A Embaixada de Israel em Brasília rebateu a decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva de apoiar a acusação de “genocídio” apresentada contra o país na Corte Internacional de Justiça (CIJ), um tribunal das Nações Unidas. O processo foi movido por iniciativa da África do Sul e começou a ser julgado nesta quinta-feira, dia 11, em Haia, na Holanda.
A embaixada israelense disse, em nota enviada ao Estadão, que o presidente Lula deveria levar em consideração as definições de genocídio e a “intenção” ou não de matar deliberadamente civis que não estavam envolvidos na guerra contra o grupo terrorista Hamas.
O governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu declarou guerra e anunciou o objetivo de aniquilar o Hamas em reação aos ataques terroristas sem precedentes cometidos pela brigada de radicais palestinos ligados ao grupo, em 7 de outubro do ano passado.
Cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas no território israelense pelo Hamas. Os terroristas fizeram cerca de 250 reféns, dos quais 110 foram libertados, depois de terem sido levados para cativeiros em Gaza, escondidos em bunkers e uma rede de túneis entre instalações civis, próximos a escolas, hospitais, comércio e residências.
Em 95 dias de guerra, 23.357 pessoas morreram em Gaza, 70% delas mulheres e crianças. Há 59.410 feridos e 1,9 milhão de pessoas precisaram se deslocar forçadamende, fugindo do confronto. Os dados são repostados pelas Nações Unidas e citados pelo governo brasileiro ao justificar a decisão de Lula. No entanto, carecem de verificação independente, no terreno, e foram reportados pelo Ministério da Saúde e pelo Escritório de Mídia de Gaza, ambos controlados pelo Hamas.
Crimes do Hamas
Tel-Aviv argumenta que respeita o direito internacional e que o Palácio do Planalto deveria considerar também que o Hamas ameaça realizar novos ataques em massa, como o de 7 de outubro, além de pregar o extermínio de judeus.
“Segundo a definição da ONU para o termo genocídio, definições que o Brasil aprecia e trabalha à luz, o principal é a intenção. Israel não tem intenção de matar palestinos não envolvidos e evita isso tanto quanto possível, apesar das dificuldades apresentadas pelo Hamas na sua forma de operar, usando cidadãos não envolvidos como escudos humanos”, afirmou a embaixada israelense. “O Hamas, no entanto, declarou abertamente as suas intenções genocidas. A sua carta de fundação apela ao assassinato de judeus e os seus líderes declaram abertamente que o seu objetivo é perpetrar as atrocidades de 7 de Outubro ‘repetidamente’. Ao tomar uma decisão sobre o pedido feito ao presidente Lula, é de excepcional importância que o Brasil leve esses fatos em consideração.”
Relação abalada
Desde o ano passado, Lula vinha classificando verbalmente, reiteradas vezes, como “genocídio” a operação militar das Forças de Defesa de Israel, seja a incursão terrestre em Gaza ou os bombardeios aéreos. As declarações geraram desgaste diplomático com Israel e com outros parceiros do Brasil no Ocidente, como os Estados Unidos. O presidente passou a ser criticado também em algumas das principais democracias da Europa.
O governo Lula irritou-se com uma reunião do embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, com a oposição e seu principal líder político, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Também reclamou nos bastidores da demora de Israel em autorizar a saída de grupos de brasileiros e seus familiares de Gaza.
Ao receber o primeiro grupo de 32 brasileiros repatriados de Gaza, Lula foi além e afirmou que o governo israelense também respondia ao Hamas com atos de “terrorismo”.
Passo além
Agora, Lula deu um passo além da tradicional busca por uma posição de equilíbrio do Brasil no conflito entre judeus e palestinos e atendeu ao pleito da diplomacia dos territórios palestinos por apoio à iniciativa sul-africana. Em nota, o governo brasileiro anunciou nesta quarta-feira, dia 10, que respaldava a denúncia contra Israel na Corte Internacional.
A denúncia recebeu apoio de países como a Bolívia, Malásia, Turquia, Jordânia, Maldivas, Namíbia, Paquistão, Colômbia, a Liga Árabe e a Organização para a Cooperação Islâmica, bloco de 57 países que conta com Arábia Saudita e Irã.
“Israel rejeita categoricamente a difamação da África do Sul, que acusou Israel de cometer ‘genocídio’ em Gaza no seu processo na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia. Israel está empenhado e opera de acordo com o direito internacional e dirige as suas operações militares em Gaza exclusivamente contra o Hamas e outras organizações terroristas. Tanto em palavras como em atos, Israel deixou claro que os civis de Gaza não são seus inimigos”, afirmou a embaixada israelense.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) condenou o apoio brasileiro ao que chamou de ação “cínica e perversa, que visa impedir Israel de se defender dos seus inimigos genocidas”. A nota afirma que a decisão “diverge da posição de equilíbrio e moderação da política externa brasileira”. O texto segue dizendo que a África do Sul “inverte a realidade” e lembra que o conflitou foi desencadeado pelo ataque do Hamas. (AE)
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