Já são 227 Círios de Nazaré. A cada ano, porém, parece a primeira vez. É como se fosse pintado no solo de Belém, com milhões de pegadas humanas – a cada segundo domingo de uma manhã de outubro -, um novo capítulo de história que sequer foi escrita. É algo antecipadamente gravado ritualisticamente na alma do povo paraense. Neste 2019 não foi diferente.
Gente, muita gente, nas ruas, avenidas, praças. Gente do interior do estado, que veio de barco, de ônibus fretado. Gente que veio à pé, pelas estradas, pagando promessas. Gente de várias regiões do país, até do exterior.
Não medir sacrifícios para acompanhar a procissão ou simplesmente ver a santa passar, olhando o cortejo da calçada, já basta. Preenche a alma da sensação do dever cumprido. Da obrigação autoimposta, como um dever indeclinável. Um dos mistérios da fé religiosa.
Havia não apenas católicos, mas praticantes de outras religiões, que foram exercer um gesto de solidariedade, uma forma consciente ou não de também pagar alguma promessa pessoal, senão para Nossa Senhora de Nazaré, ao menos consigo mesmo. Ou por alguém que não pôde fazê-lo.
Pessoas dedicadas à missão de distribuir água aos romeiros exaustos, na corda dos pagadores de promessas, ou fora dela. Outras, como voluntárias da Cruz Vermelha no atendimento às pessoas com problemas de saúde, às vítimas de acidentes no meio da multidão.
No percurso de 3,6 quilômetros, da Catedral da Sé à Basílica de Nazaré, o cerne de tudo, o encontro programado o ano inteiro. Uma avalanche de esperança no caminho traçado da fé. Cada palmo de lugar preenchido para desfrutar da visão privilegiada. Se possível, até do alto de uma mangueira das avenidas Presidente Vargas ou Nazaré.
Já nem importa saber se foram 2 milhões de devotos, mais ou menos. A estatística fica para trás. Basta ver, se emocionar e compartilhar a mesma onda humana, o mar de gente, na frente, atrás, do lado, lotando prédios, para ver a santa passar.
Tudo resumido no momento da oração, de agradecer por uma graça alcançada. De pedir um milagre para salvar alguém muito doente ou metido numa enrascada da qual sair parece impossível. Muitos, apenas querendo um emprego, nesses tempos difíceis de recessão econômica.
O Círio 2019 se foi. Que venha o próximo. E com ele a história sempre reescrita de uma devoção tão eterna quanto o universo.
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