Gabriella Florenzano – Artista
Desde que eu me entendo por gente, o espaço sideral me fascina. Quando era criança, dizia que queria ser astronauta. Quando descobri as habilidades necessárias em disciplinas como a física, a matemática e a química para me tornar uma, resolvi ser artista e andar com a cabeça na lua. De uma forma ou de outra, não tenho qualquer lembrança de um dia ter duvidado da existência de vidas além das que habitam este nosso minúsculo planeta em uma galáxia muito, muito distante.
Não sei que fim levou a minha coleção de revistas UFO (que é brasileira e a mais antiga do mundo sobre o assunto!) compradas religiosamente na Banca do Alvino pelo começo da minha aborrescência, quando comecei a trocar a Turma da Mônica por publicações de ufologia, de bandas como o Iron Maiden, o Black Sabbath e os Hanson (assim mesmo, bem eclética).
Porém lembro muitíssimo bem do fascínio que senti quando, numa das noitadas em que minha mãe e meu padrasto costumavam receber os amigos em casa, o saudoso Walcyr Monteiro me contou que iria viajar para o Peru, para Machu Picchu, para participar de um congresso de ufologia no qual o Erich von Däniken estaria também.
Nos últimos anos, a discussão sobre vida extraterrestre e fenômenos aéreos não identificados (UFOs e UAPs) tem passado de meras especulações a um debate mais formal, principalmente depois das audiências no Congresso dos Estados Unidos sobre o tema, que ressaltaram potenciais ameaças à segurança não só daquele país.
Historicamente, o fascínio e medo humanos pelo inexplicável alimenta um imaginário popular carregado de crenças e teorias. Em diversas culturas terráqueas, frequentemente são buscadas explicações sobrenaturais para o que não conseguimos compreender. De aparições de objetos voadores a alegados contatos com seres extraterrestres, o mistério em torno de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) alavanca questionamentos sobre o propósito e a natureza desses fenômenos.
Eu sou uma consumidora voraz do tema. Sim, é claro que sou fã empedernida de Arquivo-X. Quando aparece alguma série nova de ets nos streamings, entra automaticamente para a minha lista. Pois ontem, zapeando a TV antes de dormir, sem saber o que ver, descobri uma nova série documental da Netflix, a “Investigation Alien”, estrelada pelo jornalista investigativo George Knapp.
Coloquei para ver na hora. A série começa com uns relatos de ataques nos EUA, nos quais bovinos eram encontrados mortos, sem sangue, com a genitália removida ou cortes a laser, e em posições impossíveis de terem sido feitas pelo manejo humano. O sono foi embora, claro, apesar daquele tom sensacionalista da TV estadunidense que eu não sei por que diabos eles ainda insistem em usar.
Ok, continuei a assistir. Para a minha surpresa, eles começam a falar de Colares, da Operação Prato, e de repente, na minha frente, tem um avião descendo na minha Belém. Tu és dooooido! Emoção! The truth is out there, I want to believe, gol do Leão. Outro dia, noticiei no Uruá-Tapera, um podcast lançado em setembro que revisita a Operação Prato.
Ainda com a lembrança da voz do Carlos Mendes, a maior autoridade jornalística sobre o caso, fresca na minha cabeça, agora vejo a imagem dele, sentado num banquinho do Meu Garoto (o original, da Manoel Barata com a Frei Gil – conhecida oficialmente por mim como a esquina da casa das minhas tias-avós Carmela e Mima) com uns gringos, falando categoricamente que os arquivos foram levados do Brasil pela CIA. Égua, me deu até vontade de comer uma unha de caranga e virar uma dose de cachaça de jambu. Que saudade.
A Operação Prato foi conduzida pela Força Aérea Brasileira (FAB) entre 1977 e 1978 para examinar relatos de OVNIs desde o Maranhão até o Pará. No período, uma série de fenômenos descritos como “corpos luminosos” foram observados e associados a ataques à população, relatados tanto por moradores quanto pela imprensa local.
O “chupa-chupa” (como foi chamado pelos ribeirinhos) gerou pânico nas pessoas por causa dos encontros que causaram queimaduras e lesões. A operação contou com a participação de agentes de inteligência do Serviço de Informações da Aeronáutica e equipes médicas do Primeiro Comando Aéreo Regional (I COMAR). Documentos oficiais e arquivos da época, hoje disponíveis no Arquivo Nacional, indicam que a operação terminou oficialmente em dezembro de 1977, mas novas missões relacionadas a OVNIs foram realizadas em 1978.
A investigação também mobilizou outros órgãos, como o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA).
De acordo com os relatos, objetos voadores atacavam a população local emitindo feixes de luz que, ao contato, causavam queimaduras e perfurações nos corpos dos moradores. Em uma dessas interações, Aurora Fernandes descreve o ataque de um disco rotativo que emitiu um raio vermelho, causando três perfurações em seu peito e deixando uma sensação de perda de sangue.
O Capitão Uyrangê Hollanda, líder da Operação Prato, anos depois declarou a ufólogos que acreditava na existência de extraterrestres. Três meses após suas confissões, ele foi encontrado morto em circunstâncias misteriosas, o que, obviamente, alimentou as teorias de conspiração sobre o caso.
A série também fala dos OVNIS submersos (dos quais o Walcyr já tinha me contado anos atrás) e mostra Barcarena e os registros atuais de avistamentos por lá, com um vídeo impressionante feito por um morador, com seu telefone celular, de uma bola de fogo no céu, que desaparece do mais absoluto nada, e fotos de formações circulares nos campos.
Nunca ouvi alguém contestar a afirmação de que os casos de interação com extraterrestres que aconteceram no Pará no final dos anos 70 são os que têm o melhor registro da história da humanidade, apesar de que, todo mundo sabe, muita coisa se perdeu (ou foi confiscada pelo Tio Sam). E também desafio qualquer pessoa que vive ou viveu na Amazônia e que tenha olhado, olhado realmente, com atenção, para o céu, de não ter visto alguma coisa “esquisita”. Pode até achar que foi qualquer outra coisa, mas viu. Eu acredito que faz todo o sentido, para um pesquisador, seja de que raça for, examinar a área mais biodiversa do planeta. Não é não?
Se assistirem a série, escutarem o podcast ou forem a louca dos ets que nem eu, me contem depois alguma coisa lá no Instagram do Uruá-Tapera. (Publicado originalmente no portal Uruá-Tapera, da jornalista Franssinete Florenzano – https://uruatapera.com/ )