Por Larissa Godoy
Novo drama da Apple TV+, Uma Questão de Química é aquela série engraçadinha que você está procurando para um momento de descontração. Adaptação do livro homônimo (de Bonnie Garmus, Editora Arqueiro), a produção é ambientada entre os anos 1950 e 1960, e mostra a trajetória de Elizabeth Zott, vivida pela vencedora do Oscar Brie Larson. Ela é uma jovem cientista cujo sonho de prosseguir na Academia foi interrompido.
Sabotada pelos colegas de profissão, demitida quando estava grávida, mãe solo e em luto pela morte do seu companheiro, a vida de Elizabeth toma um rumo inesperado. Zott recebe o convite para ser apresentadora de um programa culinário na TV. E dá certo.
Com um jargão feminista – “crianças, ponham a mesa. Sua mãe precisa de um momento para ela mesma”, e uma abordagem diferente no preparo dos pratos, tendo a ciência como fio condutor e alimento para discussões fora da cozinha, Elizabeth Zott seria uma espécie de Rita Lobo dos anos 1950. Uma defensora da alimentação saudável, que se opõe aos alimentos ultraprocessados, temperando suas posições com opiniões incisivas.
Mas o trunfo do feminismo, como tempero da série, não passa disso. Nesse quesito, Uma Questão de Química não traz novidades nem aprofunda as discussões.
Já na questão racial, a chance perdida de maior destaque é para o arco de Harriet Sloane. Interpretada por Aja Naomi King (Como Defender um Assassino), a personagem é modificada para a adaptação.
Livro
No livro, Harriet é uma vizinha de meia-idade, presumidamente branca. Para a série, Aja é uma jovem preta e ativista racial que se aproxima de Elizabeth e é com ela que Zott começa a compreender algumas questões sobre si mesma. Mas, como ironia da premissa de que “a arte imita a vida, ou a vida imita arte”, o feminismo branco exclui a mulher preta da narrativa. E a questão racial transita à margem da história central.
A série também explora o machismo e o patriarcado quando examina as dinâmicas de gênero no ambiente de trabalho. Mas, além de não trazer nada de novo para a narrativa, parece reforçar um ideal de que, para ser feminista, não é possível formar uma família ou ter interesses fora da Academia.
No geral, a história de Elizabeth Zott diverte – muito disso se deve à personagem principal – e é contada de um jeito até saboroso, porém meio apressado, em que a falta de um toque original acaba até por lembrar… fast-food.
Os três primeiros episódios de Uma Questão de Química já estão disponíveis na Apple TV+. Novos episódios são lançados às sextas
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.