Parece que o governo federal conseguiu fechar a conta do pagamento do Auxílio Brasil, o programa social que será o substituto do Bolsa Família. O programa é fundamental em um momento no qual a fome campeia no nosso país. Levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) diz que quase 20 milhões de brasileiros sofrem com a fome. Isso representa 10% da população brasileira. No geral, a insegurança alimentar leve ou moderada atinge 116 milhões de brasileiros, em grande parte, por causa dos efeitos da pandemia de covid-19 na economia, com destaque para as regiões Norte e Nordeste.
Por tudo isso, é fundamental a existência de um auxílio emergencial ou a sua substituição por um programa com a mesma finalidade, que é o de apoiar os brasileiros a superar esse momento difícil. É o que todas as grandes economias fizeram ao redor do mundo. Dezenas de países usaram políticas de transferência de renda para superar os impactos diretos da pandemia. O problema foi e é a desorganização e a falta de planejamento do governo Bolsonaro e do seu ministro “posto Ipiranga”, Paulo Guedes, que ameaça implodir de vez a economia e pavimentar o caminho para a volta da inflação, um cenário dramático para se somar ao desemprego gritante e a perda de credibilidade, que poderá levar o Brasil ao caos
A solução encontrada pelo governo foi a implosão do teto de gastos, o mecanismo criado durante o governo Temer para contar a gastança desenfreada, a contabilidade criativa e as pedaladas dos governos anteriores, notadamente de sua antecessora, Dilma Rousseff. Bolsonaro “dilmou” ao atender os apelos da ala política do governo, sobretudo os aliados do centrão, que tem olhos apenas para os cofres do governo e para o resultado das urnas no próximo ano.
Ao furar o teto de gastos, o governo concedeu a si próprio o direito de gastar mais 83,6 bilhões em 2022. Com isso, está viabilizando o Auxílio Brasil no valor de 400 reais, considerado fundamental para que Bolsonaro tenha alguma chance de reeleição. A “pedalada” foi dada na mudança da fórmula do teto, que alargou o espaço fiscal do governo, dentro do parecer apresentado para a PEC dos Precatórios, que está em tramitação.
Esse dinheiro extra não surge em um passe de mágica, é resultado do estouro dos gastos públicos, que provoca ainda mais inflação, impulsiona a disparada do dólar e do custo de vida. A recuperação da economia segue a passos trôpegos. Diante da derrocada do teto de gastos e da rendição de Paulo Guedes, que era o fiador da política fiscal, parte de sua equipe também decidiu entregar o boné. Pediram exoneração quatro dos principais assessores da equipe de Guedes, entre eles o secretário de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal; o do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt. Como era de se esperar, o dólar disparou e a bolsa caiu.
Governado pelo Centrão, Bolsonaro caminha a passos largos para destruição da economia, quando poderia, por exemplo, enxugar a máquina, cortar gastos e retirar recursos das emendas de relator, um total de 30 bilhões, que estão à disposição desses parlamentares em uma caixa preta e que poderiam ser destinados ao auxílio de até 400 reais, sem quebrar a regra fiscal. Sem isso, a inflação ameaça corroer todo e qualquer aumento da renda dos brasileiros, sobretudo os mais pobres, que sobrevivem com o mínimo de condições.