A população de Belém assistiu pela televisão e aplicativos de mensagens, aterrorizada, as imagens da explosão de uma bomba de provável fabricação caseira, detonada no meio de dezenas de torcedores que se dirigiam ao estádio Mangueirão, na noite da última quarta-feira (12), para assistir o jogo do Remo contra o Corinthians, pelo Copa do Brasil.
Foi uma explosão de grande poder destrutivo, que matou um torcedor de uma organizada do time paulista, feriu outro torcedor corintiano e um mototaxista que estava trabalhando na hora do atentado.
Juntos, caminhavam pela Avenida Augusto Montenegro, em direção ao Mangueirão, torcedores de Remo e Corinthians, cujas torcidas organizadas são aliadas.
Um homem, que em outro país seria considerado terrorista, surgiu não se sabe de onde e fez o artefato explodir, no meio da multidão e fugiu do local provavelmente em um carro de passeio.
Havia centenas de policiais espalhados pela avenida para manter a segurança dos torcedores, mas nenhum deles viu o criminoso conduzindo a bomba, nem quem o ajudou a fugir do local.
O membro da torcida organizada do Corinthians, Pavilhão 9, Rafael de Moura Merenciano, o “Rafa”, de 35 anos, teve o lado esquerdo da costa dilacerado pela explosão e morreu horas depois em um hospital da Grande Belém.
Ele veio em uma excursão que saiu de São Paulo para acompanhar o jogo do time de coração e foi devolvido aos familiares pelas autoridades paraenses dentro de um caixão.
Rafael Merenciano foi fotografado com um celular por um colega no momento em que era socorrido por uma equipe de resgate do Corpo de Bombeiros, minutos depois de ser atingido por estilhaços da bomba.
A foto é chocante: ele está sentado na pista sem camisa, com o lado esquerdo da costa completamente dilacerado. O ferimento da parte superior parecia com a saída de um tiro de escopeta, mas ainda havia outro ferimento grave na parte posterior.
Pulmão perfurado
Uma enfermeira treinada para atender pessoas acidentadas ou com ferimentos de bala, contatada pelo Ver-o-Fato para analisar a imagem, disse que pela dimensão e profundidade do ferimento superior, o rapaz pode ter tido o pulmão esquerdo perfurado e já teria saído do local do atentado em estado gravíssimo.
Torcedores corintianos locais, que conseguiram entrar no Mangueirão, notaram que os amigos de Merenciano estavam inquietos, sem dar muita atenção ao jogo, já temendo o pior. Depois de confirmada a morte de seu membro, em suas redes sociais, a Pavilhão 9 prometeu vingança.
Dimensão do fato
Parte da imprensa de Belém, que fatura gordas verbas dos cofres públicos do Estado para elogiar o governador Helder Barbalho (MDB) e o sistema de segurança pública, tentou minimizar o atentado, publicando que Merenciano teria sido atingido por um rojão.
Não foi um rojão, foi uma bomba e não precisa ser especialista em explosivos para fazer a constatação. A explosão de um rojão, além de não provocar o barulho que foi ouvido nas gravações, não teria capacidade de fazer o estrago que fez nas costas do torcedor corintiano e ferir ao mesmo tempo mais duas pessoas.
Logo que o fato foi consumado, mesmo sem saber quem foi o autor ou autores do atentado, na pressa de apontar culpados, o “tribunal da internet” começou a especular que os autores seriam membros da organizada do Paysandu “Terror Bicolor”, até porque o mototaxista atingido pela bomba deu uma entrevista dizendo que o culpado seria um membro da Terror infiltrado no meio dos torcedores de Remo e Corinthians.
O mototaxista, que sofreu ferimentos na cabeça, não explicou como soube da notícia, mas a versão se espalhou como rastilho de pólvora e chegou imediatamente em São Paulo, onde os amigos de Merenciano juraram vingança.
Ocorre que, segundo um torcedor do Paysandu, duas torcidas do Remo, Remoçada e Piratas Azulinos, vivem em guerra, mesmo defendendo as mesmas cores. “Onde elas se encontram, entram em conflito, com pedradas, pauladas e até tiros”, disse.
Com todas essas versões circulando e com a proliferação de notícias falsas sobre o atentado, um clima de terror foi criado entre os torcedores paraenses, os verdadeiros, que amam o futebol e repudiam a violência.
Por isso, já está na hora do sistema de segurança pública dar uma satisfação à população, esclarecendo os fatos. O silêncio só piora a situação.
O que diz a lei sobre terrorismo
“O terrorismo é qualquer tipo de ação violenta cometida com o intuito de intimidar, ferir ou matar cidadãos para garantir a defesa de uma causa, seja ela política, econômica ou religiosa. O terrorismo pode ser voltado contra indivíduos, mas também contra patrimônios, e as formas mais comuns são por ataques a bomba e por tiroteios”, diz a lei brasileira.
O termo se refere a práticas com a finalidade de “provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade [integridade] pública”.
A norma brasileira também delimita o que é terrorismo, conforme a motivação dos atos. Nesse sentido, atos de terrorismo, segundo a lei, ocorrem “por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião”.
De acordo com a norma, são considerados atos de terrorismo: usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa; sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça à pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, entre outros; atentar contra a vida ou a integridade física de uma pessoa.
A legislação determina a pena de reclusão, de 12 a 30 anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência. Também há pena de reclusão de cinco a oito anos, além de multa, ao ato de promover, constituir, integrar ou prestar auxílio a uma organização terrorista.
Como andam as investigações? O autor ou autores já foram identificados? Há pistas para prendê-los e indiciá-los criminalmente.
Com a palavra, a Polícia Civil.