Seria o melhor dos mundos se o artigo do final de semana fosse um compilado de alegrias, mas a realidade tem sido muito mais dura a cada dia, impossível ignorar. Ao contrário, necessário encará-la de frente, analisá-la, para daí tirar as lições e as alternativas cabíveis para inverter o jogo.
A democracia brasileira é um advento recente, muito há que se discutir sobre uma plena democracia, contudo, tornou-se premente a defesa desta com todas as suas limitações, esse país já viveu o obscurantismo do regime autoritário, não voltaremos a esse tempo. Essa reflexão inicial é para defender que numa sociedade democrática é possível conviver com posições políticas, partidárias, diferentes. Que o ato de assassinar alguém somente por defender uma posição diferente, um candidato diferente, é o fim da linha.
O assassinato do tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu – Marcelo Arruda -, em plena festa de aniversário, com várias testemunhas, esposa e na frente dos filhos, é consequência da narrativa construída por aqueles que hoje têm muito poder, é chocante saber que há muita naturalização nesse ato criminoso, ainda mais pelo o quê motivou o policial que matou Marcelo.
Em 2018 a violência política matou Marielle Franco, mestre Moa e tantos mais em todos esses anos, agora o companheiro do PT, mas Dom Phillips e Bruno Pereira também é consequência dessa atmosfera de liberdade total aos inimigos da democracia e da defesa dos direitos. Foi um crime político realizado por um policial, apoiador de Bolsonaro, deve ser enquadrado dessa forma, tanto que o presidente da República e o Mourão, em declaração, ignoraram esse elemento e este ainda afirmou: “briga de gente que bebe”.
Que haja rigor nas investigações, se Jorge José Guaranho conseguir sair da UTI seja devidamente preso, e Bolsonaro, finalmente, seja responsabilizado por discurso de ódio e incitação à violência, como fez, inclusive, na Marcha para Jesus.
A democracia é incompatível com o projeto bolsonarista. É urgente esse país voltar a respirar. Esse bárbaro caso deve acender o alerta para que as organizações políticas, partidos e movimentos sociais, discutam com seriedade a segurança de seus militantes, não podemos recuar, o medo é natural, mas não pode paralisar a tomada das ruas e das redes numa gigante pororoca de esperança e resistência, mais do que nunca derrotar nas urnas a principal cara pública do fascismo, é urgente. Sabendo que a tarefa não acabará dia 02 de outubro, a classe trabalhadora precisará continuar mobilizada, organizada para derrotar o projeto fascista.
Ainda sobre barbárie, no domingo dia 10 de julho, o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, foi flagrado estuprando uma paciente no meio de uma cesárea. Qualquer pessoa com o mínimo de humanidade passou mal assistindo o vídeo, mas esse tenebroso caso será mais bem analisado no próximo artigo, visto a complexidade e temas que se entrecruzam. Resumindo: nós mulheres não temos um dia de paz.
- Gizelle Freitas é Assistente Social e Mestra em Serviço Social pela UFPA. Especialista na Lei 10.639/03 que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. Militante feminista antirracista.