A jovem foi abordada por mulheres de burca, que a forçaram a entrar em um carro, e posteriormente levada à delegacia e, mais tarde, encaminhada a um hospital. A universidade, por meio de seu porta-voz Amir Mahjob, alegou que a estudante teria problemas psicológicos, agravados por uma recente separação e a pressão de ser mãe de dois filhos. Em um comunicado, Mahjob classificou a atitude da aluna como “indecente”, e afirmou que sua saúde estava sendo monitorada pelas autoridades.
O protesto ocorre dois anos após a morte de Mahsa Amini, jovem curda que morreu sob custódia da polícia da moralidade em setembro de 2022, acusada de violar as regras do hijab. O caso de Amini gerou protestos nacionais e internacionais contra as rígidas políticas de controle do vestuário feminino e o papel das forças de segurança na repressão de mulheres e jovens.
Repercussão e críticas internacionais
Ativistas e observadores internacionais questionaram a versão oficial sobre a saúde mental da estudante, apontando que a ação pode ter sido um protesto deliberado contra o rigoroso código de vestimenta islâmico. Nas redes sociais, muitos iranianos expressaram solidariedade, interpretando o ato como uma manifestação contra a pressão constante sobre as mulheres no país. Uma usuária do X (antigo Twitter) comentou que “para muitas mulheres, estar em roupas íntimas em público é um pesadelo, e essa foi uma resposta ao hijab obrigatório imposto pelas autoridades”.
A Anistia Internacional também se posicionou, exigindo a libertação imediata da estudante e o fim de abusos físicos e psicológicos durante sua detenção. A ONG cobrou uma investigação independente sobre possíveis casos de violência sexual e maus-tratos na prisão. “As autoridades devem garantir que a estudante tenha acesso à família e ao advogado”, enfatizou a organização em nota.
Mai Sato, relatora da ONU para assuntos do Irã, anunciou que está acompanhando o caso e observando a resposta das autoridades iranianas. “A ONU estará atenta a qualquer violação dos direitos da estudante, especialmente considerando o histórico de violência e abusos cometidos contra mulheres no país”, publicou Sato no X.
A resposta do Irã à onda de resistência feminina
A ação da estudante reflete uma crescente onda de resistência feminina contra o uso compulsório do hijab e a repressão da liberdade individual no Irã. Desde 2022, um número crescente de mulheres desafia as autoridades, removendo o véu em público em um gesto de contestação ao regime. Essas manifestações são geralmente reprimidas com violência por agentes de segurança e pela polícia da moralidade, mas a insatisfação popular persiste.
Apesar das tentativas das autoridades de caracterizar o caso como um problema isolado, ele ressoa com a luta contínua das mulheres iranianas por seus direitos e por autonomia sobre seus corpos.
Do Ver-o-Fato, com informações de UOL e CNN.