A violência e o aumento da criminalidade no Pará sempre foram bandeiras políticas de opositores dos governantes de plantão. O exemplo mais notório foi o da eleição de 2014 para o governo. Helder Barbalho (MDB), então ferrenho crítico da gestão de Simão Jatene, usou e abusou dos veículos de comunicação dos quais é um dos proprietários, na condição de herdeiro – RBA, Diário do Pará, rádios e outras TVs pelo interior do estado – para atacar diariamente o adversário.
Os números da violência eram exibidos a toda hora. Helder perdeu a eleição, Jatene se reelegeu. E já no dia seguinte à posse do então tucano reeleito, o bombardeio midiático dos Barbalho retomou com a fúria de sempre, mostrando um Pará devastado por homicídios, estupros, execuções, atuação de milícias e morte de policiais civis e militares. Foram mais quatro anos de ataques, até que Helder conseguiu chegar onde queria: o poder. Choveram promessas dele em reduzir drasticamente os números do governo anterior que eram altos, sim.
Eleito governador, eis que a violência exibida no governo do rival, sobretudo os crimes violentos, tiveram uma significativa redução no noticiário dos veículos pertencentes ao governador. É como se, num passe de mágica, apenas pelo fato de Helder ter assumido as rédeas do estado, automaticamente os índices da criminalidade tivessem despencado.
Não era a realidade: a violência continuava em alta, até maior do que antes, mas a manipulação dos números e uma forte propaganda nos veículos da velha imprensa e de novos “cristãos” convertidos às verbas publicitárias oficiais, passaram a negar o que estava diante dos olhos da população. Nada havia mudado e as promessas feitas durante a campanha eleitoral caíram no esquecimento, inclusive do próprio governador, por óbvia conveniência.
Único a não entrar nesse oba-oba, o Ver-o-Fato, em seu noticiário cotidiano, observou que a criminalidade começava a subir a níveis assustadores e o reflexo disso estava no medo e nas queixas da população. Assaltos, roubos, mortes violentas, estupros de mulheres e crianças, subiram de maneira a demonstrar o descontrole da segurança pública, apesar dos investimentos de Helder em armamentos e na admissão de mais policiais militares.
Ainda, sem investimentos maiores na inteligência policial, a violência continuou, como continua, a subir. Hoje, a propaganda do governo caiu no descrédito. O paraense não tem sossego em lugar algum. O medo está em toda parte. Os crimes se sucedem. Enfim, não dá mais para o governo mentir e manipular números.
Banhada em sangue
Helder vai para uma reeleição banhada em sangue. Para completar, mais uma vez seus índices de queda da criminalidade são desmentidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que escancarou ontem, em publicação repercutida em todo o país, os números da violência no Pará. Tudo o que Helder não queria ler. Obviamente, os veículos de comunicação do governador não publicam a informação verdadeira e distorcem os resultados divulgados, tentando minimizá-los. A violência caiu em vários estados brasileiros, menos no Pará.
Para começar, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que dentre as 30 cidades mais violentas do país, 13 estão localizadas na Amazônia, 7 delas no Pará governado por Helder. Os números têm como base os casos registrados entre 2019 e 2021. Reúnem homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes por intervenção policial.
Para se ter uma ideia, o segundo município mais violento do país – São João do Jaguaribe, no Ceará, lidera – é Jacareacanga, no oeste do Pará. Com aproximadamente 7.000 habitantes, Jacareacanga tem um altíssimo índice de Mortes Violentas Intencionais (MVI) de 199,2 por 100 mil habitantes. As informações que chegam desse município revelam que ele foi alijado de investimentos em segurança pública pelo governo de Barbalho.
Floresta do Araguaia, no sul do Pará, é o sexto município que apresenta mais mortes violentas no país, com 133 por cada 100 mil habitantes. O município possui 20.742 habitantes. Em seguida, em 16º lugar no país, aparece Cumaru do Norte, também no sul paraense, de 14.044 habitantes, com 113,2 mortes violentas; Senador José Porfírio, com 11.305 habitantes e 109,8; Anapu, no sudoeste, 29.312 habitantes e 107,1; Novo Progresso, 25.769 habitantes e 106.1; além de Bannach, no sul, com 3.239 e 101.8 mortes violentas. (Veja abaixo, no final da matéria, a lista completa dos 30 municípios com mais mortes violentas no país)
Segurança precária
Como se pode ver, os setes municípios possuem baixos índices populacionais, quase irrisórios, mas violência extremada, com assassinatos brutais que chocam os moradores. Quem conhece o Pará sabe que o policiamento nessas cidades, como em outras na grande maioria dos 144 municípios, é baixo e se resume a uma delegacia onde às vezes nem delegado existe.
O contingente de policiais militares é feito por cerca de uma dúzia de homens que se viram como podem para garantir a “segurança” da população. Não há viaturas e alguns fazem o policiamento de moto. Até o número do telefone fixo dessas localidades é de difícil contato, principalmente o da polícia. Isso, porém, não aparece na propaganda massiva do governo Helder, que usa o slogan “presente” onde está totalmente ausente.
Os números do Fórum de Segurança Pública de 2021 apresentam queda de 6% do número de mortes violentas, tendência já observada desde 2018. A redução dos crimes, porém, se deu de forma irregular pelo país. A região Norte, por exemplo, foi a única onde o índice, em movimento contrário, cresceu. Esses números negativos foram puxados pelo Pará.
Detalhe: não estamos tratando dos crimes brutais em 2022, cujos números, pelas notificações da polícia, subiram de forma acentuada. Outros municípios, como Tucuruí, Altamira, Marabá e Parauapebas, registram diariamente novos casos, muitos sem autores presos. No caso das ações de milícias e de organizações ligadas ao tráfico de drogas, os números também estão altos.
Na região Norte houve um aumento de 9% nas mortes violentas, com uma taxa de 33,3 casos para cada 100 mil habitantes. É a segunda maior taxa entre todas as regiões, ficando atrás apenas do Nordeste (35,5).
AS 30 CIDADES MAIS VIOLENTAS DO PAÍS
Município | Pop. (2021) | Tipologia | Taxa média de MVI* |
1º) São João do Jaguaribe (CE) | 7557 | Rural | 224.0 |
2º) Jacareacanga (PA) | 6952 | Rural | 199,2 |
3º) Aurelino Leal (BA) | 11079 | Intermediário | 144,2 |
4º) Santa Luzia D’Oeste (RO) | 5942 | Rural | 139,0 |
5º) São Felipe D’Oeste (RO) | 4962 | Rural | 138,3 |
6º) Floresta do Araguaia (PA) | 20742 | Rural | 133,0 |
7º) Umarizal (RN) | 10485 | Intermediário | 123,6 |
8º) Guaiúba (CE) | 26508 | Intermediário | 121,8 |
9º) Jussari (BA) | 5706 | Rural | 120,9 |
10º) Aripuanã (MT) | 23067 | Intermediário | 120,2 |
11º) Rodolfo Fernandes (RN) | 4457 | Intermediário | 119,6 |
12º) Extremoz (RN) | 29282 | Urbano | 118,7 |
13º) Chorozinho (CE) | 20286 | Rural | 118,4 |
14º) Japurá (AM) | 1755 | Rural | 114,0 |
15º) Japi (RN) | 4935 | Intermediário | 113,3 |
16º) Cumaru do Norte (PA) | 14044 | Rural | 113,2 |
17º) Tibau | 4173 | Rural | 112,6 |
18º) Itaju do Colônia (BA) | 6515 | Rural | 111,0 |
19º) Glória D’Oeste (MT) | 2990 | Rural | 110,8 |
20º) Senador José Porfírio (PA) | 11305 | Rural | 109,8 |
21º) Ilha das Flores (SE) | 8522 | Rural | 109,5 |
22º) Junco do Maranhão (MA) | 4334 | Rural | 107,2 |
23º) Anapu (PA) | 29312 | Rural | 107,1 |
24º) S. José da Coroa Grande (PE) | 21868 | Urbano | 106,5 |
25º) Novo Progresso (PA) | 25769 | Intermediário | 106,1 |
26º) Wenceslau Guimarães (BA) | 20862 | Rural | 103,3 |
27º) Ibicuitinga (BA) | 12730 | Rural | 102,7 |
28º) Santa Cruz Cabrália (BA) | 28058 | Intermediário | 102,6 |
29º) Ilha de Itamaracá (PE) | 27076 | Urbano | 102,5 |
30º) Bannach (PA) | 3239 | Rural | 101,8 |
Fonte: Fórum Nacional de Segurança Pública 2019/ 2021