O Ver-o-Fato comunica a seus leitores a morte física do escritor, cineasta e jornalista paraense, Vicente Franz Cecim, que até fevereiro passado era nosso colaborador, escrevendo semanalmente a coluna Vida.
Ele fazia tratamento contra um câncer na tireoide e contraiu a Covid-19, contra a qual vinha lutando há mais de uma semana. Sua passagem para outro plano foi registrada pela filha, Virgínia, às 13h30 desta segunda-feira.
Cecim era acima de tudo um humanista, além de escritor brilhante, muito à frente de seu tempo, e sua partida para outro plano deixa um imenso vazio na cultura brasileira. Com vasta obra literária, ele enveredou por uma Amazônia singular, com seus personagens e enredos escritos com tinta invisível, abolindo as fronteiras entre prosa e poesia.
No começo deste ano, após muita luta com editoras brasileiras e estrangeiras, ele conseguiu lançar, mesmo sem dinheiro, a obra bilíngue “Viagem a Andara O Livro Invisivel”, a síntese, se é que assim se pode chamar um livro de 1.238 páginas, de sua definitiva incursão sobre a “floresta de palavras”.
“Depois de Guimarães Rosa, o paraense Vicente Cecim é o responsável por um dos mergulhos mais fantásticos e essenciais que a literatura brasileira já realizou sobre o sentido do homem.” O comentário foi de Antonio Hohlfeldt, do Correio do Povo, Rio Grande do Sul, exaltando a obra de Cecim.
Outro críticos literários também destacaram o lançamento. ” Um livro que nos recoloca na órbita de Mallarmé, Michaux, Artaud, Llansol, Edmond Jabès e outros ‘místicos’ ou gnósticos da literatura. Disjunção das vozes. Não deixe de as ouvir.” Escreveu António Cabrita, do jornal Expresso, de Lisboa, Portugal
“Os textos de Cecim fundem profano e sagrado. Após ler Vicente Cecim a transformação interna do leitor é inevitável.” (Oscar D’Ambrosio, Jornal da Tarde). “É um livro total, na sua fusão de poesia, prosa, viagem utópica, divagação onírica, pensamento filosófico, reinvenção da palavra e reinvenção do mundo. Uma obra assim pode transformar a vida de quem a lê: estamos perante um livro sagrado. Foi escrito por um visionário.” (Regina Louro, Público, Lisboa)
Como todos os gênios, Cecim era um quase desconhecido pela grande maioria dos paraenses, mas isso pouco importa. Felizes devem se sentir aqueles que tiveram o prazer de com ele bater longos e agradáveis papos, por horas intermináveis, desfrutando de sua vasta cultura e visão não dogmática de mundo.
A dimensão que ele alcançou com seus escritos literários ultrapassou as fronteiras nacionais. Atuou ainda nos jornais “A Província do Pará” e “O Liberal”, onde trabalhou como repórter e articulista, além de dirigir, nos anos 70, filmes de curta-metragem sobre personagens e situações do cotidiano. Cecim, em tudo que fez, foi ousado, inovador e inquieto, superandos seus próprios limites.
Abraçou o mundo e, ao mesmo tempo, esteve fora dele. Uma alma livre. Literalmente livre. Que agora, enfim, alcançou a tão almejada liberdade.
Que sejas feliz e iluminado nessa nova Viagem a Andara, Cecim.
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