Quando saiu da Baía de Tóquio sem um lugar no pódio olímpico pela primeira vez na carreira (ficou em quarto no C2 1.000m, em duplas), Isaquias Queiroz foi às lágrimas e avisou: “Não quero sair daqui sem o ouro”. O canoísta é conhecido tanto por seu talento quanto pelas frases de impacto. Mas não é de jogar palavras ao vento. Ontem, elas se materializaram em medalha. A quarta em apenas duas Olimpíadas. E não uma qualquer. Foi a prometida e tão sonhada de ouro.
Ela foi conquistada numa final impecável. O canoísta já saiu no pelotão da frente, disputou a ponta com o chinês Hao Liu até a marca dos 750 metros e, no trecho final, disparou sem dar chances aos rivais. Concluiu o trajeto em 4m04s408. O asiático ficou com a prata (4m05s724). O bronze foi para Serghei Tarnovschi, da Moldávia, que remou em 4m06s069.
— Gente, estou meio aéreo ainda. É diferente ganhar a medalha de ouro. Estou tão feliz. Mais ainda por estar deixando vocês do Brasil felizes com essa medalha que eu prometi e fui atrás — disse o canoísta, que ainda dedicou medalha a sua família e a todas as dos brasileiros vítimas da Covid-19 ao longo de mais de um ano.
— (Quero) Dedicar a vitoria às famílias brasileiras. Que perderam tanta gente para a Covid. Vários familiares morrendo. Dedico a cada uma dessas famílias que perderam entes queridos.
Isaquias nunca negou a ambição de subir mais alguns degraus na galeria dos maiores medalhistas olímpicos do Brasil. E conseguiu. Agora, pertence a um grupo ainda mais seleto. Além dele, somente Gustavo Borges, na natação, e Serginho, do vôlei, também possuem uma prateleira com quatro medalhas.
Com 27 anos, o baiano ainda pode almejar mais em Paris-2024. Colecionador de medalhas por natureza, pode chegar às mesmas cinco de Robert Scheidt e Torben Grael.
Mas a medalha conquistada em Tóquio não atende apenas a ambições de projeção na carreira. Nos últimos três anos, Isaquias sempre reforçou que buscava a medalha para dedicar a Jesús Morlán, seu ex-treinador morto no fim de 2018 em decorrência de um câncer.
O sonho do brasileiro era conquistar dois pódios para que, de forma simbólica, o ex-técnico espanhol chegasse às dez medalhas (seu currículo já continha três com Isaquias e cinco com o atleta espanhol David Cal).
— A gente veio com o objetivo de ganhar a medalha para o Jesus. Não alcançamos a décima, mas realizamos o sonho que ele queria de me fazer campeão olímpico — afirmou o baiano, acompanhado de seu atual técnico Lauro de Souza Junior, o Pinda, que usava uma camisa com os dizeres “Suso Morlán, o ouro é seu” e também foi homenageado pelo canoísta.
— Ele fez o que muita gente não acreditava, seguir trabalho do Jesus. Hoje ele demonstrou que não só era capaz disso como também de me botar no pódio.
Desde o início da disputa, na quinta-feira, Isaquias já tinha mostrado o quão pronto ele estava para alcançar este feito. Nas eliminatórias, fez o melhor tempo dentre todos os participantes: 3m59s894, pouco menos que dois segundos à frente do tcheco Martin Fuksa, filho de Petr Fuksa, ex-atleta da modalidade e dono de 11 medalhas em Mundiais no currículo. Fonte: O Globo.
Veja a prova e o ouro de Isaquias: