A maior nação indígena do Pará e certamente uma das que menos recebe atenção do governo federal em suas demandas e carências de cidadãos brasileiros, os índios mundurucus reuniram 550 lideranças, representando 120 aldeias, e debabateram por horas os problemas que os afligem. Trataram das ameaças de construção de cinco usinas hidrelétricas nos rios Tapajós e Jamanxin, de saúde e de educação para seu povo. Durante a reunião, ocorrida entre os dias 1º e 7 de abril, foi elaborada uma “Carta ao Povo e ao Governo Brasileiro”.
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O economista Dion Monteiro produziu um pequeno texto de apresentação da carta dos índios e o enviou ao Ver-o-Fato. “Os grandes desafios
impostos na atualidade aos povos indígenas do Brasil e, em especial, à nação
Munduruku no Pará, fez desta uma das mais importantes assembleias dos últimos tempos.
Vários pontos foram discutidos, como a questão da saúde e educação indígena; a
situação de fragilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), as pendências na demarcação e reconhecimento
dos territórios Munduruku e, principalmente, os projetos do governo federal
para a construção de cinco usinas hidrelétricas nos rios Tapajós e Jamanxim: São
Luiz do Tapajós, Jatobá, Cachoeira do Caí, Jamanxim e Cachoeira dos Patos”.
impostos na atualidade aos povos indígenas do Brasil e, em especial, à nação
Munduruku no Pará, fez desta uma das mais importantes assembleias dos últimos tempos.
Vários pontos foram discutidos, como a questão da saúde e educação indígena; a
situação de fragilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), as pendências na demarcação e reconhecimento
dos territórios Munduruku e, principalmente, os projetos do governo federal
para a construção de cinco usinas hidrelétricas nos rios Tapajós e Jamanxim: São
Luiz do Tapajós, Jatobá, Cachoeira do Caí, Jamanxim e Cachoeira dos Patos”.
Segundo Monteiro, participaram da
assembleia mais de 100 caciques, centenas de guerreiros e guerreiras, além de pajés,
crianças e idosos, e suas deliberações representaram os anseios e desejos de 13
mil indígenas Munduruku que vivem no Pará. No
final da assembleia
foi produzida uma carta ao povo e ao governo brasileiro, onde a nação
Munduruku
diz, entre outros, que não vai aceitar nenhuma hidrelétrica nos rios da
região.
assembleia mais de 100 caciques, centenas de guerreiros e guerreiras, além de pajés,
crianças e idosos, e suas deliberações representaram os anseios e desejos de 13
mil indígenas Munduruku que vivem no Pará. No
final da assembleia
foi produzida uma carta ao povo e ao governo brasileiro, onde a nação
Munduruku
diz, entre outros, que não vai aceitar nenhuma hidrelétrica nos rios da
região.
Leia, abaixo, integralmente, este importante documento.
O RASTRO DO
TEMPO APONTA O CAMINHO DO FUTURO: SOMOS A NAÇÃO MUNDURUKU, OS CORTADORES DE
CABEÇA
TEMPO APONTA O CAMINHO DO FUTURO: SOMOS A NAÇÃO MUNDURUKU, OS CORTADORES DE
CABEÇA
CARTA AO POVO
E AO GOVERNO BRASILEIRO
E AO GOVERNO BRASILEIRO
A
nação Munduruku no Pará é numerosa, somos aproximadamente 13.000 homens e
mulheres. Nos tempos passados nós Munduruku éramos temidos. Dominávamos a arte
da guerra e tínhamos muitas estratégias. Nossos troféus eram as cabeças de
nossos inimigos. Dificilmente perdíamos um guerreiro na batalha. Atacávamos de surpresa
e em grande quantidade, assim vencíamos os nossos rivais. Hoje os dias são
outros, há muito tempo que não precisamos fazer uma expedição de guerra, mas,
se for necessário, o rastro do tempo aponta o caminho do futuro: somos a nação
Munduruku, os cortadores de cabeça.
nação Munduruku no Pará é numerosa, somos aproximadamente 13.000 homens e
mulheres. Nos tempos passados nós Munduruku éramos temidos. Dominávamos a arte
da guerra e tínhamos muitas estratégias. Nossos troféus eram as cabeças de
nossos inimigos. Dificilmente perdíamos um guerreiro na batalha. Atacávamos de surpresa
e em grande quantidade, assim vencíamos os nossos rivais. Hoje os dias são
outros, há muito tempo que não precisamos fazer uma expedição de guerra, mas,
se for necessário, o rastro do tempo aponta o caminho do futuro: somos a nação
Munduruku, os cortadores de cabeça.
Nós
falamos agora pelo nosso povo, pelas crianças e pelos animais. As estrelas no
céu nos contam nossas histórias passadas, nos guiando no presente e indicando o
futuro. Esse é o território de Karosakaybu, onde sempre vivemos. Somos a
natureza, os peixes, a mãe dos peixes, a mangueira, o açaizeiro, o buritizeiro,
a caça, o beija-flor, o macaco e todos os outros seres dos rios e da floresta.
falamos agora pelo nosso povo, pelas crianças e pelos animais. As estrelas no
céu nos contam nossas histórias passadas, nos guiando no presente e indicando o
futuro. Esse é o território de Karosakaybu, onde sempre vivemos. Somos a
natureza, os peixes, a mãe dos peixes, a mangueira, o açaizeiro, o buritizeiro,
a caça, o beija-flor, o macaco e todos os outros seres dos rios e da floresta.
Ainda
vivemos felizes em nosso território, a correnteza dos rios nos leva para todos
os lugares que queremos, nossas crianças podem nadar quando o sol está muito
quente, os peixes podem brincar e ainda se multiplicam com fartura, mas fomos
obrigados a aprender duas novas palavras da língua dos pariwat, palavras que
nem existem na nossa língua: preocupação e barragem.
vivemos felizes em nosso território, a correnteza dos rios nos leva para todos
os lugares que queremos, nossas crianças podem nadar quando o sol está muito
quente, os peixes podem brincar e ainda se multiplicam com fartura, mas fomos
obrigados a aprender duas novas palavras da língua dos pariwat, palavras que
nem existem na nossa língua: preocupação e barragem.
Desde
quando o ex-presidente Lula resolveu retomar os projetos do tempo da ditadura
militar, de barrar os rios da Amazônia para produzir energia para as indústrias
de mineração, automobilísticas e para outros setores da economia, poluidores e
causadores de muitos problemas ambientais, estamos todos muito preocupados,
principalmente depois que ficamos sabendo dos planos da presidente Dilma de
construir 05 hidrelétricas nos rios Tapajós e Jamanxin, as usinas de São Luiz
do Tapajós, Jatobá, Cachoeira do Caí, Jamanxin e Cachoeira dos Patos.
quando o ex-presidente Lula resolveu retomar os projetos do tempo da ditadura
militar, de barrar os rios da Amazônia para produzir energia para as indústrias
de mineração, automobilísticas e para outros setores da economia, poluidores e
causadores de muitos problemas ambientais, estamos todos muito preocupados,
principalmente depois que ficamos sabendo dos planos da presidente Dilma de
construir 05 hidrelétricas nos rios Tapajós e Jamanxin, as usinas de São Luiz
do Tapajós, Jatobá, Cachoeira do Caí, Jamanxin e Cachoeira dos Patos.
É
por isso que nós, caciques, guerreiros, guerreiras, pajés, professores, homens
e mulheres Munduruku, reunidos na aldeia Katõ, na Assembleia Geral da Nação
Muduruku, falamos ao povo brasileiro que o governo rasgou a Constituição do
Brasil e os tratados e convenções internacionais, como a Convenção 169 da OIT,
matando nossa autonomia e pen okabapap
iat (meu corpo, meu estômago, meu modo de ser). Infelizmente o governo
brasileiro não está cumprindo as leis que ele mesmo assina.
por isso que nós, caciques, guerreiros, guerreiras, pajés, professores, homens
e mulheres Munduruku, reunidos na aldeia Katõ, na Assembleia Geral da Nação
Muduruku, falamos ao povo brasileiro que o governo rasgou a Constituição do
Brasil e os tratados e convenções internacionais, como a Convenção 169 da OIT,
matando nossa autonomia e pen okabapap
iat (meu corpo, meu estômago, meu modo de ser). Infelizmente o governo
brasileiro não está cumprindo as leis que ele mesmo assina.
Queremos
que o governo brasileiro respeite a nossa cultura, nossa cosmovisão e nossos
lugares sagrados, e que não repita o que fez com a Cachoeira de Sete Quedas, no
rio Teles Pires, considerada por nós como o berço do mundo do povo Munduruku,
que foi destruída com a construção da Usina Hidrelétrica de Teles Pires.
que o governo brasileiro respeite a nossa cultura, nossa cosmovisão e nossos
lugares sagrados, e que não repita o que fez com a Cachoeira de Sete Quedas, no
rio Teles Pires, considerada por nós como o berço do mundo do povo Munduruku,
que foi destruída com a construção da Usina Hidrelétrica de Teles Pires.
Nossos
sábios e nossos conhecimentos nos dizem que não são só os indígenas e pariwat
que vão sofrer com a construção das usinas no Tapajós, todos os seres que moram
nos rios e na floresta vão sofrer também. O governo não entende que nós sabemos
escutar a mãe dos peixes, os peixes, a cutia, o macaco, a paca, os passarinhos,
a onça e todos aqueles que moram nesta região.
sábios e nossos conhecimentos nos dizem que não são só os indígenas e pariwat
que vão sofrer com a construção das usinas no Tapajós, todos os seres que moram
nos rios e na floresta vão sofrer também. O governo não entende que nós sabemos
escutar a mãe dos peixes, os peixes, a cutia, o macaco, a paca, os passarinhos,
a onça e todos aqueles que moram nesta região.
O
rastro do tempo mostra o que ocorreu com os parentes do rio Tocantins, que até
hoje, mais de 30 anos depois de serem expulsos de seu território, ainda esperam
as compensações que o governo prometeu quando foi construída a usina de
Tucuruí. As consequências do barramento dos rios Xingu, Madeira, Teles Pires, e
o que aconteceu com o rio Doce, são os maiores exemplos de que estes projetos
não servem para nós.
rastro do tempo mostra o que ocorreu com os parentes do rio Tocantins, que até
hoje, mais de 30 anos depois de serem expulsos de seu território, ainda esperam
as compensações que o governo prometeu quando foi construída a usina de
Tucuruí. As consequências do barramento dos rios Xingu, Madeira, Teles Pires, e
o que aconteceu com o rio Doce, são os maiores exemplos de que estes projetos
não servem para nós.
Afirmamos
que a nação Munduruku é uma só, habitando toda a extensão do grande rio
Tapajós, pai e mãe que nos transporta, refresca nosso corpo e nos dá nosso
alimento, por isso estamos unidos contra a destruição desse rio e a invasão de
nosso território. Não queremos guerra, mas avisamos que não temos medo da
polícia dos pariwat, seja a Polícia Federal, Força Nacional, ou qualquer outra.
que a nação Munduruku é uma só, habitando toda a extensão do grande rio
Tapajós, pai e mãe que nos transporta, refresca nosso corpo e nos dá nosso
alimento, por isso estamos unidos contra a destruição desse rio e a invasão de
nosso território. Não queremos guerra, mas avisamos que não temos medo da
polícia dos pariwat, seja a Polícia Federal, Força Nacional, ou qualquer outra.
Sabemos
que os rios e o território da Amazônia não só garantem a vida e a harmonia
nesta região, como também contribuem decisivamente com o equilíbrio ambiental,
do ar e do clima para todo o povo brasileiro e do mundo. Por isso, pedimos a
solidariedade das mulheres, homens, intelectuais, estudantes, trabalhadores,
pescadores, quilombolas, ribeirinhos, parentes de outras nações indígenas,
enfim, de todos que queiram lutar contra a destruição dos rios e da floresta
Amazônica.
que os rios e o território da Amazônia não só garantem a vida e a harmonia
nesta região, como também contribuem decisivamente com o equilíbrio ambiental,
do ar e do clima para todo o povo brasileiro e do mundo. Por isso, pedimos a
solidariedade das mulheres, homens, intelectuais, estudantes, trabalhadores,
pescadores, quilombolas, ribeirinhos, parentes de outras nações indígenas,
enfim, de todos que queiram lutar contra a destruição dos rios e da floresta
Amazônica.
Queremos
continuar vivendo em paz, pescando, caçando, fazendo nossos rituais, cânticos,
com nossas tradições deixadas por nossos antepassados, da forma como vivemos
antes dessas novas ameaças, por isso NÃO QUEREMOS NENHUMA HIDRELÉTRICA EM
NOSSOS RIOS, e exigimos do governo brasileiro:
continuar vivendo em paz, pescando, caçando, fazendo nossos rituais, cânticos,
com nossas tradições deixadas por nossos antepassados, da forma como vivemos
antes dessas novas ameaças, por isso NÃO QUEREMOS NENHUMA HIDRELÉTRICA EM
NOSSOS RIOS, e exigimos do governo brasileiro:
–
Demarcação da Terra Indígena Daje Kapap Eipi, conhecida pelos pariwat como
Sawre Muybu;
Demarcação da Terra Indígena Daje Kapap Eipi, conhecida pelos pariwat como
Sawre Muybu;
–
Não realização do leilão da Usina de São Luiz do Tapajós;
Não realização do leilão da Usina de São Luiz do Tapajós;
–
Parar com os projetos de construção de novas hidrelétricas nos rios Tapajós,
Jamaxim e nos outros rios da Amazônia;
Parar com os projetos de construção de novas hidrelétricas nos rios Tapajós,
Jamaxim e nos outros rios da Amazônia;
–
Parar com a construção da Usina Hidrelétrica de São Manoel;
Parar com a construção da Usina Hidrelétrica de São Manoel;
–
Fortalecer a saúde indígena, respeitando a medicina tradicional;
Fortalecer a saúde indígena, respeitando a medicina tradicional;
–
Fortalecer a educação e ampliação do projeto Ibaorebu para todos os níveis de
ensino.
Fortalecer a educação e ampliação do projeto Ibaorebu para todos os níveis de
ensino.
Aldeia Katõ/PA, 07 de abril de 2016
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