Uma rara cena, no sudeste do Pará, de resgate de uma alma quase perdida em um país dominado pela violência
Na madrugada fria desta quinta-feira, 20, a ponte sobre o Rio Itacaiúnas, em Marabá, no sudeste do Pará, foi palco de um milagre que não se explica apenas pela ação humana, mas também pela fé que move montanhas — e corações. Policiais militares do 4º Batalhão, homens calejados por um cotidiano de enfrentamentos com bandidos cruéis, que muitas vezes miram suas vidas sem hesitar, deixaram de lado as armas e as sirenes por alguns instantes para segurar algo muito mais precioso: a alma de um homem à beira do abismo. Ele, em desespero, estava prestes a pular nas águas escuras do rio, mas encontrou, naqueles soldados de farda, anjos enviados por Deus para lhe estender a mão.
A cena começou na BR-230, a Transamazônica, quando o rádio das viaturas crepitou com um chamado urgente: um homem, perdido em sua própria dor, clamava por ajuda enquanto ameaçava acabar com tudo. Não era um criminoso a ser detido, mas uma vida a ser resgatada.
Ao chegarem, os PMs o encontraram sobre a mureta da ponte, o corpo tremendo, os olhos cheios de lágrimas que refletiam o peso de um fardo que ninguém ali conhecia por inteiro. E o que fizeram esses guerreiros, tão acostumados a lutar contra a violência implacável das ruas? Não gritaram ordens, não usaram força. Dialogaram. Consolaram. E, num gesto que arrancaria lágrimas de qualquer um com um pingo de humanidade, atenderam ao pedido daquele homem quebrado: oraram com ele.
Luz na escuridão
Num vídeo que já circula e emociona quem o assiste, os policiais aparecem como figuras de luz em meio à escuridão da madrugada. Com calma, aproximam-se, falam com ternura, convidam-no a descer do perigo. E então, num momento que transcende o protocolo, impõem as mãos sobre ele, elevando a Deus uma prece sincera.
O homem, de joelhos no asfalto, chora ainda mais — mas agora, talvez, com um fio de esperança. É impossível não se arrepiar ao imaginar a força daquele instante: homens que enfrentam a morte diariamente, que carregam nos ombros o dever de proteger uma sociedade muitas vezes ingrata, mostrando que a verdadeira bravura está em salvar, não apenas em combater.
Depois de acolhê-lo, os PMs o levaram para longe do risco e garantiram que recebesse cuidados no Hospital Municipal de Marabá e, em seguida, no AMENT, o ambulatório de saúde mental da cidade.
Mas o que fica dessa história não é só o final feliz de uma vida preservada. É o testemunho de que, mesmo em meio ao caos, à violência e à exaustão de um trabalho tão duro, esses policiais carregam no peito uma fé inabalável e uma humanidade que não se apaga. Eles não salvaram apenas um homem; salvaram, por um momento, a nossa crença de que ainda há bondade no mundo.
Condecoração?
Que Deus abençoe esses heróis de farda, que diariamente enfrentam o pior da humanidade e, ainda assim, encontram forças para oferecer o melhor de si. E que o comando da Polícia Militar do Pará reconheça: essa guarnição merece mais que aplausos — merece uma condecoração por mostrar que o verdadeiro poder está no amor e na fé.
VEJA AS IMAGENS