mastologista Fábio Botelho, do Centro de Tratamento Oncológico.
Nesse cenário, a atenção à prevenção primária ganha ainda maior relevância, pois o tipo de prevenção que favorece as mulheres mais jovens é a prevenção primária, que é sinônimo de estilo de vida saudável. Elas precisam saber que alimentação saudável, exercícios físicos regulares e o corte do consumo de bebida alcoólica são medidas que previnem câncer de mama. Muitas pesquisas já comprovaram que obesidade e álcool, por exemplo, aumentam as chances de a mulher ter câncer de mama.
“As políticas públicas em saúde precisam ser fortemente direcionadas para a prevenção. Precisamos de campanhas sobre medidas preventivas que devem ser tomadas por mulheres com mais de 40 anos, que é a chamada prevenção secundária, que assegura o diagnóstico precoce; e de campanhas que falem de medidas de prevenção primária. Ou seja, de estilo de vida saudável. Isso é fundamental para as mulheres jovens. Se elas se alimentam bem, fazem exercícios físicos regularmente e não consomem álcool, por exemplo, as chances de terem câncer de mama já reduzem consideravelmente”, assegura o médico Fábio Botelho.
PERSONAGEM
A fisioterapeuta Karina Coroa é um exemplo de como pode ser agressivo o câncer de mama em mulheres jovens. Ela foi diagnosticada com 38 anos. Karina considera que teve uma “inspiração divina”, mas, mesmo assim, a doença já foi descoberta no estágio 3, que é considerado avançado.
Ainda com 35 anos, Karina pediu para a ginecologista incluir nos exames de rotina o rastreamento para o câncer de mama, mesmo estando fora da faixa etária recomendada para isso. “Acredito muito em Deus e Ele me inspirou. Graças a isso, pude ter o diagnóstico logo”, lembra. “Já tinha feito a mamografia e ultrassom das mamas por dois anos. Em maio de 2019, senti uma dor na mama esquerda e conversei com minha médica para repetir os exames. Ela não achou necessário, porque havia feito o rastreamento em novembro de 2018, e não havia alterações. Mas insisti, e descobrimos um tumor em estágio 3. Era um nódulo perceptível ao toque e de crescimento acelerado”, conta Karina.
Ela fez quimioterapia de setembro de 2019 a fevereiro de 2020, seguida de cirurgia para a retirada total da mama esquerda e de radioterapia, até agosto de 2020. Agora, Karina continua o tratamento com medicação oral. “Foi um tempo bem difícil, porque tive que enfrentar o câncer durante a pandemia, mas não deixei de fazer o tratamento”, lembra. “Estava fraca fisicamente, mas voltei a trabalhar durante a radioterapia. Ver as crianças que eu atendia melhorando também me fortalecia”, afirma Karina, que é fisioterapeuta e trabalha com crianças com paralisia cerebral. “Depois que passamos por dificuldades, o grande propósito é ajudar aos outros”, conclui.
O diagnóstico do câncer fez com que Karina se tornasse uma mulher ainda mais prevenida. Hábitos mais saudáveis com a alimentação e a prática de atividades físicas foram incorporados à rotina dela e da família, bem como o acompanhamento médico regular e exames preventivos. “Minha irmã Renata, de 43 anos, não se preocupava com isso, agora faz a mamografia e se cuida. Minha filha Milena tem apenas 15 anos, mas já começou a fazer os preventivos para cânceres ginecológicos”, destaca.
Pacientes como Karina têm indicação de fazer um estudo genético, pois é possível que o câncer seja causado por uma mutação no DNA da própria paciente ou por hereditariedade. Por isso, o estudo é indicado também para familiares em primeiro grau, como mãe, irmãs e tias, para verificar o risco para a doença. Não é o caso da família de Karina, mas entre 5 a 10% dos cânceres de mama são hereditários. Mulheres com histórico de câncer de mama na família ou outros tipos de câncer (ginecológicos, em especial) podem ter indicações diferenciadas de prevenção.
CAUSAS
Preocupados com esse aumento significativo de casos em mulheres jovens, os especialistas explicam que ainda não há estudos que apontem os motivos com exatidão, mas a hipótese mais provável está relacionada ao estilo de vida moderno.
“Temos boas razões para supor que o atual estilo de vida das brasileiras é decisivo para esse crescimento do câncer de mama entre mulheres mais jovens. Hoje, elas têm um menor número de filhos; optam, geralmente, por uma gestação depois dos 30, 35 anos; possuem, muitas vezes, uma rotina estressante, com dificuldades para ter uma boa alimentação e prática regular de atividade física; além do consumo de álcool, hábito crescente entre as mulheres. Tudo isso tem relação direta com o câncer de mama”, explica o mastologista Fábio Botelho, que finaliza: “Precisamos nos dedicar a alertar as mulheres mais jovens sobre a importância da prevenção primária para combater o câncer de mama”.