A desfiliação internacional da Confederação Brasileira da Skate (CBSk), que impede a entidade de representar o País nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, foi contestada por atletas nesta sexta-feira. Alguns dos principais skatistas do Brasil se manifestaram em apoio à CBSk, como já vinham fazendo anteriormente, quando a entidade brigava contra uma fusão com a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) imposta pela World Skate, que passou a exigir apenas uma representação de cada país em seu quadro. A recusa de se juntar à entidade de hóquei e patins foi um dos motivos da desfiliação, ápice da briga política entre as entidades.
Gabi Mazetto, que não foi aos Jogos de Tóquio, em 2021, porque teve de abandonar a corrida olímpica ao engravidar da filha Liz, foi uma das primeiras a se pronunciar. “Essa decisão injusta e não democrática abala meu preparo psicológico, técnico e físico para os Jogos Olímpicos. Durante a gravidez e hoje durante este processo da lesão, a equipe da CBSK sempre esteve presente, poderiam ter desacreditado em mim, mas eles me apoiaram e deram todo o suporte preciso. Sinto uma tristeza profunda ao ter que representar uma federação que nunca fez algo pelo skate, eu me mantenho leal ao skateboarding”, escreveu no Instagram.
Medalhista de prata olímpico no park, Pedro Barros também defendeu a CBSk. Em nota, citou a entidade como responsável por tirar o skate da condição de “modalidade negligenciada e marginalizada” no País e criticou a exigência de fusão com a CBHP, dizendo que seria como o basquete começar a ser representado pela federação de vôlei.
“Existe uma cultura ligada a essas duas modalidades, e não seria justo com a comunidade do basquete, ou com a comunidade do vôlei, tratá-las da mesma maneira. Do mesmo jeito que não é justo fazer isso com o skate, ou qualquer outra modalidade que se sinta invadida ou não representada. No meu ponto de vista, a forma como isso tudo vem sendo conduzido é extremamente confuso, falta diálogo e não me parece nem razoável e nem democrático”, escreveu.
Giovanni Vianna, atual campeão da Liga Mundial de Skate, engrossou a lista de apoio à confederação. “Devido ao últimos acontecimentos, estou aqui para falar que estou junto com a CBSk e ao skateboard. A CBSk vem fazendo um ótimo trabalho, não só olímpico, mas no skate brasileiro em geral. Também é a entidade que eu me sinto representado, se não for o skateboard, não tem sentido tudo isso”, escreveu.
O CASO
A World Skate (WS) retirou a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) do seu quadro de filiados nesta quarta-feira. A decisão também colocou o Comitê Olímpico do Brasil (COB) como gestor direto do skate no País, até a realização dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, e deu sinal verde para a Confederação Brasileira de Hóquei e Patins (CBHP) se tornar a nova representantes dos skatistas, mediante o cumprimento de uma lista de exigências.
Existia um impasse porque a WS exigiu que cada nação passasse a ter apenas uma representação em seu quadro, e o Brasil tinha duas: a CBSk e a CBHP. A instituição internacional chegou a propor uma fusão às duas entidades, mas nenhum acordo foi atingido. A CBSk vinha desafiando a determinação, pois vê a CBHP tentando “se apropriar do skate”, como foi dito em carta aberta divulgada há uma semana. Os principais nomes do skate brasileiro da atualidade, como Rayssa Leal, Pedro Barros e Giovanni Vianna, além de veteranos do calibre de Bob Burnquist e Sandro Dias, vinham se manifestado publicamente contra a fusão, pedindo que “o skate continue nas mãos dos skatistas”.
A WS critica a CBSk por ter “recusado qualquer diálogo com a CBHP” e a de ter realizado uma “campanha difamatória na mídia contra a World Skate e suas regras”. O texto também destaca a falta de “intenção de se associação como a CBHP e demais esportes regidos pela World Skate” e diz que a proposta apresentada pela CBSk não está de acordo com as determinações da World Skate, uma vez que previa manter duas entidades separadas sem criar uma organização guarda-chuva”.
A CBHP, por sua vez, aceitou se transformar na “organização guarda-chuva”, que, assim como a World Skate faz a nível internacional, representará diferentes categorias do skate e dos esportes sobre patins. Agora, a entidade brasileira de patins e hóquei terá até abril estabelecer uma nova federação chamada “Skate Brasil”. Para ser aprovada, terá de provar à WS as condições necessárias para a criação do novo órgão, o que passa por conceder autonomia financeira e técnica a cada esporte e cumprir “todas as Cartas Mundiais de Skate e as Normas Olímpicas Nacionais relevantes”.
Ou seja, Neste modelo, cada uma das 13 modalidades que serão representados pela nova entidade, incluindo os olímpicos skate park e skate street, terá sua própria organização dentro do “guarda-chuva”. Os esportes originalmente representados pela CBHP, dentro do universo do patins e do hóquei, não fazem parte do programa da Olimpíada. A falta de experiência da entidade era um dos pontos apontados pela CBSK para não querer a fusão.
Enquanto isso, fica a cargo do COB gerir a preparação para dos skatistas para os Jogos de Paris-2024, assim como a participação na competição. Está prevista uma reunião com os atletas na próxima semana, e Tatiana Lobo, que já ocupou cargos diretivos na CBSk, foi escolhida como gestora da força-tarefa do Comitê Olímpico.(AE)