A guerra que começou semana passada na Ucrânia despertou as atenções do mundo para o grave problema dos refugiados. A diferença é que agora o êxodo de milhões de pessoas está ocorrendo em plena Europa, e envolve países que antes fechavam suas fronteiras para fugitivos de conflitos no mundo árabe e no continente africano, como a Hungria, que já aprovou uma lei que responsabiliza criminalmente quem ajuda imigrantes a entrar no país, e hoje, junto com Polônia, Romênia, Moldávia e outros do leste europeu, recebe diariamente milhares de ucranianos que fogem das bombas de Putin.
No início de 2015, balanço do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) mostrou que, no ano anterior, 218 mil migrantes e refugiados haviam cruzado o Mediterrâneo de maneira irregular, das quais 3,5 mil haviam morrido nessa tentativa. Em 2013, 368 pessoas vindas da Somália e Eritreia morreram em um naufrágio no Mediterrâneo, ante a indiferença da Europa.
Outro dois naufrágios mataram 1,1 mil pessoas em 2015. Porém, a imagem mais chocante daquele ano foi a do menino sírio, Aylan Kurdi, de 3 anos, morto em uma praia da Turquia, depois do naufrágio da embarcação em que tentava chegar com seu pai à Grécia, um símbolo trágico da indiferença do mundo como drama dos refugiados.
Naquele mesmo ano, em 2015, segundo a Acnur, mais de 1 milhão de refugiados entraram na Europa. A União Europeia tentou distribuir essas pessoas entre os países do continente, com grande dificuldade. Surgiram em muitos países movimentos nacionalistas e racistas contra a imigração. Em 2020, o mundo havia atingido a marca de 82 milhões de refugiados, segundo o relatório mais recente da Acnur.
São pessoas expulsas de seus países por guerras, perseguições religiosas e políticas, fome e mudanças climáticas, que agravaram emergências como secas e enchentes. Com a pandemia de covid, muitos países fecharam suas fronteiras e cresceram os deslocamentos internos, quando os refugiados tentam sobreviver movendo-se dentro de seus países.
Sobre as mudanças climáticas, há uma grande preocupação relacionada ao agravamento da desigualdade e da marginalização de populações inteiras, que poderão ser obrigadas a se deslocar por causa de cataclismos provocados pelo aumento da temperatura da Terra. A insegurança alimentar é uma consequência nefasta das mudanças climáticas, pela falta de condições para a manutenção da produção agrícola, por exemplo.
É o caso da Amazônia, onde as secas podem se tornar mais frequentes, com mudanças o regime de chuvas, o aumento dos incêndios florestais e o desmatamento desenfreado provocado pelo aumento da miséria. Regiões litorâneas do Brasil também podem ter grandes deslocamentos populacionais. A guerra na Ucrânia mostrou que existem refugiados e refugiados na Europa.
Com razão, os países vizinhos da Ucrânia abrem suas fronteiras para receber os fugitivos da guerra. São pessoas, na maioria das vezes, qualificadas e prontas para o mercado de trabalho nesses países. Mas os estudantes africanos e indianos que estão na Ucrânia têm sido deixados para trás na hora de embarcar nos trens repletos de refugiados que saem daquele país, como já apontou a própria ONU, que pediu tratamento igualitário para todos.
A esperança é que diante do agravamento das crises humanitárias em um cenário de guerra, o mundo, em especial os países ricos, se mobilizem para apoiar uma solução para a crise migratório. Uma proposta seria diminuir os gastos com armamentos (2 trilhões de dólares em 2020) e celebrar um pacto, chancelado pelas Nações Unidas, para a criação de um fundo global para apoiar os refugiados.
Não é simples, mas também não é nenhum absurdo, só depende da boa vontade dos líderes mundiais.