No Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém do Pará, há uma médica que celebra e enaltece o papel de ser mãe. Fabíola Puty é daquelas mulheres, mãe, dona de uma história com capacidade infinita para emocionar alguém. Mergulhar nesse universo particular é conhecer uma relação dedicada, com forte espírito de abnegação e uma especial jornada no exercício de ser mãe ao se desdobrar para o cuidado dos seus e de outros “filhos” que precisam de afetos e cuidados especiais.
Há 17 anos ela dedica suas energias e afetos à oncologia pediátrica, dos quais cinco têm sido no Hospital Oncológico Infantil, administrado pela entidade filantrópica Pró-Saúde. O hospital atende a crianças e adolescentes de municípios do Pará e Amapá. É o maior do Sistema Único de Saúde (SUS) com atendimento voltado exclusivamente ao diagnóstico e tratamento especializado do câncer infantojuvenil.
Fabíola Puty revela que a escolha pela especialidade pediátrica foi pensando em atuar na oncologia infantil. “Fiz pediatria com o propósito de trabalhar com pacientes oncológicos. O interessante é que a oncologia toma o profissional de um jeito tão forte que não tem mais volta. É um amor irreversível, a agente acaba escolhendo estar nessa área todos os dias da nossa vida”, disse.
A médica tem uma rotina de trabalho de 12 horas por dia e só vê os filhos à noite, quando sempre procura estar disponível exclusivamente para eles. “É muito difícil não estar presente, mas tento marcar presença, mesmo distante”, observa.
Ela revela que em todos os aspectos que compõem o seu universo de trato profissional com as crianças sempre se depara com relações honestas, profundas e muito ricas. “São essas relações que me atraem e as levo para minha vida pessoal, no convívio com os meus dois filhos”, afirma.
Em 2015, Fabíola ficou grávida de gêmeos, sendo sua única gestação, e durante todo o período da gravidez não apresentou complicação alguma. Mas, após o parto, ficou sabendo que as crianças nasceram com microcefalia (má formação cerebral), provocada por um vírus conhecido como citomegalovírus, o mesmo que causa a catapora e outras doenças.
Atualmente, seus filhos estão com 5 anos de idade; um menino e uma menina, eles têm um quadro instalado de paralisia cerebral no nível mais avançado, no que dependem inteiramente de alguém para qualquer atividade.
“Enquanto mãe, eles me dão a sensação de que estamos aqui por uma razão especial. Depois que eles nasceram eu me espiritualizei ainda mais e hoje tenho muito mais condições afetivas, emocionais e psicológicas para lidar com essa situação toda e com isso tive um ganho para saber lidar com os desafios da minha profissão”.
A existência dos filhos com necessidades específicas provocou mudança na vida da médica. “Eles vieram como uma alavanca de desenvolvimento e expansão incrível na minha vida. Tenho um sentimento, além do amor maternal, impossível de medir; tenho gratidão por eles existirem, pois me trazem a noção do pouco controle que temos da vida e me ensinam que posso experimentar a alegria mesmo em condições adversas. É aprendizado que não tem dinheiro neste mundo que pague”, pontuou ela.
Mãe solo, Fabíola cria os filhos sozinha, o pai mora em São Paulo. Mas, para encarar o desafio imposto pela criação, ela conta com a força de um grande grupo de cuidadores, que considera sua família, os quais foram escolhidos com todo o cuidado, pois os requisitos eram estar dispostos e alegres no cuidar dos filhos. “Tento dar todo apoio e ter muita conversa para que esses profissionais estejam bem, para oferecerem o melhor cuidado aos meus filhos”.
“Hoje posso dizer que a minha história é experimentar, mesmo dentro da dor, a beleza do que a vida tem e tenho o prazer de viver o hoje. Isso é algo que está incorporado na minha vida, mas foi a junção da maternidade com a prática profissional que me trouxe isso”, finaliza a médica em tom de reflexão. (Texto, Ascom do Hospital Octávio Lobo)
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