O governador do Rio é levado preso para a sede da Polícia Federal |
na manhã desta quinta-feira, na residência oficial do chefe do
Executivo, no Palácio Laranjeiras, foi agilizada a pedido da Polícia
Federal, com aval da Procuradoria Geral da República (PGR,
para preservar a coleta de provas. A força-tarefa entendeu que a prisão
do sucessor de Sérgio Cabral antes de terminar o seu mandato era
fundamental para que os documentos a ser recolhidos não fosssem
dispersados e a recuperação de valores prejudicada. Além do mais, havia o
temor que, sem foro privilegiado, Pezão pedisse que a investigação recomeçasse do zero.
Fontes
ouvidas pelo GLOBO disseram que a denúncia a ser oferecida contra Pezão
só ficará pronta depois do recesso do Judiciário, cujo início se dá na
segunda quinzena de dezembro. Portanto, apesar da determinação partir do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), o material de acusação será
apresentado à Justiça Federal de primeira instância, cuja competência do
processo deve ficar a cargo do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal
Criminal.
O GLOBO reúne aqui neste ambiente especial, com
detalhes, as acusações que pesam contra o governador pelos crimes de
lavagem de dinheiro, organização criminosa e corrupção ativa e passiva.
Caixa 2
Apontada
como primordial para a operação dos agentes da Policia Federal e de
procuradores do Ministério Público Federal (MPF) de hoje, a colaboração
de Miranda, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e revelada pelo GLOBO no final de abril deste ano,
sustentou que Pezão recebia do esquema criminoso uma mesada de R$ 150
mil e que, de 2007 a 2014, a propina ao sucessor de Cabral, na época
vice-governador, incluía décimo terceiro salário e dois bônus, cada qual
no valor de R$ 1 milhão.
Do conjunto de fatos delatados por
Miranda, três anexos seguiram para o STJ por determinação do ministro
Dias Toffoli, que homologou a colaboração no STF, no início de maio, como também revelou O GLOBO.
A remissão dos anexos ao STJ pelo STF se deu por tratar de citados com
foro naquele tribunal. No caso de Pezão, após consulta à PGR, o anexo de
número 21 seguiu para o gabinete do ministro Felix Fischer, que já é o
relator da Operação Quinto do Ouro, que prendeu os conselheiros do TCE. O
mesmo ministro também recebeu outros dois anexos da delação de Miranda.
Um deles envolve os conselheiros do TCE e já corre como processo.
O
esquema de pagamento a Pezão, sustenta o delator, incluiu em 2013 dois
prêmios cada um no valor de R$ 1 milhão, que eram pagos a membros da
organização criminosa em algumas oportunidades. O primeiro bônus,
segundo ele, foi repassado em quatro parcelas no escritório do lobista
Paulo Fernando de Magalhães Pinto, em Ipanema. Magalhães chegou a ser
preso com Cabral, mas hoje vive sob regime de prisão domiciliar. O
dinheiro foi providenciado por Chebar, que enviou o assessor Vivaldo
Filho. Já o segundo prêmio, ele detalha em outro anexo da delação,
referente a Construtora JRO.
Outra revelação de Miranda envolve
Pezão com os empreiteiros responsáveis pela instalação de placas de
energia solar nos postes ao longo dos 72 quilômetros do Arco
Metropolitano, que custaram ao governo do estado R$ 96,7 milhões, mais
de R$ 22 mil por unidade. Ele disse que recebeu ordem Cabral para pagar
R$ 300 mil à empresa High End, especializada em painéis solares, como
remuneração por serviços prestados na casa de Pezão em Piraí.
Para
efetuar o pagamento, acionou o doleiro Renato Chebar , outro
colaborador da Operação Calicute. O dinheiro foi entregue por uma pessoa
designada por Chebar nas mãos de Luiz Fernando Amorim, dono da empresa.
De acordo com a delação, Luiz Fernando é irmão de César Amorim,
empresário que instalou os painéis solares na obra do Arco
Metropolitano.
MENSALÃO DO PEZÃO
Pela
delação de Miranda, se somados os oito anos de propina mensal de R$ 150
mil, os dois bônus, o “décimo terceiro” salário e a obra da casa, Pezão
teria recebido cerca de R$ 40 milhões em pagamentos indevidos e
atualizados. Este mensalão, de acordo com o delator, era repassado por
ele a Sérgio de Castro Oliveira, o Serjão, outro operador do esquema,
para que fosse entregue a Pezão: “(Serjão) era utilizado para
transportar o dinheiro até o Palácio Guanabara, em razão de Serjão ser
funcionário comissionado na Secretaria de Governo e dispensar registros
na portaria”.
Os recursos, de acordo com Miranda, eram
acondicionados em três envelopes azuis para não chamar a atenção. A
parte de Pezão era separada, afirmou no depoimento, após o recolhimento
de propina nas empreiteiras e outros prestadores de serviços ao estado.
Esses pagamentos, de acordo com o delator, começaram em março de 2007 e
perduraram até março de 2014, quando Cabral saiu do governo. E foram
“religiosamente cumpridos”.
‘Homem da mala’ revelou mesada
O
cerco sobre Pezão começou a se fechar a partir da delação do
ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) Jonas Lopes de
Carvalho Filho. De acordo com sua colaboração, que levou o STJ a
determinar a prisão de cinco conselheiros do tribunal, em março do ano
passado, o governador tinha conhecimento de pelo menos um dos três
esquemas de propina envolvendo conselheiros do TCE. No depoimento obtido
pelo GLOBO, ele conta que a participação de um subsecretário do governo
Pezão no desvio de 15% dos valores liberados pelo fundo de modernização
do TCE-RJ para pagamento de despesas de alimentação de presos no Rio
teve a “aquiescência do governador”.
De acordo com Jonas, o
assessor envolvido era Marcelo Santos Amorim, o Marcelinho, atual
subsecretário de Comunicação do governo fluminense e casado com uma
sobrinha do governador. Na quarta-feira, durante a Operação O Quinto do
Ouro, que prendeu cinco conselheiros do TCE, Marcelinho foi levado a
depor na Polícia Federal do Rio sob condução coercitiva. Jonas o acusa
de ter recebido 1% de propina no esquema dos presídios, sob a
justificativa de que o subsecretário dominava a área de alimentação do
governo. Em nota, o governador diz desconhecer o teor das investigações e
que não vai comentar trechos selecionados de supostas delações vazados
para a imprensa.
Jonas contou que ficava com 5% dos 15% de
propina. Outros cinco conselheiros, Aloysio Neves, José Gomes Graciosa,
Marco Antônio Alencar, José Maurício Nolasco e Domingos Brazão, dividiam
os outros 10%. Cada um, segundo ele, teria recebido um total de R$ 1,2
milhão. Certa ocasião, revelou Jonas, diante do atraso no repasse do
dinheiro liberado pelo governo, o conselheiro Graciosa teria enviado
pelo aplicativo WhatsApp uma marchinha, dedicada a Pezão, com o refrão
“Cadê o meu dinheiro?”.
No
mesmo depoimento, Jonas também citou o secretário de governo de Pezão,
Affonso Monnerat, que também teria conhecimento das operações ilícitas. O
delator disse que repassou a Monnerat a lista de fornecedores de
alimentos aos presídios que teriam se recusado a repassar a propina,
para que eles fossem preteridos no cronograma de pagamentos. O TCE
liberou cerca de R$ 160 milhões do seu fundo, a título de ação
emergencial, a pretexto de não deixar os presos em alimentação,
afastando assim o risco de rebeliões. Monnerat foi preso no último dia
08 de novembro, alvo da operação Furna da Onça, que prendeu 10 deputados
da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Segundo a Globonews, na
delação, Jonas Lopes conta também que discutiu o repasse de propina aos
conselheiros numa reunião na casa do governador do Rio. Esse encontro
teria acontecido em 2013, quando Jonas era presidente do TCE e Pezão,
vice-governador.
De acordo com o delator, “Pezão acompanhou toda a
reunião e dela participou ativamente, inclusive intervindo para acalmar
as discussões iniciais e que toda a discussão sobre as vantagens
indevidas pagas ao TCE foi feita às claras na presença de Pezão”.
O
ex-presidente do TCE conta também que se reuniu novamente com Pezão em
2015, no Palácio Guanabara. Segundo a delação premiada, Jonas Lopes
“indagou quem falaria ao governo junto ao TCE”. Pezão respondeu que
“seria Affonso Henrique Monnerat Alves da Cruz”, secretário de Governo.
Ainda de acordo com o delator, com a expressão “falaria ao governo junto
ao TCE”, tanto o colaborador quanto o governador entendiam ser uma
referência aos acertos com os integrantes do Tribunal de Contas.
PAI E FILHO
O
filho do ex-presidente do TCE Jonas Lopes Neto também firmou acordo de
colaboração com a Justiça e relatou durante delação que Marcelinho, além
dos R$ 150 mil recolhidos na Milano (empresa de alimentação),
apresentou ao colaborador uma anotação indicando que teria “arrecadado
quase R$ 900 mil junto às demais empresas, mas teria utilizado a quantia
para pagamento de despesas do governador Pezão”.
Lambança no TCE
Em
outra delação, homologada pelo ministro Felix Fischer, do STJ, o
doleiro Álvaro Novis, acusado de fazer pagamentos para o Setor de
Operações Estruturadas da Odebrecht, revelou que entregou dinheiro em
espécie, em mais de uma oportunidade, para um operador indicado por
Pezão, Luiz Carlos Vidal Barroso, o Luizinho, conforme revelou O GLOBO
em abril do ano passado. Foi a primeira vez que um delator afirmou ter
entregue dinheiro em mãos a um emissário determinado pelo governador.
A
propina, segundo o delator, era paga pela Federação das Empresas de
Transportes de Passageiros do Estado (Fetranspor). Novis, que chegou a
ser preso pela Operação Eficiência, desdobramento da Calicute (versão da
Lava-Jato no Rio), disse que Luizinho usava o próprio carro para
recolher o dinheiro, entregue em 2014, ano em que Pezão disputou e
venceu a eleição estadual. Após acordo de colaboração premiada, ele
cumpre medidas restritivas impostas pela Justiça, saindo de casa para
trabalhar durante o dia e se recolhendo à noite, desde junho de 2017.
Amigo
de Pezão há mais de 30 anos, Luizinho é um assessor de confiança que
cumpre tarefas sem fazer perguntas e evita comentar detalhes do seu
trabalho. Em Piraí, é chamado de Luizinho Caveira, apelido que ganhou na
juventude, por ter na época um rosto magro e ossudo. Até hoje,
frequenta regularmente o município, onde gosta de falar de política na
roda com os amigos. Tem ido sempre, ultimamente, para acompanhar as
obras de uma residência de alto luxo que está acabando de construir nas
proximidades do Country Club de Piraí.
MAIS FETRANSPOR
Em
novembro do ano passado, o operador Edimar Moreira Dantas afirmou, em
delação premiada, que a Fetranspor pagou R$ 4,8 milhões em propina ao
governador do Rio. Os repasses, segundo o depoimento, aconteceram entre
julho de 2014 e maio de 2015. Pezão assumiu o governo em abril de 2014,
depois da renúncia de Cabral (PMDB).
As referências aos pagamentos
aparecem em planilhas entregues por Dantas e pelo doleiro Álvaro José
Novis como provas de corroboração das colaborações firmadas com o
Ministério Público Federal (MPF).
As anotações trazem os codinomes
“Pé Grande” e “Grande”. Novis e Dantas trabalhavam na corretora Hoya,
que teve a sua estrutura utilizada por funcionários para a entrega de
dinheiro do esquema de corrupção de Cabral, e se tornaram colaboradores
após o avanço das investigações. As informações sobre a acusação de
propina a Pezão foram divulgadas pela TV Globo e confirmadas pelo GLOBO.
Em nota, a defesa de Novis afirma que a Hoya “nunca foi usada para
lavar dinheiro de Sérgio Cabral e nem operava nada ilegal. Tudo que
Álvaro fez como operador financeiro era paralelo a Hoya”.
Segundo
o delator, foram cinco repasses, com valores que variavam entre R$ 350
mil e R$ 3 milhões. Do montante, de acordo com o depoimento, R$ 4
milhões foram pagos em julho e agosto de 2014, quando Pezão disputava a
eleição. O restante, R$ 850 mil, foi repassado em abril e maio de 2015. O
delator afirmou que as ordens de pagamento partiam do empresário José
Carlos Lavouras, então presidente do Conselho de Administração da
Fetranspor.
O dinheiro teria sido entregue a Luizinho, apontado
como operador de Pezão. Luizinho é homem de confiança do governador e
funcionário do governo do estado desde 2013, com um salário de R$ 13
mil. Anteriormente, passou pela Prefeitura de Piraí, onde foi secretário
municipal de Transporte e Trânsito.
A Polícia Federal apontou em
relatório indícios de que o governador do Rio também recebeu propina do
esquema de corrupção no Rio. O nome dele consta em anotações manuscritas
encontradas durante busca e apreensão na casa de Luiz Carlos Bezerra,
apontado como um dos operadores de Cabral.
Na primeira delas, a PF
fala sobre uma possível referência à propina de R$ 140 mil paga a Pezão
no dia 20. Nesse manuscrito, aparece o número “140.000” e, ao lado, a
palavra “Pé”. Não há, no entanto, dados sobre o ano ou o mês. Em outro
apontamento, cujo título é “Saída 2/14”, Bezerra escreveu “p/ sair” e
abaixo aparecem alguns valores e nomes, entre eles o número “140.000” ao
lado da palavra “Pezão?”.
Uma outra anotação, com o título de
“Saída 1/14”, aparece novamente o número “140.000” ao lado da palavra
“Pé”. Essa mesma referência consta em outro bilhete, com o título
“janeiro”, e em outro em que há ao lado do valor o apontamento “20/1”.
Em uma das anotações apreendidas pela PF, aparece um valor diferente: R$
50 mil, ao lado do nome de Pezão.
Cadê o meu dinheiro?
Além das
três delações que o STJ e o MPF se basearam para deflagrar a operação
que prendeu Pezão nesta quinta-feira, o governador foi acusado também em
outras frentes de investigação da Lava-Jato. Ex-presidente da
construtora Odebrecht, Benedicto Júnior afirmou, em delação premiada,
que a empresa gastou em torno de R$ 120 milhões com o ex-governador do
Rio, Sérgio Cabral (PMDB) e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB),
entre caixa dois para campanhas de ambos e propinas pagas a Cabral. Em
troca do suporte financeiro, segundo o depoimento, a companhia
conquistou os contratos do PAC das Favelas no Complexo do Alemão, Zona
Norte do Rio, o Arco Metropolitano, a Linha 4 do metrô, a reforma do
Maracanã e outras obras classificadas como “projetos menores”.
Benedicto
Júnior afirmou ainda que a empresa pagou R$ 20,3 milhões na campanha de
Pezão em 2014, via caixa dois — a prestação de contas apresentada pelo
governador ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não traz doações da
Odebrecht. No depoimento, o ex-presidente da construtora identificou
repasses para a campanha de Pezão relacionados ao contrato da Linha 4.
Segundo o delator, os pagamentos aconteceram a pedido de Cabral. “O
Pezão não sentou com a Odebrecht para pedir dinheiro”, disse Benedicto
Júnior.
Em outra delação, homologada pelo STF, o marqueteiro
Renato Pereira contou que a empreiteira Andrade Gutierrez usou duas das
principais agências de publicidade brasileiras — Propeg e NBS — para
repassar R$ 5 milhões à campanha do governador Luiz Fernando Pezão . Os
valores não foram declarados à Justiça Eleitoral.
Em
seu depoimento, Pereira afirmou que o próprio Pezão o chamou, em
setembro de 2014, a seu apartamento, em Laranjeiras, para informá-lo que
havia conversado com Sérgio Andrade, um dos donos da Andrade Gutierrez.
Na ocasião, o então candidato disse a ele que a empreiteira faria um
repasse de R$ 10 milhões à campanha, valor que acabaria sendo reduzido,
nos dias seguintes, para R$ 5 milhões, segundo o relato.
A operacionalização do pagamento, como revelou O GLOBO,
coube a Alberto Quintaes, então diretor comercial da Andrade Gutierrez e
delator da Lava-Jato. Pereira contou em sua delação que o marketing da
campanha de Pezão custou R$ 40 milhões, quase o dobro do que foi
oficialmente declarado (R$ 21,8 milhões).
De acordo com o delator,
Quintaes se reuniu com um de seus sócios, Eduardo Villela, para acertar
detalhes do pagamento à campanha de Pezão via agências de publicidade
que prestavam serviços a empresas ligadas à empreiteira. O marqueteiro
diz ter recebido R$ 3 milhões por meio da agência NBS, que detinha desde
2002 a conta de publicidade da operadora Oi, controlada por grupo do
qual fazia parte a Andrade Gutierrez.
Outra denúncia contra Pezão,
também no âmbito da Lava-Jato, foi arquivada pelo STJ. O inquérito foi
mantido contra outros dois investigados: o ex-governador Sérgio Cabral e
o ex-secretário da Casa Civil do Rio Regis Fichtner. Entretanto, como
os dois não possuem foro privilegiado, o processo foi enviado para a 13ª
Vara Federal de Curitiba, do juiz Sergio Moro, por envolver supostos
desvios na Petrobras.
A investigação, aberta em 2015, se baseou na
delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, e apura crimes
contra a administração pública e de lavagem de dinheiro. Ele afirmou que
solicitou vantagens indevidas em 2010 de empresas com contratos com a
estatal. O dinheiro iria para a campanha de reeleição do então
governador Sérgio Cabral e de seu vice, Pezão.
O relator do
inquérito, Luis Felipe Salomão, afirmou que “não há razão para o
prosseguimento” da investigação contra o governador, já que a própria
PGR sugeriu o arquivamento.
Salomão ressaltou que não foram
encontradas provas mesmo com a realização de diversas diligências, como
quebra de sigilo de dados telefônicos, perícias em mídias e arquivos de
dados apreendidos, análise de documentos e processos administrativo, e
realização de depoimentos em acordos de delação premiada.
Herança de Cabral
Outro
episódio polêmico da passagem de Pezão pelo Guanabara foi a indicação
de um conselheiro para a vaga do ex-presidente do tribunal Jonas Lopes
de Carvalho no TCE. O MPF chegou a pedir ao desembargador federal Abel
Gomes, relator do processo da Operação Cadeia Velha no Tribunal Regional
Federal da 2ª Região (TRF-2), que enviasse algumas partes da ação ao
STJ para investigar se Pezão (PMDB) cometeu crime no episódio da
nomeação de Edson Albertassi, além do pagamento de propinas a deputados
estaduais no Rio.
Em depoimentos ao MPF, Andrea Siqueira Martins,
Marcelo Verdini Maia e Rodrigo Melo do Nascimento, conselheiros
substitutos que compuseram lista tríplice de candidatos ao TCE-RJ,
atribuíram ao deputado preso Edson Albertassi (PMDB) o documento
declarando que eles desistiam da vaga aberta pela aposentadoria de Jonas
Lopes Júnior, cujo preenchimento cabe a governadores. Até ser preso em
novembro, Albertassi ocupava a liderança do governo Pezão na Alerj. Após
a desistência dos conselheiros substitutos, o deputado foi indicado ao
TCE-RJ, gerando polêmica. A indicação levou o MPF a adiantar a Operação
Cadeia Velha, que resultou na prisão de Albertassi e dos deputados Jorge
Picciani e Paulo Melo, ambos do PMDB.
O MPF alega que os
depoimentos de Martins, Verdini e Melo devem ser analisados pela
Procuradoria-Geral da República (PGR), que atua junto aos tribunais
superiores em inquéritos e ações relativas a autoridades com
prerrogativa de foro nessas instâncias. Como Pezão é governador, seu
foro é no STJ. Verdini e Melo acrescentaram que nunca desistiram da
vaga, mas se viram obrigados a assinar o documento por não terem como
alcançar o cargo sem o apoio político da Alerj.
Trechos de
interceptações telefônicas, com autorização judicial, obtidas pelo RJ2
da TV GLOBO, mostraram uma conversa entre Albrtassi e o governador
Pezão. Eles falam sobre como podem manter a indicação do então líder do
MDB para uma vaga no TCE que tinha sido questionada na Justiça. Essa possível nomeação atrapalharia a investigação, já que Albertassi ganharia foro no STJ.
A seguir, a interceptação telefônica:
Pezão: Fala Albertassi.
Albertassi: E aí?
Pezão: O que você cancelou aí pô?!
Albertassi:
Não, olha só, você viu que a desembargadora deu 72h para as respostas.
Enfim, a preocupação aqui é de ficar como uma afronta entendeu.
Pezão: Ahn, entendi…
Albertassi: E aí seguir uma linha de mais prudência mesmo… Tanto que a nota dele é em respeito ao poder judiciário, entendeu?
Pezão: Tá. Mas essa comunicação vai chegar pra gente?
Albertassi: Vai, eu acho que sim.
Pezão: Tribunal vai mandar?
Albertassi: Vai chegar pra você, tem que orientar o Leo, tá?
Pezão: Quem que é essa mulher?
Albertassi: Maria Inês Galvão, eu não conheço.
Pezão: Também não.
Albertassi:
Mas parece que ela vai julgar com a técnica, se julgar com a técnica,
sem observações de mídia e tal eu acho que ela vai julgar a nosso favor,
porque tecnicamente a AUDICON… o que eles colocaram não tem
fundamento nenhum.
Pezão: Tá bom fica tranquilo.
Albertassi: Prepara o Leo ai porque vai chegar pra vocês.
Pezão: Fica calmo.
Albertassi: Valeu.
Poder atrás das grades
Desde abril de 2014 à frente do governo do Rio, após o então governador Sérgio Cabral renunciarao cargo, Luiz Fernando Pezão,preso nesta quinta-feira em um desdobramento da operação Lava-Jato , foi reeleito naquele mesmo ano . Na ocasião ele agradeceu ao próprio Cabral, seu padrinho político e responsável por sua ascensão política:
– Ele apostou em mim – disse em seu discurso. De seu ‘padrinho político’, no entanto, Pezão herdou uma das piores crises financeiras do estado , resultado dos anos que Cabral – atualmente preso e condenado a mais de 100 anos de prisão pela Justiça – comandou uma quadrilha que desviou R$ 224 milhões dos cofres públicos. Após anos difíceis, em que se viu obrigado a assinar um acordo de recuperação fiscal com a União e, no fim, ainda entregar o comando da segurança do estado aos militares , Pezão termina da pior forma possível: preso.
Ele
começou sua carreira política nos anos 1980, em sua cidade Natal,
Piraí. Passou pela Câmara do município e depois foi prefeito por duas
legislaturas. Em 2005, ele foi nomeado subsecretário estadual de Governo
e de Coordenação da então governadora Rosinha Matheus. Mas foi em 2007,
quando aceitou ser vice-governador de Cabral, que Pezão ganhou
notoriedade.
Além de vice-governador, ele também ocupou a secretaria de Obras, e teve um papel importante à frente das buscas por sobreviventes e da reconstrução da Região Serrana , atingida por uma chuva que provocou deslizamentos e um saldo de quase mil mortos em janeiro de 2011.
Como governador, no entanto, passou por momentos complicados. Em 2015, após três meses após assumir seu segundo mandato, foi citado na delação premiada de Paulo Roberto Costa , ex-diretor da Petrobras, no processo da Lava-Jato. Ele foi acusado de ter recebido, junto com Cabral, dinheiro de Caixa 2. O processo chegou a ser arquivado, mas ele voltou a ser citado por Caixa 2 em outras ocasiões, fato que sempre negou .
Em 2017, ele teve seu mandato cassado pelo Tribunal Região Eleitoral do Rio (TRE-RJ) junto com seu vice, Francisco Dornelles, por doação irregular de campanha. A decisão, no entanto, foi anulada em agosto deste ano
, depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acolheu o argumento da
defesa de Pezão, que disse que a decisão não foi válida já que nem
todos os membros da corte do TRE-RJ participaram do julgamento, o que
teria ferido do código eleitoral.
Problemas de saúde
Pezão enfrentou graves problemas de saúde durante seu mandato. Em 2016, Pezão foi diagnosticado com linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer linfático . Ele ficou sete meses de licença médica, mas voltou antes do recomendado pelos médicos justamente
para o início da negociação da recuperação do estado. Isso porque
durante o período em que esteve fora, o então governador em exercício
Francisco Dornelles decretou o estado de calamidade pública do Rio . Em maio de 2017, Pezão conseguiu ampliar o estado de calamidade até o fim deste ano.
‘Pé Grande’
como o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, outros três governadores
foram presos no exercício do mandato: em 2016, o ex-governador do
Tocantins Marcelo Miranda (MDB), em 2010, o ex-governador do Distrito
Federal José Roberto Arruda (DEM), e, em 1993, o ex-governador da
Paraíba, Ronaldo Cunha Lima (MDB).
ex-governador do Tocantins Marcelo Miranda foi preso por indícios de
envolvimento em esquema criminoso que teria desviado pelo menos R$ 200
milhões dos cofres estaduais para empresas de fachada de familiares e
pessoas de sua confiança.
foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ele foi condenado a mais
de 13 anos de prisão por dispensa indevida de licitação e apropriação de
verbas públicas, por decisão do juiz João Paulo Abe, da Justiça Federal
do Tocantins. A defesa do ex-governador afirma que vai recorrer. Em
2017, Miranda foi condenado a devolver R$ 25 milhões aos cofres
públicos, pelos mesmos crimes, mas na esfera civil.
de 2010, a polícia federal prendeu o então governador do Distrito
Federal, José Roberto Arruda, acusado de tentar subornar um jornalista
para mentir em uma operação da polícia federal que investigava o
mensalão do DEM. O esquema envolvia a compra de apoio na Câmara
Legislativa do DF. Foi a primeira prisão por corrupção de um governador
no exercício do cargo. O então procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, pediu abertura de ação penal contra o governador por corrupção
de testemunha e falsificação ideológica de documento privado.
24 de setembro último, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal
condenou Arruda a 7 anos, 6 meses e 29 dias de reclusão em regime
inicial fechado e pagamento de multa por decisão da 7ª Vara Criminal de
Brasília. Essa é a segunda condenação de José Roberto Arruda: ele já
tinha sido condenado a 3 anos, 10 meses e 20 dias pelo crime de
falsidade ideológica. O ex-governador do DF responde a outras onze ações
criminais que tramitam na 7ª Vara Criminal de Brasília.
novembro de 1993, o então governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima
(PMDB), morto em 2012, foi preso por policiais federais no aeroporto de
Campina Grande quando tentava fugir do estado, após disparar três tiros
contra o ex-governador e adversário político Tarcísio Burity. Dos três
tiros, dois atingiram Burity, que almoçava em um restaurante quando foi
alvejado: um no maxiliar e outro no peito. Levado às pressas para o
Hospital Samaritano, em Botafogo, foi submetido a uma cirurgia de
emergência e sobreviveu.
ocasião, ele disse que atirou no desafeto para defender a própria honra
e do filho, Cássio Cunha Lima, então à frente da Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que estaria sendo vítima de uma
campanha difamatória e de ameaças de morte. Fonte: o Globo.
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